"-Você vai ser minha de novo -Matthew declarou, com a voz mais rígida, do que carinhosa- Não me importa quanto tempo vai demorar. Não me importo se você vai resistir. Mas acontecerá."
Quando o amor pareceu não ser o suficiente para mantê-los juntos...
We went for a drive, 2:30 in the morning I kissed you, it was pouring We held each other tight Before the night was over
—Sara Kays
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As coisas na casa de Matthew foram bem diferentes do que eu achei que seriam. Bem mais demoradas, inclusive.
Cheguei no meio da tarde, esperei eles dois se recomporem do que quer que tenha sido aquela briguinha, nós pedimos almoço, conversamos para caralho sobre as referências do álbum e sobre mais um monte de coisas relacionadas a músicas e, quando fomos perceber, anoiteceu sem que tivéssemos feito nada.
Mas eu gostei. Eu gostei de ter almoçado às quatro e meia da tarde, no chão com eles, com aquele monte de papéis, instrumentos e fios espalhados pelo estúdio caseiro de Matthew, gostei de ter conversado tanto com eles e de ter percebido que tínhamos nos livrado de qualquer clima esquisito. Dylan nem falou nada ácido comigo, apesar de eu perceber algumas caretas, de vez em quando.
Depois de um tempo, criamos disposição para trabalhar de verdade, e acho que aquela tranquilidade estabelecida nos ajudou a fluir bem. Parecia que estava tudo claro em nossas cabeças, sobre melodias anteriormente descartadas, sobe ideias de progressão e todos os outros elementos que precisávamos falar sobre.
Afinal, tínhamos muitas letras por aí, e pouquíssimas melodias claras ou bem feitas. E estávamos bem dispostos a fazer uma coisa que fizesse sentido. Não um compilado de músicas que -por mais que fossem boas- não tivessem nada a ver entre si. Não. Nós queríamos que a ideia fosse crescente, tanto nas letras, abrangendo, a cada faixa que passava, relações mais complexas, quanto na sonoridade.
Hoje, tínhamos avançado mais do que no resto da semana inteira, e eu percebi isso quando Dylan disse que estava cansado para caralho, e foi dormir. Já eram quase duas da manhã, quando eu e Matthew fomos em direção ao carro dele.
—Eu te deixaria dirigir, mas você arranhou-o inteiro, da última vez.
Eu bufei uma risada, depois de vê-lo abrir a porta do passageiro para mim. E eu nem ia me defender. Muito menos acusar Maya, que também tinha usado-o no dia em que dormi aqui, porque eu era a culpada mesmo. Arrastei o Audi cafona de Matthew em um monte de arbustos.
—Eu, normalmente, não sou uma má motorista. -mentira- Eu apenas estava bemmm transtornada, naquele dia.
Matthew deu uma risada, como quem se lembrava de tudo. Aquilo devia fazer umas duas ou três semanas, mas, ainda assim, parecia um século.
O dia em que dormi aqui, depois de tomar um porre gigantesco e deixá-lo cuidar de mim, pareceu ter mudado tudo em minha cabeça.
Eu não sabia que tinha ficado tão ressentida com o nosso relacionamento, até confessar a ele, quando eu estava completamente embriagada. E eu não imaginei que Matty seria gentil a ponto de não citar nenhuma daquelas minhas palavras depois, e muito menos de me deixar dormir com seus travesseiros de penas de Ganso.
