18 - Uma fuga

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Anthony Moretti

Um estrondo ensurdecedor de buzina ecoa ao meu redor, e meu corpo parece despedaçado, como se estivesse sendo prensado, agulhas invisíveis perfurando cada centímetro da minha pele. 

Abrir os olhos é uma batalha árdua; a claridade intensa se infiltra, forçando-me a superar a resistência das pálpebras que parecem pesar toneladas, me deparo com o início de um incêndio, enquanto o impacto contra o airbag ainda reverbera.

"Pelo menos valeu a pena investir em um carro com 8 airbags", deixo escapar, expressando um alívio profundo. 

Com a mão menos dolorida, consigo acionar o dispositivo ao lado do banco e deslocar o assento do motorista para trás, afastando-me lentamente para recuperar a mobilidade.

Não vou morrer aqui, não hoje. Recuso-me a ter uma morte sem propósito, uma morte idiota causada por uma barata como o Mike. Mesmo com dor, tento abrir a porta do carro, e, surpreendentemente, ela cede. 

Alguém, por algum motivo, não quer que eu morra. Agradeço ao destino por essa oportunidade improvável de fugir. 

Me arrasto para fora do veículo, sentindo o frio do asfalto em minhas mãos e braços. Tento me levantar, consciente de que meu Mustang está prestes a virar uma explosão cinematográfica. Meu bebê está à beira do colapso! Que maravilha.

Ainda cambaleando, faço o possível para me orientar, enquanto meu corpo protesta vigorosamente contra o esforço. Ergo-me com dificuldade e dou alguns passos. Lá no horizonte, uma picape se aproxima. Não acredito. O destino só pode estar de brincadeira comigo. Reconheço o caipira amigo da Isabelly.

No entanto, meu corpo escolhe esse exato momento para uma pausa dramática. Desmorono no chão, sentindo o impacto sólido contra o asfalto, enquanto as luzes da picape se aproximam. 

Murmuro para mim mesmo que o destino, sem sombra de dúvida, está se divertindo à minha custa. Observo os passos dele em minha direção, notando que o sujeito fez a chamada para a emergência.

Droga, a última coisa que preciso agora é ir parar em um hospital. Se meus inimigos descobrirem, poderão rastrear-me e transformar um acidente de carro em meu fim definitivo. No entanto, nessas condições, parece que não tenho muita escolha. Meus olhos pesam, a escuridão toma conta, e as luzes se dissipam no breu.

[...]

O demônio de cabelos vermelhos balança no balanço; ela se inclina para frente e para trás, como uma menina normal de cinco anos, uma menina birrenta e mimada. Como pode uma criança tão pequena ser tão irritante? Não são nessa idade que elas costumam ser fofas? 

Minha irmã está com ela, mas um vendedor de picolés se aproxima e minha irmã corre para comprar, deixando a gêmea do curupira sozinha. Algumas meninas maiores se aproximam dela; percebo que uma delas empurra a ruivinha do balanço, fazendo-a cair no chão. Outra puxa o cabelo dela. 

Isabelly não reage, apenas se levanta para sair, sem derramar uma lágrima, mas outra garota a segura e a derruba novamente.

— Garota feia! — uma loira, de olhos azuis que parece a própria encarnação da Emma Roberts em seus melhores anos, xinga.  — Aqui não é lugar para uma menina feia como você!

Por algum motivo, isso me irrita profundamente, a ponto de eu me levantar sem pensar e caminhar até lá.

— Deixem ela em paz! 

As meninas me olham assustadas. Uma delas se aproxima, a loira que parece ser a chefe do bando.

— Desculpa, não sabia que era sua irmã.

ILEGAISOnde histórias criam vida. Descubra agora