41 - Um dia para ter coragem

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Os segundos após abrir os olhos me trazem uma onda de consciência, ainda meio embaralhada pelo impacto da queda. A luz branca e clínica do quarto invade meus sentidos, e, instintivamente, fecho os olhos por um momento, ajustando-me à nova realidade.

Ao recobrar o controle, permito que meus cílios se afastem lentamente, revelando o ambiente ao meu redor. A luminosidade parece intensa demais, e eu me pego desviando o olhar para um lado, buscando uma posição mais confortável.

Aí, percebo algo incomum. Ao me virar completamente, deparo-me com Anthony, adormecido no sofá. A surpresa faz meu coração acelerar. Afinal, quando peguei no sono, era minha mãe ali. 

Uma ligeira dor se faz presente, mas nada que me impeça de admirar a tranquilidade no rosto dele.

Ao fitar o homem que desperta tantos sentimentos em mim, um sorriso discreto desenha-se nos meus lábios. Agradeço internamente pela sua presença, por ele estar ali mesmo depois do que provavelmente eu causei. As lembranças do incidente voltam, uma lembrança dolorosa.

A contemplação silenciosa é interrompida quando Anthony, como se sentisse meu olhar sobre ele, acorda. Seus olhos se encontram com os meus, e um sorriso sutil surge em seus lábios. Sinto minhas bochechas corarem ao perceber que fui pega no flagra.

Ele se levanta graciosamente do sofá, esticando os músculos numa forma deliberada que sem dúvidas me faz abrir levemente a boca e engolir em seco, Anthony tem o poder de chamar minha atenção.

Em seguida, o moreno aproxima-se de mim com um sorriso ladino, a confiança natural dele evidente em cada passo.

— Admiração matinal, princesa?

Dou uma risada suave, me sentindo ainda mais envergonhada.

— Estava ruim dormir do outro lado.

Anthony se aproxima e passa gentilmente os dedos pelos fios do meu cabelo, naquele momento, consigo perceber a dor que está escondida por trás do seu olhar.

— Anthony, eu... eu sei o que aconteceu com a Maya. Sinto muito, de verdade... você está bem?

O sorriso dele desvanece por um instante, dando lugar a um olhar profundo e melancólico. Sinto o peso do luto que o envolve, uma dor que transcende as palavras.

— Belly, é complicado. Maya... ela estava lidando com muitos demônios. Mas obrigado pelo apoio. Eu... eu preciso de um tempo para processar tudo isso.

Não consigo deixar de remoer as palavras dela, ecoando em minha mente: "Você quer roubar Anthony de mim". Mesmo com o peso do desconforto, decido reunir coragem e fazer a pergunta que martela em meus pensamentos.

— Foi minha culpa Maya ter cometido suicídio? Contribuí de alguma forma para isso?

Ele fecha os olhos como se evitasse falar a primeira coisa que veio à sua cabeça.

— Ela tinha problemas, e eu não soube cuidar dela. A culpa é minha...

Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, a porta do quarto se abre, e Alysson entra com copos da Starbucks em uma bandeja, exalando energia positiva como sempre.

— Bom dia, pessoal! Trouxe café para focarmos em nossos próximos passos. — A loira exclama, distribuindo os copos com o logotipo familiar da Starbucks.

"Próximos passos? Como assim?" A pergunta paira no ar, e minha mente busca desesperadamente por clareza. Será que se refere ao velório de Maya? Sinto-me à margem, como se houvesse um véu de segredos entre eles. Ao observar Anthony, percebo uma agonia em seus olhos, alimentando a suspeita de que há verdades ocultas.

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