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—Você... consegue ligar para o Ben?—Mal sussurrou, quando a situação no quarto parecia um tanto quanto calma.

A tempestade havia diminuído, mas ainda estavam sem energia. O celular de Mal havia ficado sem carga e ela sinceramente não se importava com isso, visto que encolhida em seu corpo, tinha uma menininha linda que ela amava de uma forma diferente.

Apesar disso, não tinha parado de sangrar desde o nascimento de Ellie, uma hora atrás. Estava se sentindo fraca, e temia que em breve não aguentaria acolher a menina sentada, do jeito que estavam.

Durante a primeira hora, Evie ajudou-a bastante. Colocaram na recém nascida uma fralda depois de um banho morno no chuveiro da faculdade - banho esse que a azulada deu com todo cuidado do mundo, visto que Mal nem conseguia se levantar. Agora, ela estava apenas de fralda e chupeta, enrolada em uma manta nos braços da mãe. Alheia a tudo que acontecia a sua volta.

—Quer avisar que ela nasceu?—Evie perguntou, sorrindo para a colega de quarto como não fazia há meses.

—Quero saber quando ele vai conseguir vir. Eu estou... eu... eu não paro de sangrar. Preciso de um médico, ou vou morrer com ela no colo.—Balbuciou a garota, afastando fios roxos de seu rosto.—Não é justo com ela, sabe? Ela... ela acabou de nascer. A única pessoa que ela sabe que existe sou eu, ela sabe que pode contar comigo. Não posso morrer.

E ela sentiu o que nunca havia sentido antes: medo da morte.

Seu pai era Deus do submundo.

A vida não foi gentil com ela como com a maioria.

A vida sequer importava tanto.

Mas agora ela tinha a infância de alguém para proteger. Ela não podia simplesmente ir embora e abandonar uma menininha pequena e frágil como aquela para ser criada por amas de leite do castelo.

—Eu acho que... deveria amamentar ela, mas não sei o que fazer. E se eu... e se fizer errado?

—Olhe, o que acha de, ao invés de ligarmos para o Ben, já que sabemos que não dá para ele sair do castelo em um apagão, nós... pesquisarmos o que fazer. Como dar a primeira mamada do bebê.—Suspirou Evie, vendo Mal abaixar a cabeça para encarar a menina.—E não fique com vergonha... é natural.

—Não é vergonha, só... meu peito não sai leite.

—O leite começa a ser feito depois do parto.

—Como sabe disso?

—Você saberia se frequentasse mais aulas da escola.—Debateu a azulada.—Olhe... já faz uma hora que ela nasceu, okay? Já deve ter leite aí. Tente.

A menina de cabelos púrpura passou os dedos devagar pelas bochechas da bebezinha em seu colo até desperta-la. Depois, abaixou as alças do vestido e entregou um de seus seios nos lábios da menina, que como se fizesse isso a todo momento, começou a sugar devagarzinho.

—Oh...—Mal gemeu.—Isso também dói. Por que ninguém fala que amamentar dói? Que merda!

Ela inclinou a cabeça, encostando a nuca na cabeceira da cama. Estava sem sangue e a criança tirava seus nutrientes. Se Ben não chegasse na próxima hora, acharia ela morta no Campus.

Ela precisava fazer algo a respeito. Nem que significasse usar magia - o que ele provavelmente reprovaria - para cuidar de si e da menina. Olhava para baixo, onde a Ellie alegremente era amamentada: as bochechinhas coradas e olhinhos atentos. Mãozinhas segurando o seio perto como se estivesse com medo de que a mãe partisse.

Os olhos de Mal brilharam fortes como esmeraldas, criando um balancinho para que ela apoiasse a bebê, removendo-a da mamada e fazendo ela chorar.

—Ei... tudo bem, eu 'tô aqui.—Suspirou a garota.—Não posso te dar isso por muito tempo, nós duas precisamos esperar o seu pai chegar e...—A garota da ilha parou ao notar os olhos da filha brilharem também, apesar do seu próprio já não estar brilhando.

going crazy - História malenOnde histórias criam vida. Descubra agora