38 - Uma pessoa como eu

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Observo a morena andar de um lado para o outro, irritada. Ela retirou todo e qualquer vestígio de Isabelly do apartamento; não há cartas, nem porta-retratos. A caixa no meu closet com coisas dela também foi parar no lixo. 

Vejo-a falar por horas, mas confesso que não presto atenção em nenhuma palavra dela. Sinto o gelo contra meu rosto, fazendo uma anestesia sobre os machucados. O encosto do meu sofá parece confortável enquanto observo Maya ter mais um de seus surtos de ciúmes.

Se ela tem razão? Completamente. 

Eu e Isabelly estávamos prestes a nos beijar. Talvez tenha sido o calor do momento, o álcool no organismo dela ou nossa proximidade, eu não sei, mas senti uma tensão ali. A pele dela arrepiada sob meu toque, seu rosto completamente imerso no meu, e eu estava pronto para me entregar.

— Não pode ficar sozinho com ela novamente, Anthony, entendeu? — Maya pergunta, desta vez parando na minha frente com as duas mãos na cintura, sua raiva transparente em seu rosto contorcido.

Engulo em seco, uma sensação amarga de exaustão toma conta de mim. Estou tão cansado dessas brigas intermináveis, dessa confusão que parece nunca ter fim.

— Aquela vadia manipuladora faz de tudo para chamar sua atenção. — ela fala, cuspindo as palavras com um veneno que atinge em cheio meu último pingo de paciência. 

Sinto raiva dela, uma raiva que queima lá no fundo. Não posso aceitar esse tom. Isabelly pode ser muitas coisas, mas maldosa definitivamente não é uma delas. Ela não tem culpa de eu estar apaixonado por ela, de eu ficar seguindo seus passos como uma sombra. 

Sequei-a enquanto dançava com aquele cara, e quando a vi beijando-o, quis ser eu ali. Quando ela saiu com Petter, fui eu quem despistou Maya para saber se estava com ele, se estava bem. Se tem alguém  que deveria ser xingando, deveria ser eu, por eu estar traindo sua confiança, por eu ser o cretino aqui.

— Chega, Maya! Nunca mais fale assim. Isabelly está enfrentando problemas sérios, e ela não manipulou porcaria nenhuma. Será que você pode deixar seu ciúmes de lado por um minuto e tentar entender a situação? — pergunto, encarando-a com firmeza enquanto me levanto. 

Deixo o saco de gelo na mesa de centro, começando a andar em direção ao meu quarto.

Não quero mais ficar sentado aqui, ouvindo um monte de palavras que só machucam. Meu quarto parece um refúgio, um lugar onde posso finalmente respirar. Abro a porta e pensamentos turbulentos giram na minha cabeça. 

Por que é tão complicado? Eu só queria um pouco de paz, um respiro no meio desse caos emocional. Será que estou sendo injusto com Isabelly? Será que minha insistência em buscá-la constantemente a está sufocando? Uma enxurrada de perguntas invade minha mente enquanto fecho a porta do quarto.

Engulo em seco, preciso de um momento para organizar meus pensamentos, para entender o que está acontecendo, ou talvez só para desligar um pouco. Enquanto percorro o quarto, vejo Maya abrindo a porta e entrando, insistindo, seus passos pesados ecoando no chão.

— Anthony, eu perdoei você por ter mentido para mim, te dei mais uma chance... Não vou admitir que fique flertando com ela na minha frente. Vi que estavam quase se pegando no estacionamento, ela já tinha até tirado a blusa. — vocifera alto, e os ecos de suas palavras se misturam com a luz fraca.

Ignoro-a mais uma vez e caminho até o banheiro, desfaço-me das roupas manchadas de sangue com certa dificuldade. Maya me segue e continua a discussão. A verdade, é que Isabelly não merece isso. Preciso explicar a situação e talvez tranquilizar Maya.

— Ela tirou para estancar o sangue que corria da minha testa, Maya... — tento explicar, mas ouço o estrondo de objetos sendo arremessados no banheiro, ecoando como uma tempestade.

ILEGAISOnde histórias criam vida. Descubra agora