shooting stars

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FLASHBACK ON

"Ele passa dos limites."

"Ele é só uma criança."

"Uma criança mimada e sem limites. Eu odeio ele."

As vozes abafadas soavam por trás da parede, fazendo o garotinho suspirar.

Ele encarava o teto de seu quarto, onde estava trancado de castigo. Era até divertido olhar porque sua mãe obcecada por literatura fez questão de decorar seu quarto com o tema de um livro antigo chamado "O pequeno príncipe." Haviam muitas estrelas e o lustre era em forma de planeta.

Muitas vezes Benjamin se pegou contando aquelas estrelas, mesmo que sempre parasse no vinte e dois porque não sabia contar mais do que isso. Era o que fazia quando seu pai o trancava no quarto como agora e gritava coisas que a mamãe falava que não eram de verdade, como por exemplo "eu odeio ele."

—Ele me odeia de verdade?—Ele inclinou a cabeça, buscando o olhar acolhedor de Madame Samovar, que dobrava suas roupinhas para guardar na gaveta.

—Não. Não tem como odiar você, capitão.

Capitão era seu apelido pois a mulher passava horas de seu dia com ele, e muitas vezes ele imaginava que comandava um navio para longe dali e descobria maravilhas na ilha que via de sua janela. Ele era o capitão. As vezes o marujo.

—Mas ele fala isso sempre. Ele fala que me odeia mas nunca falou que me ama.

Ben tinha três anos e oito meses. Ele pensava muito e era muito agitado. Era inteligente demais e sapeca demais. Sua mãe dizia que era porque ele estava descobrindo o mundo, mas nem todo mundo tinha tanta paciência com ele.

Seus cabelos loirinhos estavam sujos de barro assim como suas vestes. Sua barriguinha roncava de fome. E lá estava o principe: deitado no chão, se perguntando enquanto contava as estrelas, se seu pai o odiava daquela forma.

Uma.

"Você não pode dizer que o odeia. Ele é só uma criança. E é seu filho."

Duas.

"Se eu soubesse que passaríamos sete anos tentando para vir um idiota alienado, eu não teria tido um bebê sequer com você."

Três.

"Olha, eu não vou ficar aqui ouvindo você falar coisas tão terríveis sobre ele. Ele é meu garotinho..."

Quatro.

"Seria melhor se ele não existisse. Posso mandar dar um fim nele."

Cinco.

"Você se ouve?! Olha o tipo de coisa que diz sobre seu próprio filho! Ele é uma criança, e o que disse nem foi tão grave assim."

Seis.

"Ele disse que eu não faço nada que presta. Bela, ele tem três anos, que criança fala isso? Começo a pensar que ele só repete o que está ouvindo por aqui."

Sete.

"Me diz, ele mentiu?"

Oito.

"Como é que é?! O que quer dizer com isso?"

Nove.

"Naquelas suas... reuniões... você faz coisas importantes do reino? Ou você só está-"

"Cale-se."

Um barulho de vidro o distraiu da contagem. Benjamin se encolheu.

—Eu não queria que o papai ficasse bravo com a mamãe por minha culpa.—Sussurrou.

going crazy - História malenOnde histórias criam vida. Descubra agora