Parte 3

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Pat tinha acabado de fazer quinze anos e seu presente de aniversário foi colocar aparelho nos dentes. Essa foi a piada entre seu pai e seu tio. Pran riu junto com o pai e Pat ficou com raiva. O dentista falou de algumas correções que precisavam ser feitas, provavelmente causadas também pelo acidente na infância, ele não sabia o real motivo, mas acreditava que era tudo por causa disso.

Pran sorria com suas malditas covinhas sempre que o via. Pat tinha certeza de que ele fazia isso só para mostrar seu sorriso perfeito e encantador. Se não fosse por ele e a aquela bicicleta inútil, ele não estaria passando por isso hoje.

Os jantares e festas das famílias estavam cada vez mais insuportáveis, eram uma tortura porque seus dentes doíam e ele tinha que tolerar e disfarçar a raiva cada vez maior que nutria pelo vizinho.

Ele e sua irmã passavam muito tempo juntos, Pa mostrava todas as suas bonecas idiotas, seus ursinhos e ele ria com ela. Ele não se incomodava quando ela mexia no seu cabelo e o prendia com elásticos coloridos.

"Você parece um idiota assim!" Pat disse quando ele estava sozinho, sentado no chão perto das tralhas dela "Parece um palhaço."

"Eu posso até parecer um palhaço, mas você é um! E nem precisa de acessórios para isso!"

Pat tentou chutá-lo, mas Pran ficou de pé num pulo.

"Um palhaço lento ainda por cima!"

"Vai à merda!" Pat virou as costas e foi para cozinha buscar água. Os adultos riam alto e isso dava dor de cabeça, então ele subiu para o quarto.

Quando o jantar foi servido, um dos pais gritou para que eles viessem comer e Pat não desceu.

"Vai lá chamar ele, filho!" Ming sempre o chamava de filho e Pran tinha uma certa aversão a isso, nunca passou pela sua cabeça ser irmão de Pat e pensar nisso provocava ânsia.

Ele subiu as escadas e entrou no quarto dele sem bater, mas Pat não estava lá. A luz do banheiro passava por baixo da porta e Pran resolveu esperá-lo.

Aquele quarto sempre foi familiar, Pat ainda guardava seus carrinhos na prateleira acima da sua escrivaninha junto com alguns livros. Pran se perguntava se ele sabia ler e riu da sua implicância. Suas coisas pareciam jogadas, misturadas aleatoriamente, sem nenhuma ordem, era difícil pensar que alguém poderia viver assim. Atrás da pilha de livros tinha uma revista caída e uma baqueta marcava uma das páginas. Pran a puxou e se assustou quando a porta do banheiro abriu, a baqueta caiu fazendo um barulho alto e a revista ficou completamente aberta. Pat o encarou por um instante e depois gritou:

"POR QUE VOCÊ ESTÁ MEXENDO NAS MINHAS COISAS?"

Pat arrancou a revista da mão dele, seu rosto estava vermelho e Pran percebeu que havia uma mulher nua ocupando duas páginas da publicação.

Por instinto, ele limpou a mão na camisa e se virou para Pat.

"Eu só vim te chamar para jantar, não estava mexendo nas suas coisas."

"Estava sim." Pat se aproximou e o puxou pela gola da camisa "Se você contar para alguém que eu tenho essa revista, eu quebro sua cara."

Pran deu um tapa na mão dele e o empurrou.

"Encosta em mim de novo que eu arrebento você, seu babaca! Punheteiro!"

Pran virou as costas e saiu do quarto, tentando desamassar a roupa. Um pouco depois, Pat desceu mal humorado e disse que seus dentes incomodavam. Ele mal comeu e voltou para o quarto.
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"Pat está cada dia mais difícil, queria que ele fosse como Pran, sabe? Educado e gentil! Pat está sempre brigando na escola, com a irmã, já vi até ele discutindo com Pran, você acredita? Eles são amigos há tanto tempo!"

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