62 - Uma mentirinha boba

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Sabe quando você chega em um lugar e se sente em casa, como se estivesse no seu mundo, no seu ambiente? É exatamente assim que me sinto enquanto caminho por entre as pessoas, tentando encontrar Barth. 

O som alto dos autofalantes reverbera por todos os lados, enchendo o ar com batidas pulsantes de rock. Carros bonitos e reluzentes se destacam, adornados com luzes LED que criam um espetáculo de cores vibrantes. O característico cheiro de pneu queimado, gasolina misturada com cigarro e álcool flutua pelo ar, criando uma atmosfera única e familiar. 

Respiro profundamente, permitindo que esses aromas familiares preencham meus pulmões, enquanto meus olhos se iluminam com a emoção de estar neste ambiente que tanto amo.

Finalmente, avisto Barth, vestido como sempre com botas de cowboy, camisa e uma calça jeans colada. O jovem está encostado em um Honda Civic VTI, na cor azul 1994, meticulosamente conservado. O veículo tem um brilho discreto sob as luzes, destacando suas linhas clássicas e elegantes uma aparência compacta, porém esportiva, com capô inclinado e bordas arredondadas.

O loiro me vê e abre um sorriso enorme.

— E aí, senhorita? — Cumprimenta-me com um sorriso ladino e animado. 

O jovem se aproxima e me dá um beijo no rosto.

— Lindo carro. — Elogio sinceramente, passando a mão pelo contorno suave do capô do civic.

— Foi um presente do meu professor. — diz com um olhar enigmático, enquanto seu olhar vagueia pelo veículo, como se evocasse memórias profundas.

Um alvoroço começa a se formar ao meu redor. Pessoas se agitam, correm de um lado para o outro, conversam animadamente. Suspiros de admiração escapam de alguns e o som potente de um motor ressoa, abrindo caminho entre a multidão. 

Lá está ele, o Impala 67, surgindo no horizonte como um verdadeiro ícone. Engulo em seco, quase sem conseguir respirar diante da imponência da máquina, seu design clássico e elegante capturando toda a atenção ao seu redor. Mas não é só o carro que está causando toda essa agitação. A verdadeira atração é o piloto, e ele é simplesmente deslumbrante.

— Você não disse que ele vinha! — Repreendo Barth, minha voz mal audível em meio ao burburinho ao nosso redor, enquanto ele começa a rir. Sinto sua respiração próxima ao meu ouvido quando ele se inclina para sussurrar.

— Quem você acha que é o campeão estadual? — sussurra, e uma onda de nervosismo me percorre. 

Droga, será que dá tempo de fugir sem que ele me veja?

Começo a recuar, movendo-me para trás enquanto me afasto das pessoas e procuro uma saída. Navego pelas áreas dos boxes, passando por várias garagens iluminadas, com carros alinhados e prontos para a corrida.

Enquanto avanço entre as fileiras de garagens, finalmente encontro uma área mais afastada. As luzes estão apagadas, proporcionando uma atmosfera mais discreta e isolada. Aqui Anthony não vai me achar.

Observo várias garagens, avaliando cada uma em busca do local ideal. A garagem número nove está mergulhada na escuridão, mas sua localização me deixa desconfiada, já que é onde Anthony costuma ficar. Decido não arriscar e continuo minha busca.

Mais adiante, encontro a garagem número doze, também envolta em escuridão. Parece ser uma escolha mais segura, afastada o suficiente para garantir um pouco de privacidade. Opto por esta e me aproximo, pronta para encontrar um refúgio temporário longe dos olhos do amor da minha vida. Não quero chateá-lo por estar aqui. 

Suspiro aliviada ao chegar lá, caminho até a parede do fundo do box, e, com cautela, tiro meu celular do bolso para iluminar o ambiente. Porém, antes que eu possa fazer qualquer coisa, ouço conversas e passos se aproximando. Desligo rapidamente a luz do celular e me mantenho quieta, aguardando na escuridão.

ILEGAISOnde histórias criam vida. Descubra agora