manteiga de amendoim.

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Minha cabeça não só parece que vai explodir, como também está uma enorme bagunça aqui dentro. Talvez seja por isso que dói tanto, talvez, devesse explodir, assim a bagunça iria pelos ares de uma vez, e aí seria problema para uma outra pessoa lidar.

Eu não consigo encontrar uma solução para isso tudo e não faço ideia do que fazer, ou em que direção seguir, por onde começar.

Como o destino ou seja lá o que ou quem for o responsável por estarmos aqui hoje, vivos, respirando –, brinca comigo dessa forma? Por que da mesma maneira como eu fui dormir e acordei no outro dia sem me lembrar, eu não posso fechar os olhos e ter toda a minha vida de volta, assim, num simples piscar de olhos? Não deixaria tantas pessoas cansadas, ou magoadas, eu inclusa.

De olhos ainda fechados, passeio com a mão pelo colchão pequeno e sinto o corpinho de Cecília encolhida ao meu lado, ontem após subir de volta para o quarto, aos prantos, eu me deitei com ela e agarrada a ela, como um ursinho de pelúcia, eu chorei até dormir – devagar me forço a abrir os olhos, está ardendo depois de toda aquela choradeira que eu arrumei, mas eu não tenho tempo de me lembrar da forma como eu me senti, a minha pequena estava bem ali, descansando serena.

Eu a observo me envolvendo para que eu não caísse da cama, é definitivamente a melhor visão para se ter de manhã, logo ao abrir os olhos pela primeira vez. Soa como um sonho que é doloroso sair da cama e deixá-la ali, mas com muito esforço, eu o faço, mas não saio antes de beijar Cecília na testa, que apenas resmunga, antes de se virar para o outro lado.

Minha filha... isso soa melhor ainda, mesmo que somente em minha cabeça. Eu me orgulho em tê-la como filha, em saber que sim, ela é minha. Cecília é uma excelente garota, eu já disse também inteligente, obediente e carinhosa? Ela era tudo isso e muito mais, nem em meu mais perfeito dia, eu poderia ter sonhado com ela, ela era... única.

Caminho direto para o banheiro no corredor e limpo o meu rosto, esperando afastar o cansaço que ainda ficou.

Nem mesmo sei que horas são agora, mas provavelmente cedo, considerando o quão quieta a casa estava.

Eu mal pisei no corredor quando me esbarrei com alguém, cambaleio alguns passos para trás e afasto a mão da testa, após massagear a área atingida, procurando ver quem poderia ser com tanta pressa que me atingiu em cheio.

Yelena.

O seu rosto amassado e os cabelos sempre perfeitos, agora com alguns fios loiros fora do lugar, deixa claro que ela também acabou de acordar, dormiu aqui, eu deduzo.

— Me desculpa, eu não vi você. — ela se desculpa primeiro, um tanto quanto sem jeito – para deixar registrado, aquela era a primeira vez que eu via Yelena Belova sem graça por algo.

Eu esboço um sorriso meia boca em sua direção e noto Yelena me examinar profundamente, eu a sinto querer dizer algo e engulo em seco, torcendo para não ser um sermão, não a essa hora da manhã.

— Bom dia.

— Bom dia. — responde no mesmo tom, não nos olhamos mais, porém ainda permanecemos paradas no mesmo lugar, aquilo me incomoda, parecíamos dois animais encurralando a sua presa.

— Quer me dizer alguma coisa, Yelena? — ela pressiona os lábios e, me olha para no mesmo segundo desviar o olhar.

— Não... — ela era uma péssima mentirosa, mas eu não insisto, ao meu ver, foi uma escolha sabia de sua parte, não falar. — Eu já estava indo embora, pode avisar a Nat quando ela acordar?

— Tudo bem. — confirmo.

— Então... tchau, Davina. — aceno de volta para ela que já está com os pés no primeiro degrau, mas para antes mesmo de descer.

True Love ↷ Natasha Romanoff. Onde histórias criam vida. Descubra agora