28 Uma vida nova

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Anthony Moretti

A noite cai, e a grama úmida se rende sob a pressão de nossos passos. Vinte homens, esculpidos ao longo de quase um ano pelo meu treinamento implacável, estão alinhados no campo de treinamento ao ar livre. Nesse ambiente, eles enfrentam o vento, a chuva e, por vezes, o frio - uma preparação bruta para as realidades das ruas, onde a resistência é medida pela força e pela sagacidade.

Cada um desses homens carrega consigo a influência do legado deixado por meu pai, um homem que passou anos nesta mesma posição, treinando e instruindo. Aqui, no Japão, eu sigo seus passos, forjando guerreiros a partir da disciplina, servindo aos Yakuza - uma herança da minha mãe, a rainha deles. Agora, esses vinte estão prontos para transcender as expectativas e se tornarem os melhores soldados que os Yakuza já viram. Eu não desisti, e estou decidido a criar os melhores.

— Escutem bem, rapazes! — minha voz corta o silêncio, fazendo com que eles interrompam os treinos para me encarar. — Nas ruas, cada movimento é crucial. Antecipação e agilidade são a diferença entre a vida e a morte. Começaremos com esquivas — explico com calma, enfatizando que a arte de evitar ser atingido é a chave. 

Não há espaço para testemunhas; se alguém se fere, a consequência é rápida e definitiva. Eles não podem se dar ao luxo de se ferir.

Com as instruções dadas, o campo ressoa com o som sincronizado de duplas treinando. Socos cortam o ar, esquivas graciosas desviam de golpes imaginários, e chutes fluem com a habilidade que eu instilei neles. Sinto-me orgulhoso.

— Observem cada detalhe, como se a vida dependesse disso. Porque, acreditem, ela depende. — Minha voz corta o ar enquanto me movo entre eles, olhando nos olhos determinados que me encaram. 

Mantenho firme minha posição de comando aqui; Augusto, líder por nomeação, mas como herdeiro, não posso me permitir fraquejar. Meus pais foram pilares de força, e é essa fortaleza que preciso encarnar.

— Aqui, não estamos apenas lutando. É um jogo mortal, onde cada movimento errado é sentença. Olhos abertos para os detalhes, para os padrões de movimento. Isso é o que separa os vivos dos mortos.

Enquanto minhas palavras reverberam, desloco-me entre eles. 

— Observem. A postura, a firmeza nos pés. Um golpe bem-executado pode ser a única coisa entre vocês e a morte — continuo, me movendo com a graça de um predador. 

Paro diante de um deles, desfiro um soco controlado; ele desvia, e um sorriso orgulhoso brota nos meus lábios. Eles estão quase prontos para se tornarem as armas afiadas que necessito. Dou-me um momento para respirar, após um treino exaustivo de 12 horas, sem intervalo nem para comer ou beber água. Essa dedicação vem da decisão de mudar meu estilo de vida; não fumo mais, bebo socialmente. Quero ser um líder que inspire pelo exemplo.

— Encerrado por hoje. Bons trabalhos lá fora. — Minha voz, dura como aço, ressoa pela área de treinamento, marcando o fim da sessão.

Os homens se dispersam, e eu permaneço, absorvendo cada movimento com olhos críticos. Não é apenas supervisão; é uma apreciação minuciosa de cada detalhe, um passo mais próximo da perfeição que busco incansavelmente.

Com um gesto casual, confirmo que todos já deixaram a área de treinamento. Navego pelos corredores desertos do complexo, dirigindo-me à minha modesta ala. A chave gira na fechadura, e entro no pequeno espaço, acendendo as luzes que revelam paredes brancas e uma cozinha integrada à sala. Longe do luxo de meu apartamento em Nova York, este é meu reino como treinador. 

Na sequência, dirijo-me ao quarto e descarto a calça de treino e a regata preta, impregnadas de suor, no cesto de roupas sujas. Meu corpo nu exibe os sinais visíveis da batalha: músculos tensos, doloridos, mas satisfatoriamente exaustos. Graças a essa rotina, os cigarros e o uísque tornaram-se dispensáveis.

ILEGAISOnde histórias criam vida. Descubra agora