Ben colocou as duas caixas de morango na cabeceira da cama, mas Mal já estava deitada.
Ele tinha passado antes no quarto da filha como fazia todos os dias, deu um beijo e um abraço, desejando boa noite e trancando a porta, deixando um guarda de sentinela. - Ela tinha a cópia da chave, porém ele tinha muito medo de deixar a porta destrancada e ela ser machucada por um dos próprios guardas.
O rei se deitou, analisando a expressão neutra da esposa na cama. Ela estava acordada, mas imóvel e com os olhos fixos em algo distante. Sequer esboçou qualquer reação ao ve-lo em casa após o trabalho. Não quis tomar banho com ele, mesmo que geralmente fosse o tempo que tivessem para algo íntimo - mesmo que as vezes a coisa íntima fosse lavar o cabelo um do outro.
—Você quer falar?—Ele perguntou, já sabendo a resposta ao acolhe-la.
Estava tremendo. Assim que Ben a abraçou, ela começou a chorar, negando com a cabeça. Okay, talvez a experiência tivesse sido demais.
—Tudo bem, vamos deixar isso para lá, por enquanto.—Sussurrou o garoto, beijando o topo da cabeça dela.
Mal era a pessoa a qual ele mais conhecia bem. Sabia que quando estava daquele jeito, ficava quieta por horas e chorava bastante. Independente disso, ficaria abraçado com ela para garantir que ficaria bem.
—Você jantou?
Outra negativa.
—Ellie jantou?
Afirmativa.
Óbvio, Mal jamais deixaria a filha sem comer.
—Que tal eu lavar alguns morangos para você?
A menina se agarrou a ele com força. Não queria que ele saísse de perto, nem mesmo para lavar morangos na cozinha. Queria só estar ali, abraçada e recebendo carinho como estava agora.
—Okay então.—Suas mãos passeavam nos cachos da esposa.—Você precisa comer.
Novamente negou. Era normal, sempre negava quando não se sentia bem, porque acabaria por vomitar.
—Vamos nos acalmar, beleza? Senta.—Ele se sentou, erguendo a mulher com os braços.
Ambos agora cruzavam as pernas, sentados um de frente para o outro. Mal inclinada para frente e as mãos no rosto enquanto chorava.
—Respire fundo comigo, está bem? Um...—Ben puxou o ar junto com ela, respirando devagar.—Dois.—Novamente. Podia ver ela parando de soluçar aos pouquinhos, se controlando.—Três.
Mal não costumava ficar muito tempo chateada. Apesar disso, Ben nunca viu ela chorar tanto quanto alguns minutos atrás. Ela não era frágil, só guardava coisas por tempo demais, até que explodissem.
—Foi por isso que você nunca falou deles? Por que a lembrança te machuca?
—Sim.—Ela choramingou, se aproximando o suficiente para que Ben a abraçasse e ela escondesse o rosto na curva do pescoço do marido.
—Tudo bem. Você quer falar sobre isso agora que está mais calma?—Gaguejou o menino, tirando delicadamente os fios roxos do rosto dela, secando as lágrimas com beijinhos doces.
—Eles...—Mal se afastou, tirando a camiseta, pronta para contar mais sobre as cicatrizes.—Bom, acho que... algumas das vezes que eu apanhei, por ser criança, eu achava que merecia. Eu tinha deixado minha mãe chateada, e era tudo culpa minha. Eu sempre... sempre achei que eu merecia cada tapa. Mas... nunca entendi porquê eles ajudavam, sabe? Eu era um bebê. Eu...
—Você não merecia. Nunca mereceu, está bem?—Sussurrou.
—Essa... aqui.—Ela tocou, virando os braços para mostrar para ele a cicatriz que surgia no meio das costas e ia até o quadril.—Eu tinha quase três anos. Tinha dois ainda. Eles me amarraram no pé da cama e ela me bateu. Eu tinha... eu tinha chorado por estar com fome. Se eu tivesse só chorado, como qualquer outra criança, eu sequer lembraria, mas... eu... eu... apanhei por sentir fome. Lembro de pedir desculpas. Pra ela, sabe? Pra Malévola. Eu... falei "Desculpa, mamãe. Eu não vou mais chorar. Nunca mais."
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going crazy - História malen
FanficEnlouquecendo. Era assim que Mal se sentia desde que noivou o rei de Auradon. Mas seria essa uma coisa ruim? *não há mevie aqui* (postada também no Spirit)