55 - Um saia da minha vida

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Já se passaram seis meses desde que Isabelly partiu para a Rússia, e eu prometi a mim mesmo que respeitaria seu espaço, deixando a decisão nas mãos dela. A escolha dela foi o silêncio, uma decisão difícil de aceitar, mas que eu me propus a respeitar, mesmo que cada dia pareça uma eternidade de saudade.

Nesse intervalo, Allyson e eu nos dividimos entre visitar nossos pais, lidar com as complexidades dos Yakuza e zelar por Allan, que permanece em coma. Infelizmente, a transferência de Allan para um hospital no Japão foi impedida pelos riscos envolvidos, prendendo-o aqui. Assim, nossas vidas têm sido dedicadas a cuidar dele e também de nossos pais.

A angústia do silêncio de Isabelly aperta em meu peito, mas a vida continua. Enfrentei muitos desafios ao longo do tempo, e este é apenas mais um; não acho que seria diferente agora.

Recordo-me dos dias naquela cabana com Isabelly, quando descobri que ela ainda não tinha aproveitado nada em sua vida. Ela sempre foi muito cobrada pelos pais, e eu não sei os motivos que a levaram a abandonar tudo e ir para a Rússia. Se foi a dor do luto, os traumas pelo sequestro, ou uma combinação de ambos, respeito o que quer que seja.

A realidade cruel é que os Ristrettos chegaram ao fim, mas os Yakuza continuam presentes, uma obrigação persistente em minha jornada. No entanto, essa não é a vida que desejo para mim.

Remexo meu corpo na desconfortável poltrona, observando atentamente a máquina que monitora os batimentos de Allan. A ansiedade aumenta a cada beep, enquanto ele parece tão sereno. Mesmo assim, me pego rezando, desejando fervorosamente que tudo melhore para ele.

Allan merece ter sua vida de volta, mesmo que seja para enfrentar os desafios deste mundo após perder os pais e a grande traição daqueles que mais confiava.

O ambiente é de silêncio, apenas interrompido pelo constante som dos aparelhos médicos. Enquanto meus pensamentos vagam.

Preciso encarar a dura realidade de não ter mais trabalho aqui em Nova Iorque. Nossas boates fecharam, os cassinos desapareceram, deixando para trás destroços que corroem o legado que meu tio construiu. A tradição de passar o comando dos grandes Ristrettos chegou ao seu fim abrupto. Sinto que Tio Steve, se estivesse aqui, olharia para nós com vergonha.

Nesta semana, estou dedicando-me apenas a fazer companhia para Allan, enquanto Alysson está com nossos pais no Japão.

Enquanto olho para meu primo, minha mente vagueia entre lembranças do Tio Steve e da Tia Jane, sentindo intensamente a falta deles.

A maioria do que sei sobre carros, meu tio Steve me ensinou, enquanto tia Jane me transmitiu lições valiosas sobre liderança e perspicácia. Eu e meu pai compartilhamos um amor profundo, e não desejo comparar as coisas, mas em uma ligação de almas, tio Steve teria passado na frente.

A vida tem sido dura, tudo foi arrancado de nós, e mesmo sabendo que um dia vamos melhorar, a dor está aqui, machucando como uma ferida aberta.

"A dor do luto é como uma maré que vem e vai, mas mesmo nas baixas, deixa vestígios que persistem, lembrando-nos da perda que se eterniza na alma."

De repente, a porta do quarto se abre, revelando um caipira velho de camisa de flanela, adentrando com semblante bravo. Seu olhar ríspido e resmungão é direcionado a mim. Aí vem bronca.

— E aí, rapaz? — o Senhor López pergunta, se aproximando.

Levanto-me com respeito, estendendo a mão para cumprimentá-lo. Sinto sua pegada firme, mas algo em seu aperto denuncia a presença de más notícias, como se carregasse o peso de um fardo difícil de compartilhar. Nitidamente, as rugas de preocupação que aparecem em seu rosto são indícios de tempos difíceis. No entanto, preciso desvendar o que o trouxe até mim.

ILEGAISOnde histórias criam vida. Descubra agora