Uma vez que passamos pela portaria e cumprimentamos o senhor de cabelos grisalhos, usando macacão azul e boné, que por sinal, pareceu me conhecer muito bem e quase até se desculpou quando soube de minhas condições, como se ele próprio tivesse roubado as minhas lembranças –, eu me soltei do aperto da mão de Natasha, e passei a caminhar alguns passos em sua frente, encantanda com tudo a minha volta, até mesmo os bancos ao canto postos para espera, tinham lá o seu charme.
— Sra. Romanoff! — uma moça de franja e cabelos curtos castanhos, talvez uma adolescente, a sua aparência definitivamente era a de uma adolescente, diz, usando de um tom empolgado, enquanto corre até mim e Natasha, que para logo atrás. — Eu não sabia que vinha hoje, já está se sentindo melhor? Oh, que bom, eu estou tão feliz por você.
Ela disparou a falar e eu, sem fazer a menor ideia de quem era aquela garota e o porquê ela se referia tão íntima a mim, peço socorro com o olhar, a ruiva sorridente, agora ao meu lado.
— Olá, América. — Natasha passa em minha frente e retribui, educada, o seu aperto de mão amigável. — Davina não está completamente bem, para ela ainda tudo é meio confuso. — explicou pacientemente, então a garota, que agora eu sabia o nome, América, se inclinou parcialmente para a sua esquerda, me olhando com pena, encolhida como uma criança desamparada, atrás de Natasha.
Ela sussurra um breve pedido de desculpas pela forma euforica como me abordou, diz sentir muito, como todo o mundo, e se vai.
Tá legal, isso foi vergonhoso.
Em silêncio, eu a observo desaparecer para dentro do que pareceu ser um banheiro para famílias com crianças pequenas, uma ideia genial, aliás – até perceber a mão assistente que me guiava através dos extensos corredores.
— Percebe que em cada sala, ensinam diferentes tipos de artes? — pergunta, sinalizando especificamente a próxima sala qual paramos, onde um grupo de crianças se divertem dançando e rodopiando entre si.
Eu sei que estou sorrindo, assentindo para ela, como se eu tivesse ganho o meu presente de Natal, esperado por mim, durante todo o ano.
— Eu estou feliz que tenha me trazido até aqui. — eu apenas percebo que disse aquilo em voz alta, quando a sua mão segurando a minha, me acaricia, mas não me importo, o pouco que vi, trouxe de volta um sentimento de nostalgia que eu gosto de ter para mim.
— Papai e mamãe eram voluntários em um centro assim. Minha irmã e eu, bom, mais eu, Cèline se perdia entre as crianças e se passava por uma criança órfã apenas para fazer os adultos chorarem. — escuto ela rir, em um movimento afirmativo com a cabeça, como se já tivesse escutado aquela história antes, mas não me interrompe, realmente interessada. — Fazer parte de algo importante, mudou completamente a minha perspectiva de mundo, eu prometi que o faria para o resto da minha vida.— É muito boa em cumprir suas promessas, não é, dona Davina? — brinca, antes de acenar, me pedindo para que eu a siga para dentro daquela mesma sala, com as crianças dançando.
Elas param, ignorando a música, assim que nos veem passar pela porta, bom, estão empolgadas mesmo é em ver Natasha, elas correm até ela e clamam todas ao mesmo tempo, por sua atenção.
Que tipo de pessoa faz de mim, se eu assumir que quero muito me desmanchar em lágrimas? Não porque eu estou chateada por não terem gritado o meu nome também, mas eu vejo todo o meu futuro nesse lugar.
Boa parte dele.
Este lugar é meu, meu!
Finalmente, ao ter essa percepção, eu sei agora que não falhei comigo mesma, não falhei com os meus pais ao prometer continuar com o trabalho bom que sempre fizeram, e... o mais importante, eu não falhei com aquelas crianças e adolescentes.
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True Love ↷ Natasha Romanoff.
FanfictionJá pensou na possibilidade, de que um dia, você poderia estar indo dormir uma adolescente e na manhã seguinte, acordar na cama, ao lado da pessoa mais deplorável da face da terra e, pior ainda, descobrisse que não apenas disse sim a ela, como também...