42 Uma abordagem

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Estamos cruzando a estrada, um silêncio se instala no carro, cada um está imerso em seus próprios pensamentos. Meus olhos percorrem a paisagem em movimento, mas algo se altera de repente. Sem aviso, Anthony retira a mão do volante e a deposita gentilmente sobre a minha, que repousa em minha perna. 

Meu coração acelera, e nossos olhares se encontram. Vejo uma centelha de vulnerabilidade em seu olhar, como se os pensamentos que o afligem neste momento fossem uma carga dolorosa, refletida nas lágrimas que ameaçam se formar. 

A expressão de Anthony revela suas emoções contidas, e me encontro diante de uma escolha.

Num gesto que oscila entre a ousadia e a impulsividade, eu o encaro.

— Anthony, pare este carro agora.

Ele parece atordoado, seus olhos fixos em mim, uma palidez momentânea tomando conta de seu rosto.

— Não é uma boa ideia, princesa — responde quase sem voz, uma hesitação perceptível em suas palavras.

— Por favor, Anthony, preciso conversar com você sem o risco de sermos interrompidos.

Ele vacila por um instante, mas, decidido, reduz a velocidade do carro e para no acostamento. A estrada deserta é banhada apenas pela luz dos postes ao redor, criando um cenário silencioso e isolado. Em seguida, ele coloca o carro em neutro, e o motor cessa, mergulhando-nos em um breve momento de quietude.

No exato momento em que o carro se imobiliza, liberto-me do cinto de segurança, girando delicadamente no banco para encarar Anthony. 

Em um sincronismo instantâneo, percebo que ele realiza a mesma ação, alinhando nossos olhares.

— Isabelly, temos um péssimo hábito de cometer loucuras à beira da estrada! — ele diz, e não consigo conter o riso.

— Quer dizer que me beijar foi uma loucura? — pergunto, encarando-o intensamente, buscando seus olhos com uma expressão brincalhona. — Foi tão ruim assim?

Percebo suas bochechas corarem, e seus olhos desviam, notando o exato momento em que ele engole em seco.

— Vivi para presenciar Anthony Moretti ficando envergonhado.

Seus olhos castanhos me encaram, aquele olhar, o olhar de admiração que ele coloca em mim, é perfeito, eu amo tanto. Um sorriso discreto brinca em seus lábios, revelando mais do que suas palavras.

— Não foi uma loucura. — Anthony diz com seriedade, seu olhar fixo no meu. — Eu desejava muito aquele beijo, desejava ao menos uma vez ter você em meus braços.

Engulo em seco, sentindo meu corpo tremer. Estou nervosa, algo raro para mim. Sinto que chegou o momento de revelar a ele o que sinto. Talvez seja a chave para seguir em frente. Talvez ele comece a me odiar por não respeitar seu luto, mas não quero mais carregar isso sozinha.

— Antes de eu continuar, eu preciso saber uma coisa, Maya: sabia que eu e você já dormimos juntos? — pergunto, sentindo minha garganta se fechar. 

Só assim para eu entender em partes aquele vídeo e o ciúmes insano que ela tinha de mim. Se ela soubesse que dormimos juntos, não seria tão insano assim.

— Isabelly, não... por favor, não pergunta. — pede, seu tom de voz carregado de apreensão.

O silêncio que se segue é pesado, repleto de tensão. O murmúrio distante da estrada não é capaz de preencher o vazio entre nós, enquanto espero pela resposta de Anthony, ciente de que minhas palavras podem ter mudado irrevogavelmente a dinâmica entre nós.

— Anthony, você me ligou, disse que me amava, e eu respeitei quando me ignorou depois disso. Agora é sua vez de me ouvir, e depois pode me ignorar. Mas se você disser que não quer nem ouvir, eu seguirei o Vittório e te dou o espaço que precisa. Mas, não posso e não quero ficar com esta barreira entre nós.

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