88 | Matilda

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Matilda, you talk of the pain
like it's all alright

—Harry Styles

Desço de mãos dadas com Matthew, e à medida que meus pés tocam o chão da casa do meu pai, começo a notar as pequenas mudanças ao meu redor, coisas que apenas eu perceberia

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Desço de mãos dadas com Matthew, e à medida que meus pés tocam o chão da casa do meu pai, começo a notar as pequenas mudanças ao meu redor, coisas que apenas eu perceberia. Cada vez mais livros ocupando espaços que antes eram vazios, cada vez mais objetos da esposa atual dele, pequenas marcas de uma vida normal. Espalhadas pela sala, algumas revistas minhas também se faziam presentes.

A mulher ali estampada parecia uma estranha, distante de mim, o que era um baita sentimento esquisito. Ao caminhar por aquele corredor, cercada pelas memórias congeladas nos porta-retratos, era difícil me conectar com essa imagem. Como se, naquele espaço, minha fama e relevância não fossem reais. O rosto que sorria nas fotografias antigas ao lado do meu pai, o riso despreocupado de uma garota muito mais jovem, contrastava com o peso da persona pública estampado nas manchetes. E, por algum segundo, eu me perguntava se isso também acontecia com Matthew.

Eu imaginava que sim. Talvez, não na casa da sua mãe, que fazia anos e mais anos que ele sequer trocava uma palavra, e, imagino que não na mansão egípcia do seu pai, onde o homem tinha uma família totalmente alheia da vida de Matty. Mas... com os garotos, quem sabe. Com quem ele cresce ao redor, desde o ensino médio. Com quem ele compartilhou partes da sua vida que ninguém mais conheceu...

Um sentimento conflitante começa a subir no meu peito. Eu estava com saudades. Saudades reais, do tipo que aperta o coração e faz os olhos marejarem. E, ao mesmo tempo, havia a culpa por ter feito tão pouco esforço para ver meu pai, nos últimos tempos. Apesar de tudo, eu tinha sorte de tê-lo. E eu não queria me tornar distante, enquanto ele ficava cada vez mais velho e imerso em seu mundo particular, de cidades pequenas e literaturas difíceis para ocupar a mente.

—Você estava tão confiante de que queria vê-lo, e agora parece nervoso para cacete. – Falo para Matty, logo depois de ver as expressões em seu rosto.

—Estou conhecendo o meu sogro, Ammy. – Ele ri, mas há um nervosismo palpável no som. — É um momento importante na vida de um homem.

Eu olho para ele, notando o visual um pouco diferente do habitual. Matthew estava com uma camisa mais comportada, nada de couro ou de mostrar seu corpo como a vitrine das tatuagens ali presentes. Hoje, ele estava... mais simples. Quase formal. E parte de mim, achava que aquela aparência era um modo de afastá-lo de lembranças...

—Você já o conhece. Não conta. – Solto uma risada leve, tentando aliviar a tensão que já se instalava.

—Mas a recíproca não é verdadeira. – Ele responde, com um ar mais sério. — Eu... não estava sóbrio, naquele dia. Ou naquele ano, enfim.

Minha mão aperta a de Matthew um pouco mais forte e damos o próximo passo rumo à cozinha. E é justamente quando eu encontro sua silhueta de pouco menos de 1,80 de altura, com cabelo branco e pele rosada, à nossa frente. Imediatamente dou um sorriso.

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