Isabelly Moretti
A manhã começou como qualquer outra, com os rituais habituais de acordar, realizar as higienes e escolher uma roupa para o dia. No entanto, algo pairava no ar, uma sensação incômoda que apertava meu peito. Uma sombra percorria meu interior, eriçando todos os pelinhos do meu corpo e deixando um frio desagradável na espinha.
O que seria? Eu não sabia, mas a inquietação estava lá.
Estou sentada à mesa do café da manhã, diante do navegador. Lá fora, o dia se revela ensolarado, mas dentro de mim, uma sombra nubla meus pensamentos. Nem mesmo consigo saborear minha refeição; a comida parece destituída de sabor, assim como minha disposição.
Desisto de tentar comer e opto por um gole de café forte, na esperança de resgatar alguma energia para meu corpo exausto. A noite passada foi uma sucessão de pensamentos tumultuados, negando-me o merecido descanso.
O cansaço se reflete em meu olhar, pesado e fixo na tela do notebook, uma ardência incomum nos olhos, as pálpebras pesadas. Aqueles que já experimentaram uma crise de ansiedade compreenderiam plenamente o que estou enfrentando agora.
Às vezes, tudo parece estar sob controle, mas basta um gatilho para acionar uma cascata de pensamentos negativos. Comigo, não é diferente. No entanto, há um trabalho a ser feito, uma retribuição a ser cumprida, e Ken merece de mim um agradecimento à altura.
Primeiro, por ter me estendido a mão quando mais precisei, eu sei o quão imprudente e infantil eu fui aquela noite, sentando naquele ferro velho e me prostrando no chão, mas eu não estava pensando com racionalidade.
Hoje, enquanto recordo aquele momento vulnerável, reconheço a importância do apoio que Ken me ofereceu. E o quanto tudo poderia ter dado errado. Eu não sou inocente; ele ter surgido com um balde d'água ao invés de uma arma foi pura sorte. Aceitar comer sua canja e me banhar em sua casa sem ao menos pensar que ele poderia ser alguém com má índole foi, como mencionei antes, imprudente.
Hoje, ao relembrar aquele momento vulnerável, reconheço novamente a infantilidade de minhas ações.
E mais uma vez, estou ciente de que estou sendo imprudente. Sou uma Kamikaze, afinal, apenas isso explica uma garota entrar sozinha e por conta própria na casa de um herdeiro da máfia russa; reconheço, é extremamente arriscado, certamente idiota! No entanto, quando pondero sobre o que posso perder, parece insignificante em comparação com o que já passei. Não é a primeira vez que cogitei a ideia de dormir e não acordar mais.
Retorno ao foco das minhas pesquisas sobre as boates marcadas em vermelho na lista. De repente, uma notícia intrigante chama minha atenção: uma dessas boates foi consumida pelo fogo, sua estrutura devorada por chamas até a destruição total. Um arrepio percorre minha espinha, e a mente começa a formular conexões e hipóteses sobre esse incidente.
Tento manter o foco nas informações diante de mim, mas um nó aperta minha garganta, tornando cada inspiração um desafio.
—Oi!— Uma voz animada me interrompe, e me viro para encontrar uma garota de pijama.
Seu nariz é coçado impacientemente, e a franja loira dança em sintonia com seus gestos. Não consigo conter uma risada diante da cena descontraída. Ela se aproxima da mesa com uma confiança despojada e começa a despejar café em uma xícara.
— Sou Sasha, irmã do Fióri. Muito prazer.
Percebo um lampejo de desagrado em seus olhos, como se algo em mim a incomodasse. Observo cada detalhe enquanto ela se move pela cozinha, descalça e completamente à vontade.
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ILEGAIS
RomanceIsabelly, desde cedo, compreendeu a necessidade de atender às expectativas de seus pais: herdeira de um empresário que construiu um império adquirindo diversas organizações e filha de uma hacker renomada que colaborava com o FBI, ela se viu diante d...