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15 DE NOVEMBRO DE 2023.

Os dias passaram mais rápido do que eu me dei conta, mais rápido do que eu gostaria, basicamente quando ambas as minhas companhias diárias não estavam ocupadas, estudando ou fotografando, passávamos o restante do tempo dentro de casa, assistindo a desenhos e comendo variados tipos de besteiras. Eu não concordava que era saudável para Cecília, em especial, comer de forma tão não saudável em excesso, enquanto para Natasha não parecia lá grande coisa, embora ela tenha deixado claro que nem sempre era perfeita, a levando para comer em lanchonetes e sorveterias toda vez que ficava encarregada de buscá-la na escola.

Em relação aos meus dias, eu ficava sozinha, entendiada, Natasha deixou claro que a minha semana, com memória ou não, nunca era tão especial, segundo ela, basicamente eu passava os dias enfiada em meu centro cultural, ou na casa do lago, podia não parecer, mas eu apreciava a companhia de meus pais, principalmente agora, com Cèline grávida, usufruindo do seu privilégio como filha e passando mais tempo lá do que em sua própria casa, eu me sentia uma adolescente outra vez.

Resumindo, eu sou sim uma encostada, exceto nas quartas-feiras e sextas-feiras, quando eu costumo dar aula.

Confesso que fiquei um pouco decepcionada comigo mesma, eu nunca fui tão atoa em toda a minha vida.

Suponho que é o preço que eu pago por ter sido tão burguesa a minha vida inteira.

Hoje quem levantou um pouco mais cedo do que o habitual foi eu e eu também quem preparou todo o café da manhã, como uma forma de agradecê-la –, acontece que separar alguns pães e colocá-los devidamente sobre a mesa não era assim tão difícil, tudo o que eu precisei fazer foi... tentar. 

Eu estou ansiosa, mas pelo visto, Natasha está muito mais, ela não pregou os olhos durante a noite, o que, já que mencionei, acabou por roubar um pouco do meu sono também, eu ainda estava cansada. Ela não parou por um só segundo, nem mesmo quis se sentar para comer direito, como se o fizesse, fosse acabar explodindo, tirou também uma folga do trabalho apenas para me acompanhar no médico hoje, desmarcou com todo mundo, não era exagero.

— Está na hora, Davina, vamos? — Natasha para na porta da cozinha, eu ainda estou comendo, eu quem preparou Cecília para sair com Wanda essa manhã também, o que me demandou mais tempo do que deveria, mas me levanto, eu não pretendia fazê-la ainda mais nervosa do que já estava. — Pode terminar no carro. — ela sugere

— Tudo bem, vamos então. — eu termino as pressas o suco de morango e pego uma maçã no cesto no centro da mesa de vidro e passo por ela, tendo o vislumbre de um sorriso pequeno e apagado, ali eu soube que ela não estava em um bom dia.

E quem é que estava?

...

Natasha permanece calada e quieta, estamos em um silêncio melancólico, exceto pelo rádio do carro que toca música, a manhã toda ela tem estado assim, quieta, com a boca, eu quis dizer, em compensação a seu cansaço físico, ela não falou muito. Incrivelmente temos nos dado bem nos últimos dias, eu ainda não gosto dela, não... apenas a suporto, mas já não é mais tão ruim assim a tolerar quanto era antes, estou me esforçando o máximo que posso para não acabar sendo grossa com ela.

Quando começa a tocar Mine by Taylor Swift, o silêncio deixou de ser melancólico e se tornou em algo romântico, ou o mais perto de romântico possível, bom, era Taylor Swift, como não fazer tudo sobre ela ser romântico?

Eu não olhei para ela, Natasha, eu quero dizer, não a olhei, mas sentia a sua imensidão verde queimar sobre mim durante cada segundo da música, como se ela me perguntasse se eu sentia também, aquela foi a nossa música.

True Love ↷ Natasha Romanoff. Onde histórias criam vida. Descubra agora