we're not right for each other.

831 113 18
                                    

O dia estava quase no fim e até agora, metade de um dia depois, aquela rápida memória ou o que quer que aquilo tenha sido, um sonho, quem sabe, não saiu da minha cabeça de forma alguma.

Natasha, uma vez que colocamos uma Cecília completamente apagada tamanha exaustão, na cama, voltou a ignorar a minha existência, como se o dia de hoje nunca tivesse acontecido, já eu tinha outra prioridade no momento para me importar demais com este fato.

É estranho não me reconhecer mais, ao que tudo indica, eu sou uma mulher completamente diferente do que eu costumava ser, pior, do que eu me lembro. Segundo relatos de terceiros, eu sou perdidamente apaixonada por Natasha Romanoff, só tenho olhos para ela, pessoa que em algum momento da minha vida, eu teria recusado até mesmo manter uma simples amizade, e eu recusei, diversas vezes, mas supostamente, somos felizes.

Ou éramos, eu provavelmente estraguei tudo.

Por que isso tinha que acontecer? Eu não queria ter que estar passando por isso, sem ter para onde correr, sem saber o que é real, nem mesmo ela merece tanto sofrimento, eu sequer tenho mais forças ou vontade para ser com ela, o que a Davina de 17 anos era e, não é pena, muito pelo o contrário, se eu tivesse que dar nome para o que eu sinto quando penso sobre a nossa situação atual, acho que seria compaixão, Natasha simplesmente não merece, ou melhor ainda, talvez eu não a mereça.

Quando ela me olha e a única coisa que eu consigo enxergar é tristeza, isso mexe comigo de uma forma que nunca mexeu antes, eu não consigo entender, só... eu não gosto quando ela me olha como se estivesse me pedindo por ajuda, ou até mesmo, implorando, implorando para que eu me lembre, para que eu me lembre da gante, me lembre dela.

Eu não sei, é complicado, só isso e, fica pior quando eu me lembro que nem mesmo estamos conversando mais.

Minha esposa... estou arrepiada em apenas pensar que era assim que nos referiamos uma a outra a não muito tempo atrás.

Eu me viro quando ouço passos de pés descalços cada vez mais próximos, contra o piso, a casa está tão quieta, que é possível escutar até mesmo os irrigadores ligados do lado de fora, no jardim. O silêncio me incomoda.

Natasha surge e eu discretamente a observo, ela coça os olhos e abre bem a boca em um bocejo contagiando, é exatamente como eu mencionei, ela parece estar cansada o tempo todo. Uma vez que ela afasta as mãos do rosto e seus olhos abertos e curiosos caem sobre mim, sou pega no flagra a encarando, eu rapidamente mudo o foco e a ouço suspirar, mais uma vez, cansada.

— Não vai vir dormir?

Eu até penso em respondê-la, mas não sai nada, ainda estou surpresa por ela ter dirigido a palavra a mim e, Cecília nem mesmo estava por perto, ela não tinha que fingir que estávamos bem.

— Eu... eu sim. — confirmo, apertando os dedos no meu jeans. — Eu já estava subindo.

— Não precisa sair só porque eu cheguei. — ela me barra assim que faço menção de que iria me retirar. Na verdade, preciso sim, eu queria sair correndo logo daqui. Ela está séria, mas o seu tom é simpático.
— Sua irmã quer levar Cecília e Maeve para passarem um tempo com os seus pais. — contou e quando ambas permanecemos em completo silêncio, ela decidiu continuar.
— Ela sabe... sobre você, Maeve, no caso. Kate disse que ela está magoada, não é fácil para uma criança entender, eram um grude só e de repente, não são mais.

Eu era sim a pessoa favorita de alguém, afinal de contas, era a pessoa favorita dela.

— Eu posso ir? Quero dizer, ir com elas... — digo a primeira coisa que me vem a cabeça, esperando que fique claro o quanto eu não quero falar sobre isso. — Eu gostaria de poder conhecer Maeve melhor.

Natasha assente, eu só posso imaginar o quão estranho deve estar sendo para ela me ouvir dizer que gostaria de conhecer a minha sobrinha, quando provavelmente, eu já me cansei de conviver com ela. Mas eu não a conheço, infelizmente não, nem mesmo em meio a todas aquelas fotos e vídeos, eu consegui me lembrar.

— Isso tudo é uma merda. — ela murmura, descontraída e apesar de perceber que foi claramente um pensamento que escapuliu em um desabafo, eu não poderia concordar mais.

— Como eu olho para a minha sobrinha e digo que não faço ideia de quem ela é, que não me lembro quando faz aniversário, por exemplo? — eu quero chorar ao também, desabafar aquilo para ela, me dói no peito por simplesmente não ser capaz de me lembrar.
— Ou como eu explico para a Kate que eu não me lembro de ter estado no casamento dela com a minha irmã, de ter sido madrinha, mesmo quando ela insiste em continuar me contando a mesma história de como tudo aconteceu? Eu odeio essa amnésia idiota!

Eu estou tão revoltada e irritada e brava, tudo ao mesmo tempo, que apenas me dou conta de que estou chorando, chorando pra valer, quando dois braços firmes envolvem o meu corpo e, eu não preciso abrir os olhos para saber que é Natasha ali, me segurando, me abraçando e confortando. O seu perfume marcante invade o meu espaço, isso seria algum tipo de lembrança? Porque eu sinto como se já o conhecesse e tivesse sentido a tanto tempo.

— Eu odeio não poder fazer nada para reverter essa situação de uma vez por todas. — meus soluços são vergonhosamente altos, mas eu não me importo, parecia seguro, ela me fazia sentir segura, ali e agora.

Natasha me aperta forte e as suas mãos são precisas ao passearem pela a extensão inteira de minhas costas e músculos tensos, em uma carícia calma. Eu me encolho sem vergonha alguma contra o seu peito, feito um filhotinho assustado que sem querer caiu dos braços da mãe, e quando ela me carrega com cuidado para cima, eu não tenho forças nenhuma para recusa-la e se eu estou sendo bem sincera, eu não quero negá-la.

...

Eu me sinto exausta, os meus olhos estão ardendo, o meu peito ainda dói e para completar, o meu nariz está entupido, após passar minutos e mais minutos chorando e fungando no colo de Natasha, ela por sua vez, não deixou o meu lado nem mesmo para ir ao banheiro, não disse nada, mas permaneceu por perto, por mim e para mim.

Mesmo quando eu não a mereço, mesmo quando eu a rejeito, ela continua ali.

Foi preciso eu me ver cair e ter ela, a única capaz de me reerguer, para finalmente começar a me dar conta do quão verdadeiramente incrível ela é, e com essa percepção, com isso, eu também me dei conta de que eu não posso tê-la para mim, não é justo, eu não posso prendê-la assim, eu já fui egoísta por tempo demais, é cruel e eu a faço sofrer, pode ser que eu nunca mais me lembre de já tê-la amado alguma vez, pode ser até que eu nunca consiga amar a mesma pessoa, duas vezes em uma vida.

Isso não está certo, nós não estamos certas.

Já estava mais do que na hora de entender que isso, essa relação, deixou de ser algo bom, deixou de ser bonita, não é mais saudável para nenhuma de nós, ou para as pessoas em nosso convívio, para Cecília de todas as pessoas, ela era quem importava realmente.

Era hora de entender que eu e ela, Natasha e eu, estávamos fadadas ao fracasso.

True Love ↷ Natasha Romanoff. Onde histórias criam vida. Descubra agora