9 - Uma audiência

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Isabelly Moretti

Anthony parece concentrado na estrada, e eu finjo estar dormindo. A sensação estranha que se espalhou por mim momentos atrás permanece sem explicação, mas, conhecendo o Anthony, sei que estou prestes a ter meu coração partido e minha autoestima abalada após essa noite. Decido agir como se tudo tivesse sido apenas um equívoco causado pelo álcool, torcendo para que a manhã traga o esquecimento.

O telefone dele toca.

— O que, Melissa? — ele resmunga impaciente, uma sombra de contrariedade pesando em sua voz. — Agora não posso, estou levando a Belly para casa. — explica rapidamente e depois se cala. — Você está louca? Eu não gosto dela... Sim, foi só para provocar o Mike. — diz, e uma onda de frustração me invade. Minha sensação de ser usada cresce, e é extremamente frustrante.

Sinto o carro parar e finjo acordar, me abaixando para calçar minhas botas com pressa. Sem esperar por ele, abro a porta do carro com rapidez e desço, sem coragem de encarar Anthony.

Caminho apressadamente em direção à entrada da casa. Ao entrar na sala, vejo meu pai em sua poltrona. Ele me olha, e seus olhos azuis parecem marejar. Caminho a passos largos e sento em seu colo, abraçando-o com força, como fazíamos quando eu era criança.

— Oh, princesa, também senti saudades! — ele fala, os cantos de sua boca se curvando em um sorriso suave enquanto acaricia suavemente meus cabelos. — Vou viajar mais vezes se é para ter uma recepção assim.

Observo o cansaço em seu rosto, os vincos ao redor de seus olhos denotando as noites sem dormir.

— Quero ir junto na próxima. — digo, meu sorriso se alargando levemente no canto dos lábios.

Papai passa a mão suavemente pelo meu rosto, um gesto reconfortante que transmite todo seu carinho.

— Eu adoraria que fosse comigo na próxima... É para a Rússia! — ele anuncia com entusiasmo, um brilho travesso nos olhos.

Ouço alguém fazer um ruído com a garganta e me viro para encarar minha mãe com uma xícara de chá. Ela está deslumbrante em um vestido verde de linho, seu rosto suavemente iluminado por uma maquiagem discreta que a faz parecer mais jovem.

— Só seu pai ganha um abraço? — ela pergunta, um toque de decepção velado em sua expressão.

Seus cabelos ruivos soltos caem graciosamente em seus ombros, enquanto eu me levanto do colo do papai e me aproximo dela para abraçá-la. Seu perfume doce evoca uma onda de nostalgia dentro de mim.

— Você está com cheiro de uísque! — mamãe reclama, arqueando as sobrancelhas com preocupação.

Pego a xícara de chá de suas mãos e tomo um gole, saboreando o gosto refrescante da hortelã. Meus ouvidos captam passos à distância, e meu olhar se desvia para Anthony, que entra em casa, fazendo meu coração disparar. Minhas mãos começam a tremer involuntariamente, um sinal claro da agitação interna que luto para controlar.

— Na verdade, eu preciso de um banho — murmuro, começando a caminhar em direção às escadas.

Não quero encará-lo agora. Ele está certo; não podemos voltar atrás. Antes, eu apenas o detestava, mas agora o ódio ferve dentro de mim. Odeio-o por ter me usado e odeio-o ainda mais por ter me enganado e por ter falado sobre mim para aquela mulher siliconada. Se ele me ignorava antes, agora é a minha vez de ignorá-lo.

Segurando o corrimão da escada, caminho sem nem olhar para ele. Vou à direita, seguro na maçaneta da porta do meu quarto e entro. Deixo a xícara de chá no criado-mudo e me dirijo ao banheiro. Retiro minhas botas, minha bermuda, minha blusa, meu sutiã, minha calcinha e minhas meias, jogando as roupas no cesto de roupas sujas. Amarro meu cabelo em um coque para não molhar e me encaminho para o box.

ILEGAISOnde histórias criam vida. Descubra agora