Parte 18

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Pat entrou pela janela do seu quarto num pulo desajeitado, completamente sem ar, com o coração acelerado. Ele nunca imaginaria encontrar aquela cena e se deitou em choque, tentando não pensar no que tinha visto.

De manhã, durante o percurso de carro até a escola, Pat ficou com o rosto enterrado no celular e Pran ouvia música de olhos fechados.

Os dois mal se cumprimentaram e, assim que desceram do veículo, cada um seguiu por um caminho diferente.

O constrangimento de Pat não era só por ter visto tanta intimidade de Pran, mas por ter confundido os sinais e, sem ser convidado, invadir a privacidade do vizinho, seu espaço pessoal, compartilhando um momento tão íntimo. E se Pran achasse que ele tinha feito de propósito? Ele não era Chang.

Ele queria dizer a Pran que não viu muita coisa, apesar de ter visto muita coisa. Ele queria dizer que não olhou, mesmo tendo olhado. Era melhor não falar nada.
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Pran pensava que nunca tinha desafiado nenhuma entidade superior, sempre aceitou as coisas que apareciam no seu caminho, então porque ele estava sendo punido? Se sua vida não podia ficar pior, na noite passada, ficou.

Ele só lembrava de estar com calor, não cogitou a hipótese de Pat estar acordado e enxergar isso como um sinal para visitá-lo.

Pran se sentou no seu lugar na sala de aula, encostou a testa na mesa e seus braços ficaram caídos ao lado do seu corpo. Ele ergueu um pouco a cabeça e a bateu de leve na madeira. Ele repassava mentalmente a cena dos seus pais entrando deseperados e ele tentando esconder seu pau semi duro. Morcego? De onde ele tirou essa ideia imbecil? Ao menos seu pai tinha acreditado. Pran bateu a cabeça mais duas vezes na madeira até Wai aparecer e perguntar se estava tudo bem.

Pran gemeu um sim em resposta e quis morrer.
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O seu time nunca tinha perdido de maneira tão vergonhosa, o técnico estava desolado e seus companheiros não conseguiam erguer o rosto. Pat não sabia o que estava fazendo em campo e foi substituído logo no primeiro tempo, mas antes disso, o estrago já estava feito. Pran ficou ao lado dele no banco e mal conseguia enxergar a partida.

Ele seguiu com os colegas para o vestiário, trocou de roupa e saiu antes de Pat, mas para sua amargura, ele o alcançou em pouco tempo. Eles mantinham uma certa distância, porém as memórias agiam como um laço entre os dois. Um laço que os amarrava pelo pescoço em um nó apertado que os impedia de respirar.

Mais alguns passos e estariam livres, cada um iria para o seu canto.  

Definitivamente, Pran sentia que tinha ofendido alguma divindade, ele faria méritos, rezaria um terço, faria uma oferenda, imolaria um bezerro, qualquer coisa para se livrar desse mal agouro. Ao chegarem na rua onde moravam, o cheiro do churrasco na casa de Pran invadiu suas narinas.

Juntos, os dois expiraram em desagrado e arrastaram os pés até lá.

Seus pais comemoravam uma venda grande que fizeram em conjunto para atender uma empreiteira e os lucros do semestre já estavam garantidos.

"Vamos viajar!" O pai de Pran gritou, levantando sua cerveja e o pai de Pat brindou derrubando o líquido pela roupa.

Eles riam e se divertiam enquanto Pat e Pran sentiam seus estômagos afundarem, desacreditados do azar que tinham.

Pa perguntou se poderia levar Ink, sua nova melhor amiga, e seu tio concordou.

Pran olhou torto para o pai, afinal, teoricamente, ele e Ink foram namorados e era como se isso não significasse nada. Ele, enquanto filho, nem foi consultado sobre seus sentimentos. De fato, não existiam sentimentos, porém ele deveria ter se preocupado.

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