Mal soltou um gemido de satisfação, se esticando na cama quando sentiu o vento do ventilador atingi-la.
Estava fresco, pela primeira vez em uma semana: os dormitórios da faculdade não tinham ar condicionado ou qualquer coisa que os deixassem frescos durante a noite. Óbvio que ela, como dama da corte, só teria esse conforto na casa de Ben.
Apesar disso, sabia que estava no dormitório, então em algum momento durante a noite, Ben havia mandado levar até ela um ventilador, pois as temperaturas estavam estourando recordes em Auradon, e, sinceramente, era quase um inferno dormir de conchinha quando se fazia trinta e oito graus.
Mesmo assim, quando abriu os olhos naquela manhã, Mal se sentiu confortável.
Estava fresca, deitada de conchinha com ele, sobre sua beliche, onde ninguém poderia incomodá-los.
As mãos do menino passavam levemente em seu cabelo púrpura, como se estivesse com medo de acordá-la ou feri-la a qualquer instante.
—Humm... cafuné foi a melhor coisa que Auradon já inventou.—Sussurrou ela.
Ele apenas soltou uma risada nasalada, prosseguindo com os carinhos enquanto usava a outra mão para gruda-la ainda mais a si.
Então, a garota de cabelos púrpura fechou os olhos, se concentrando apenas no carinho.
Ben sabia o quanto ela amava carinho.
Ela sentiu quando as mãos do garoto fera escorregaram até seu ventre, acariciando o pequeno volume.
—O que acha de Mabel?—A voz rouca dele soou, fazendo cocegas em sua nuca.
—Mabel?
—Sabe... para nossa filha. É bonito para uma rainha. É forte. E... é a mistura de nós. Sabe? Mal e Ben, Mabel.
—Pois parece nome de cachorro.—Pontoou ela, fazendo o noivo rir.—E não pode pensar só em nome de menina. Você não sabe.
—Como não? Você já sonhou com ela. Eu já... eu só consigo me ver sendo pai de menina.—Gaguejou Ben.—E... —Ele fez uma pausa, e os dedos dele encontraram uma cicatriz próxima ao ombro da noiva.—Quer... me contar dessa daqui?
Ben era ciente de tudo de ruim que havia acontecido na ilha. Ele sabia de tudo, até porque seu escritório agora recebia todas as denúncias de maus tratos, e elas chegavam em centenas da ilha dos perdidos por dia.
Mas naquela noite, quando havia tirado a pureza dela, e a viu sem roupa pela primeira vez, encontrou inúmeras cicatrizes. Desde então, sempre que podia, perguntava de uma delas.
Um dia conheceria todas. Por enquanto, gostava de ouvi-la por para fora toda sua dor, e então a afagava para faze-la lembrar que agora estava bem. Agora estava segura e que ele jamais deixaria ninguém machuca-la.
—Eu... acho que foi uma das primeiras cicatrizes que eu consegui.—Murmurou ela. Os olhos ainda fechados enquanto se acolhia. —É do dia que meu pai saiu de casa. Eu tinha uns... três anos? Por aí.
—Mas... como?
—Ah... por volta dos meus... tres anos, eu era uma criança normal que vivia em situação de pobreza. Então eu não era o que se pode chamar de vilão, sabe? Eu era uma miniatura de gente que corria e brincava até com os tijolos da calçada.—Contou ela, se virando para olha-lo agora nós olhos.—Minha mãe não achava isso tão interessante porque, segundo ela, por mais que seja difícil de acreditar, naquela idade já amaldiçoava reinos inteiros. E... bom... com três anos, eu não era exatamente alguém que parecia que em algum momento da vida, faria isso.
—Ah não... digo... você tinha três anos quando conseguiu a cicatriz?—Suspirou o rapaz, em indignação. Uma criança. Um bebê, praticamente.
—Não importou muito pra mim na época, na verdade. Eu achava que tinha feito algo errado, e por uns dias achei que tinha merecido mesmo. Depois esqueci. Criança é assim mesmo. Ela... ela me bateu e eu ainda achava ela incrível por cuidar de mim.—Deu de ombros, escondendo o rosto no peito dele.—Na noite anterior a isso, minha mãe tinha me levado para cometer minha primeira maldade, como algo histórico. Eu tinha um trabalho simples: pegar uma faca, e matar um gato. Achamos ele num beco qualquer, mas ele era so um filhote abandonado. Um gatinho preto.
Por mais que detestasse saber do tanto que ela havia sido judiada quando menor, parte dele sempre ficava entretido com as histórias, querendo saber do fim. Querendo saber em que momento ela dava a volta por cima.
—E eu era uma criança sozinha. Viramos amigos e eu não matei ele. Ele ficou... não sei, grato? Era um gato, e ele me seguiu para casa. Viramos amigos.—Mal prosseguiu.—Meu pai achava incrível que eu pudesse estar vivendo bem, mesmo com a situação precária. Eu tinha.. um ursinho medonho que o Jay tinha roubado por aí. E então éramos eu, o ursinho e o gato. E no dia seguinte, eu já tinha dado nome à ele, e estava brincando com ele no sofá quando minha mãe entrou na sala. Pegou a tesourinha que Evie usava para fazer as roupinhas da loja imaginaria dela e tentou acertar ele, mas eu era mais rápida e corri.
—Seu pai ajudava ela nisso, ou...?
—Ele era contra. Por isso ele foi embora. Ele não aguentava ver. Ele... ele chorava. Meu pai, apesar de tudo, era um bom pai, Ben.—Soluçou. —E... eu deixei o urso. Quando eu corri, sabe? Ela estava com o urso e a tesoura agora. Disse para eu soltar o gato. Todo mundo disse. Jay, Evie, Carlos, meu pai, a Rainha má, Cruella, todos eles. Mas eu era... eu era so uma criança. E ela cortou a cabeça do ursinho; eu chorei como se tivessem matado alguém da minha família, e o gato fugiu pela janela. Bom... estava desamparada. E ela tinha uma tesoura.—Deu de ombros.—Me acertou uma vez. A Rainha Má tirou ela de cima de mim. Sabe, cometer um assassinato não é algo bom em um lugar onde não tem como enterrar um corpo, e ter um corpo em decomposição em casa jamais seria legal.
Então, as mãos dele voltaram para o cafuné. Um carinho gostoso para conforta-la.
—Evie virou minha amiga porque ela era mais velha na época. Ela entendia. E ela costurou a cabeça do urso para mim.—Contou ela.—Quando me acalmei, lembro de meu pai dizer que iríamos embora, e perguntei... perguntei pra ele se iríamos para Auradon... e ele disse que ainda não. Mas em breve, eu poderia ter o que quisesse. Eu tinha... perdido muito sangue para uma criança. E eu desmaiei. Evie me deu pontos, Jay ficou comigo até eu estar cem por cento. Mas... bom... meu pai foi embora. E eu fiquei.
—Sinto muito.—Foi tudo o que conseguiu dizer.
—Não sinta... isso já foi há muito tempo.—Mal afirmou, querendo mudar de assunto, ou talvez, voltar para o assunto anterior.—O que acha de... Peter?
—Não é um bom nome de menina.—Piscou o homem, se acolhendo para aproveitar o calor do corpo da noiva, que ele não sentia há dias.—Mabel.
—Helena?
—O que tem contra Mabel?
—É nome de cachorro, Ben!—Ela gargalhou.
Benjamin sorriu, inclinando seu corpo para beija-la. Sua risada era o som favorito dele.
Depois de um beijo estalado, ele deu outro, e mais outro, até que a chave girasse na porta e ele obrigou-se a parar.
—Oh, você está aqui.—Bela sorriu, encarando o filho em cima da cama.—Além de não avisar que não vai dormir em casa, está atrasado pra trabalhar.
—Ah não...—Mal resmungou, se agarrando a ele.—Não tira ele daqui. Está confortável.
—Não trouxe ela aqui atoa, não é? Deixe ele ir.—Evie murmurou, parada agora ao lado de Bela.
Ben a encarou friamente, sem querer demonstrar o quanto odiou o comentário.
—E você, mocinha, precisamos conversar.—A antiga rainha encarou a nora, com um ar mais sério agora.—Ben, vaza.
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going crazy - História malen
ФанфикEnlouquecendo. Era assim que Mal se sentia desde que noivou o rei de Auradon. Mas seria essa uma coisa ruim? *não há mevie aqui* (postada também no Spirit)