36 - Uma revelação

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Adentro a cabana com passos firmes e o coração acelerado, deparando-me com a terapeuta magricela aos berros nos braços de Allan, que a segura com uma expressão entre desespero e confusão.

— Calma, Giulia! — as palavras de Allan ecoam, mas a garota consegue se desvencilhar dele com uma agilidade surpreendente, desferindo um chute certeiro em suas partes íntimas.

— Você enlouqueceu de vez, Allan? Que merda é isso aqui? Mais um fetiche estranho seu? — a voz dela ressoa em furor, seu olhar fixo em meu primo, que tenta se recuperar do golpe.

A porta da cabana se fecha com um baque, Anthony a escora, cruzando os braços com um tom de deboche evidente. O debochado, observando com deleite a cena que se desenrola diante dele. Safado!

— Giulia, já pedi para se acalmar, eu não quero te machucar! — Allan tenta apaziguar a situação, mas ela avança furiosa, batendo no rosto dele. 

Percebo que vai repetir o golpe, mas antes que tenha sucesso, ele segura sua mão, e os dois se encaram como se o simples olhar pudesse resultar em um embate mortal.

Aproximo-me da garota, tocando levemente seu ombro. Seus olhos verdes me analisam com intensidade, buscando alguma explicação para o caos que se desenrola.

— Desculpa, Giulia, fui eu quem te sequestrou... — murmuro, e ela arqueia as sobrancelhas, encarando-me com uma mistura de incredulidade e raiva.

Sua respiração se torna pesada, e suas bochechas adquirem um tom rosado, revelando a turbulência emocional que a envolve.

— Isabelly Moretti, facilmente diagnosticada com uma leve TPN. — ela murmura, andando ao meu redor de maneira quase predatória. — Exibe um padrão persistente de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. — sua voz assume um tom clínico ao me diagnosticar.

Sinto meu coração acelerar, as palpitações ecoando no silêncio que se instala, e o desespero se infiltra, tomando conta de mim como um espectro cruel.

— Tem uma visão exagerada de suas realizações e talentos. Explora os outros para atender às suas próprias necessidades, sem considerar os sentimentos alheios. —  As palavras dela reverberam, martelando na minha mente como um veredicto sobre minha própria existência. 

Minhas mãos começam a tremer involuntariamente, e os olhos, antes firmes, começam a se marejar. A vulnerabilidade se instala, e eu me sinto exposta diante da análise implacável da terapeuta.

— Já deu, Giulia! — A voz de Allan irrompe no cenário carregado, e ela o encara, um fio de irritação cortando sua expressão desafiadora.

— Deixa sua prima saber o diagnóstico dela através dos seus olhos, Allan. Ela vai amar. — fala com frieza calculista, um olhar que perfura a alma. — Segundo o Allan, você tende a assumir uma postura de superioridade e desconsidera as opiniões dos outros.

O mundo ao meu redor parece se dissolver enquanto tento processar as palavras, meu equilíbrio emocional pendendo perigosamente.

— Já chega, garota! — A voz autoritária de Anthony corta o ar, ecoando como um trovão. — Ou eu vou ser obrigado a colocar uma fita na sua boca.

Um riso irônico escapa dos lábios de Giulia, seus olhos fixos em Anthony, medindo-o de cima a baixo.

— Você deve ser o Anthony! — diz, o sarcasmo dançando em suas palavras, enquanto ele se aproxima de mim e me envolve em um abraço. 

Só então percebo que estava segurando meu pulso com força, um leve corte com a unha revelando a intensidade com que tentava me controlar. Anthony me abraça, e aos poucos, a tempestade dentro de mim começa a acalmar.

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