A manhã estava absurdamente quente e o dia mal havia começado. Ming estava parado ao lado do carro gritando para que Pat e Pa andassem logo. Pran cumprimentou o tio, que respondeu como geralmente fazia, no entanto seu olhar se deteve por alguns segundos a mais, como se o analisasse. Ele arrumou a mochila nas costas, incomodado com essa sensação de estar sendo investigado.
A discussão entre Pa e Pat fez os dois desviarem a atenção para a porta da casa.
“Eu não vou te ajudar!” Pa deu um tapa na mão de Pat, que vinha mancando atrás dela.
“Por que você não pode fazer isso por mim?” Ele falou alto com a irmã.
“Você sabe que não pode forçar o pé, não quer usar a muleta e eu que tenho que te carregar? Se vira, Pat!” Ela andou mais rápido, se afastando dele.
“Se eu cair a culpa é sua!” Pat dava um passo e arrastava um pouco a outra perna e parecia sentir dor.
“Usa a porra da muleta, Pat!” Pa gritou e viu o pai ficar bravo e fechar a cara “Desculpa!” Ela sorriu e acenou para ele.
Pran ajudar o namorado e Pa andou mais rápido.
“Ele é teimoso demais e quando está com dor é pior ainda.” Pa disse alto ao se aproximar de Pran “Tenho pena de você.” Ela sussurrou ao passar do lado dele.
Pran sabia o que ela queria dizer e sorriu para o namorado, antes de abraçá-lo pela cintura.
“Você é chata, Pa!” Pat se escorava em Pran e gesticulava para a irmã.
“Anda logo ponto-e-vírgula! A gente está atrasado.” Pa gritou, mostrando o dedo do meio para ele.
Pran riu do apelido dado ao namorado.
“Você também vai me zoar?” Pat fez um bico e Pran tentou disfarçar seu divertimento.
Pa entrou no carro e sentou no banco da frente. Para seu azar, seu pai havia visto e ouvido todas as palavras, gestos e comportamentos da filha e por isso ela ouviu um grande sermão sobre a linguagem vulgar que usou anteriormente e a falta de cuidado com o irmão.
Pat ainda estava bicudo por causa dos comentários e riu quando o pai começou a chamar a atenção dela. Depois de alguns minutos ouvindo o pai falar, ele teve pena da irmã, porque não gostava de como ela estava sendo repreendida e tentou intervir, mas seu pai não permitiu que ele falasse. Pran segurou sua mão e sorriu em solidariedade e ele se distraiu.
Pa estava emburrada e Ming tinha parado de falar. No banco de trás, os meninos olhavam pela janela, cada um com o rosto virado para um lado, porém, mantendo suas mãos unidas sobre o banco.
O carro estava parado no semáforo no mais completo silêncio, todos perdidos em seus pensamentos. Ming tentou falar com a filha, que estava com os braços cruzados, virada para porta, quase de costas para ele. Ele girou o corpo para chamá-la, contudo antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele viu, de relance, as mãos dos garotos entrelaçadas no banco de trás. Ming se virou para frente, ajeitou o espelho retrovisor, porque ele precisava confirmar se não tinha sido uma ilusão de ótica. Ele prendeu a respiração. Não, não era uma impressão, seu filho e Pran estavam de mãos dadas de novo.
Seus polegares se acariciavam e, mesmo que não estivessem se olhando, ambos pareciam confortáveis e familiarizados com isso. Eles eram amigos e se conheciam desde sempre, era óbvio que existia carinho ali. Quando eram crianças não havia muito afeto entre eles, não é? Ming lembrava que constantemente separava brigas dos dois. Até algum tempo atrás, os dois discutiam muito. Agora estavam o tempo todo juntos. Não, não tinha nada a ver, Pran estava cuidando dele porque estava machucado. Era uma amizade linda. Pran deu banho em seu filho e cuidou dele, assim como Ming tinha feito com a esposa ao se conhecerem.
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Tic Tac Toe Bad Buddy Multiverso
FanfictionE se Pat e Pran fossem criados juntos? E se não houvesse brigas entre as famílias? Essa história começou com um pensamento aleatório e foi tomando forma e crescendo dia a dia e eu não consegui ignorar. Tic Tac Toe, ou Jogo da Velha, é uma brincadei...