67 - Uma conversa de meninas

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No dia seguinte, aquele que sempre temo, pois é o dia em que normalmente nos separamos, em que normalmente tudo dá errado, abro meus olhos lentamente no quarto neutro do hotel. A luz fraca do amanhecer invade o espaço, pintando as paredes brancas com uma tonalidade suave e dourada.

Por um momento, fico imersa na transição entre o sono e a vigília, relutante em encarar a realidade que aguarda do lado de fora dos meus sonhos. Respiro fundo, tentando adiar o inevitável, mas logo sinto a necessidade de agir e estico a mão.

Um vazio frio preenche o ar ao meu redor quando minha mão vagueia automaticamente pelo colchão macio. Um suspiro escapa de meus lábios quando meus dedos não encontram a presença de Anthony.

— Anthony? — chamo, minha voz ecoando no silêncio do quarto.

Os lençóis estão frios onde ele deitou na noite anterior, e uma onda de melancolia me atinge quando me dou conta de que estou sozinha na cama. Será que ele se arrependeu de me dar uma segunda chance? Será que pensou que fui egoísta demais e agora está com medo de eu repetir a dose?

Olho para o lado onde ele dormiu na noite passada, as marcas do nosso amor espalhadas pelo quarto, a vela na cabeceira da cama. É como se uma parte de mim estivesse faltando, como se a própria essência do quarto estivesse incompleta sem ele ao meu lado. Uma sensação de desamparo se insinua em meu coração, apertando-o com uma angústia familiar.

Engulo em seco, forçando-me a encarar a realidade que desejo evitar. Não, ele não está aqui. Ele não está aqui para me receber com um sorriso caloroso pela manhã, não está aqui para compartilhar um abraço reconfortante, não está aqui para me lembrar que tudo ficará bem. É apenas eu e o vazio que ele deixou para trás.

Com um suspiro resignado, afasto os cobertores com um movimento lento e me sento na beira da cama. Lentamente, deslizo os pés para o chão, sentindo a frieza do piso contra minha pele. Uma sensação de vulnerabilidade me envolve enquanto me levanto, mas eu me recuso a sucumbir ao desespero.

Caminho até minha sacola de roupas, deslizando o zíper suavemente até abri-la completamente. Passo os dedos entre as peças que trouxe, procurando por algo que me conforte. Entre elas, uma camisola preta chama minha atenção. Retiro-a delicadamente e deslizo meus braços por suas alças, vestindo-a.

Não estou pronta para enfrentar o mundo lá fora, não ainda. Uma batalha interna se cresce dentro de mim, entre a tristeza que ameaça me consumir e a raiva por ter permitido ser enganada, por ter acreditado que merecia perdão

Então, ouço um barulho na porta e, de repente, a entrada do quarto se abre. Anthony surge, segurando dois copos enormes de café da Starbucks. Nossos olhares se encontram instantaneamente. Seus passos são determinados enquanto se aproxima de mim. Um sorriso suave curva seus lábios, dissipando minhas preocupações e dúvidas.

Ele não fugiu. Ele está aqui.

Observo o cabelo dele ainda úmido do chuveiro, e o aroma tentador do café recém-preparado preenche o ambiente. Uma sensação de alívio me invade. Tudo foi apenas minha insegurança falando.

Sem trocarmos uma palavra sequer, corro em direção a ele. Nossos braços se entrelaçam num abraço apertado, como se estivéssemos nos agarrando desesperadamente um ao outro, como se fosse a única coisa que importasse naquele momento. Sinto o calor do seu corpo, um lembrete de que ele foi sincero em tudo que me disse ontem.

— Bom dia, princesa — sua voz, rouca de afeto, sussurra suavemente em meu ouvido. Seus braços ao meu redor são um refúgio.

— Eu preciso que me faça sua agora! — digo em um sussurro, minha voz tremendo ligeiramente.

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