26 Um afastamento

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Anthony Moretti 

Com o coração acelerado, saio da boate, deixando para trás as luzes vibrantes, o som alto e até mesmo minhas companhias. Preciso de espaço, quero ficar sozinho. Caminho sem rumo até que as luzes da boate se tornam um borrão e o som desaparece. Ao perceber que estou mergulhando na escuridão, adentro o beco vazio ao lado da boate. Neste momento, a necessidade de um momento isolado para pensar me conduz até esse refúgio.

Enquanto caminho de um lado para o outro no beco, deslizo a mão para dentro do bolso da calça, preparando-me para acender um cigarro. Retiro a carteira dali, pegando um mentolado. Às vezes, é o que basta, uma alternativa menos intensa do que drogas mais pesadas. 

Um calor súbito sobe em meu corpo, então coloco o cigarro na boca e guardo a carteira de volta. Automaticamente, remango as mangas da camisa para ter mais liberdade de movimento. As mãos tremem levemente, reflexo da irritação ao presenciar aquele idiota puxando Isabelly daquela forma. Se ficasse mais um minuto na frente deles, as consequências seriam drásticas.

Sozinho no beco, pego o isqueiro no bolso e acendo um cigarro, permitindo que a nicotina penetre meus pulmões, enquanto o ambiente revela um cenário urbano decadente. Latões de lixo, um gato farejando restos em busca de comida, e ao fundo, ainda ecoa o som distante da boate. Minha mente divaga, imaginando o que acontece neste beco quando não tem ninguém por perto.

De repente, saltos batendo no chão rompem o silêncio, a chegada inesperada de Kelly. Ela se aproxima, tirando o cigarro da minha boca com um gesto desafiador, dando uma longa tragada que ilumina seu rosto na penumbra. Ela é linda mesmo sob a escuridão do lugar, sensual, e sem dúvidas, meu lado mais primitivo adoraria ceder a isso.

— Está se escondendo ou é só impressão minha?

— Na verdade, estou apenas evitando um erro. — Comento com um sorriso melancólico, enquanto a fumaça do cigarro se dissipa na escuridão.

Kelly me devolve o cigarro, e eu dou uma tragada lenta, sentindo a nicotina fazer sua mágica calmante nos meus nervos.

— Suponho que a causa dos seus surtos ainda seja a Isabelly. — A loira comenta, e eu a encaro com surpresa.

— Eu nunca te falei dela.

Mesmo na penumbra, percebo o riso de Kelly, uma risada que se mistura ao ambiente quase silencioso.

— Anthony, o jeito como olhava para ela nos lugares era tão nítido. — Ela diz com bom humor. — E além disso, eu vi ela se jogando em cima de você, claramente querendo chamar sua atenção.

Engulo em seco, quase podendo sentir o gosto amargo da confusão que se instalou entre Isabelly e eu. Ela não se jogaria em cima de mim, não mesmo. Distância é o que ela busca, e sua resposta ao meu desabafo foi o silêncio, um silêncio ensurdecedor que só intensifica minha decisão de desistir desse amor insano.

— Ela caiu. — Deixo escapar, como se isso pudesse explicar o inexplicável.

O riso de Kelly ecoa no beco, um contraste irônico com a escuridão ao nosso redor.

— Não, eu vi quando ela se jogou.

Por que diabos Isabelly faria algo assim? Por que escolheria esse caminho? Será que está me testando, brincando com a minha cabeça? As perguntas se multiplicam, como sombras indecisas na noite.

— Calma, não ferva sua cabecinha. O namorado bêbado levou ela embora, estavam discutindo. — ela aconselha, mas é tarde demais; minha mente já está em uma montanha-russa.

Acabo rindo, uma válvula de escape momentânea, e tiro a carteira de cigarros do bolso. Coloco o cigarro na boca e acendo outro, deixando a fumaça subir.

ILEGAISOnde histórias criam vida. Descubra agora