ILEGAIS

60 - Um novo dia

Minha jornada até aqui foi marcada por uma série de eventos que moldaram meu caráter e definiram quem sou hoje. Desde que tomei a decisão de confrontar aquilo que meus pais tanto tentaram me proteger, minha vida mudou drasticamente. 

Mesmo com todos os impedimentos eu segui o caminho traçado pela minha família, uma vida imersa no crime. No início, minha intenção era nobre: reunir uma filha perdida ao seu pai, e assim o fiz. Se tivesse parado por ali, talvez nada disso estaria acontecendo agora.

Minha sobrevivência é resultado da colaboração de Vittório e Eros, que se uniram em um plano para me salvar. A eles, devo minha vida. Agora, o que mais importa é minha família. Por isso, decidi encerrar minha vida na Rússia, entregando o comando de tudo a Vittório e escolhendo seguir o caminho que Donato Moretti sempre quis para mim: uma vida livre da máfia. 

Os erros que cometi, minha visão de justiça e minha índole duvidosa continuarão a me perseguir, mas não serei mais o líder de uma organização criminosa. Vittório prometeu que continuará ao meu lado, protegendo minha família, e sinceramente, confio nele para essa missão.

Olho para a porta da casa dos meus pais, meu coração batendo descontroladamente. Ao tocar a campainha, uma torrente de emoções me invade. 

A porta se abre após alguns minutos.

— Oi, papai. — digo, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. 

Se minha vida tivesse uma trilha sonora, esse momento seria acompanhado pela melodia de "The House Of The Rising Sun" do The Animals.

Meu pai me encara como se visse um fantasma, e então finalmente me abraça com tanta força que poderia me esmagar. Nunca vi Donato Moretti chorar, mas nesse momento, suas lágrimas escapam sem controle. 

Após um abraço carregado de emoções, ele me puxa para dentro de casa, e vejo minha mãe descendo as escadas, ao me ver a ruiva fica paralisada. Solto papai e corro até ela, envolvendo-a em um abraço caloroso.

Minha mãe, assim como papai, se desmancha em prantos. Estar em casa novamente é como saborear um doce que amava na infância, mas como o paladar mudou, ele não parece o mesmo. 

A nostalgia do momento me faz recordar das coisas que vivi aqui, momentos lindos e felizes. 

Finalmente, estou de volta.

Talvez tenha sido cruel da parte de Vittório usar meus pais como uma maneira de me convencer a deixar o complexo e desistir da minha vingança, mas não posso negar que foi um choque de realidade. 

Imaginar perdê-los foi o empurrão que eu precisava para desistir de lutar contra o que realmente queria. Entendo meu velho agora; a vida lá fora é muito difícil, e eu prefiro estar segura nos braços deles. Da minha família. 

Reconheço que conquistei minha independência, alcancei coisas incríveis e me descobri como mulher e pessoa. No entanto, há feridas que não são fáceis de cicatrizar e talvez nunca se curem.

Mamãe solta o abraço, e observo tudo ao redor, tão familiar, tão seguro. Finalmente posso dizer isso. Estamos seguros, não por minha causa, mas graças aos amigos que conquistei, às influências que tornaram isso possível. 

Tenho consciência de que muitos me destruiriam se não tivesse Vittório ao meu lado, e por isso entregar o comando dos Bratva a ele pareceu a decisão certa. Não quero nada deles, nem uma boate, nenhum cassino, nada ligado ao crime. Como papai, quero conquistar as coisas com trabalho duro, e por isso tomei uma decisão.

— Acho que tenho muitas explicações para dar — digo, me afastando de minha mãe e caminhando até o centro da sala de estar. 

O sofá me chama, e afundo no estofado, buscando clareza para organizar meus pensamentos e começar a explicar tudo. Meu pai se aproxima e senta em minha frente na mesa de centro, segurando minha mão com suavidade.