54 - Um reflexo rápido

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Ouço pequenos ruídos de passos, abro os olhos, percebendo a claridade das luzes do escritório, e desperto abruptamente com um solavanco. Questiono-me se já é dia. Será que passei a noite toda adormecida  em baixo desta mesa? Provavelmente sim, dado meu estado exausto. 

Pego o celular e verifico o horário: 09h da manhã. Droga, droga, droga, dormi demais. Meu coração acelera, o medo me envolve, e respiro fundo. 

Como um animal ameaçado saio rapidamente de baixo da mesa, como se minha vida dependesse disso, já agarrando a arma em minha cintura. Salto e a aponto na direção de quem adentrou a sala, uma determinação feroz a me impedir de ficar vulnerável. 

Mesmo reconhecendo Vittório, mantenho a arma firmemente em punho, mirando diretamente em sua cabeça. Como se, por um momento, não houvesse outra opção, o medo e a adrenalina dominam cada fibra do meu corpo. Ele responde da mesma forma, e nossos olhares se cruzam. No seu olhar, percebo o reconhecimento, como se ele compreendesse a sensação que está me consumindo.

Após alguns minutos, Vittório suspira, baixa a arma e a coloca habilmente na cintura, escondida sob o paletó preto. Um sorriso surge em seus lábios enquanto ele me examina de cima a baixo, como alguém que avalia algo deteriorado antes de decidir descartá-lo. 

— Me assustou. — ele murmura, desviando brevemente o olhar antes de voltar a encarar-me.

Meu amigo solta um leve sorriso, algo incomum para o seu perfil usualmente sério, e observa-me de cima a baixo. A irritação cresce diante de sua atitude, e involuntariamente contorço o rosto, fazendo uma careta, ao mesmo tempo em que reviro os olhos.

— O que foi? — questiono, abaixando também minha arma.

— Gosto de ver que sabe se defender. Torna minha vida mais fácil. — comenta, aproximando-se e sentando-se diante da minha mesa. 

Seu agradável aroma me envolve enquanto respiro fundo e me acomodo na cadeira, observando-o enquanto sinto o conforto do assento.

— Nunca pensei que diria isso, considerando o quanto você é uma mulher atraente, Isabelly... — diz, sem desfazer o sorriso. — Mas você está horrível.

Encaro-o, engolindo em seco. Provavelmente estou mesmo.

— Eu trabalhei a noite toda. — minto, tentando ajeitar os cabelos. 

O homem atraente que me trata como sua prioridade se levanta com calma e elegância, dirige-se ao bar, pega todas as minhas garrafas de Macallan 1926 nos braços e me lança uma piscadela.

— Não vai se matar no meu turno. Sem bebidas para você, Isabelly Moretti! — anuncia, dirigindo-se à saída da sala com calma, como se esperasse ser impedido. 

Ao chegar à porta, ele para, vira-se e me encara com curiosidade, como se sua atitude fosse um teste. 

— Pode me demitir, senhorita, mas não vou deixar acabar com sua vida. Um conselho de alguém que viveu muito mais do que você: vá para casa e repense sua vida.

Com essas palavras, ele deixa o escritório. Meu estômago ronca, implorando por comida. Sinceramente, minha última refeição foram três copos de uísque. Perdi mais de 5kg, e minhas roupas agora estão bem folgadas.

Decido seguir o conselho de Vittório e, com passos vacilantes, deixo o escritório, a tontura me dominando. Aquela sensação ruim se intensifica, um enjoo me atinge, e sinto uma dor incômoda na bexiga. O corredor parece estender-se infinitamente, silencioso, pois os funcionários ainda não começaram seus turnos. Caminho, tentando manter a compostura, e me encaminho até o banheiro feminino.

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