boys and girls

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—Oi, Mal.—A voz soou quando a porta bateu.

—Você me chamou de que?—Mal paralisou, encarando a loira.

—Mal. Ben disse que é seu nome.—Ellie deu de ombros, caminhando com a toalha enrolada no corpo, chinelos, o cabelo pingando e a boia ainda nos braços.

—Ben não, papai.—O homem corrigiu.—E não chame sua mãe pelo nome.

—Vocês me chamam pelo nome.

O casal trocou um olhar, sem saber o que fazer. Aquela criança tinha uma língua solta e já era bem tarde, eles não sabiam contra argumentar.

—Eu te dei seu nome. Eu posso.—Mal resmungou, se abaixando em frente à menininha e segurando suas mãozinhas. —Mamãe não gosta que você chame pelo nome, okay? Vou ficar chateada. Pra você é mamãe.

—Está bem. Estou cansada, mamãe.—Ela bocejou, se aproximando mais para que a genitora fizesse carinho em seus cabelos.

—Vamos tomar um banho.—A garota puxou a criança para os braços, e se virou para o marido.—Vai tomar banho também. Use o banheiro do nosso quarto. Vou... Dar um banho nela e colocar ela para dormir.

—E o Austin?

—Está dormindo desde as dez.—Suspirou, caminhando com a menina nos braços.

(...)

—Posso te contar uma coisa?

—Qualquer coisa.—A garota da ilha respondeu no escuro, segurando a mão do marido por debaixo das cobertas enquanto se acolhia para perto dos músculos de seu braço.

—Quando eu era menor. Do tamanho da Ellie.—Ben reprimiu uma risada.—Eu odiava brincar com June porque ela não fazia nada. Eu subia nas coisas e sempre tinha que ajudar dela. Se me levantava tinha que pegar no colo e ela sempre vivia correndo atrás de mim. Eu achava um saco.

—Bom, pelo menos Ellie não puxou isso de você. Ela ama ser irmã mais velha.

—E nem de você, não é? Você não está muito contente com com ser irmã mais velha.

—Sobre uma criança nova? Não. Mas sabe o que nos interessa? Esse bebê vai nascer, meu pai vai cansar e vai embora. Sem ele estar morando no castelo, não teremos problemas em esconder uma gravidez futuramente.—Ela pontuou, explicando seu plano nada agradável que sequer a incluía.

—Enfim, continuando. Uma vez eu subi no braço daquela poltrona que tem nos jardins do fundo, e June queria subir também, então eu pulei para fugir dela. Prendi o pescoço naquele varal de corda e quase morri.—Contou.—A poltrona ficava lá para minha mãe olhar a gente enquanto brincávamos, mas ela não estava lá pela primeira vez. Eles me acharam algumas horas depois praticamente, June tinha corrido para fora do palácio e só tinha dois anos, um guarda pegou ela e meu pai veio atrás do irresponsável do filho com uma cinta. Me acharam no chão com o pescoço todo ensanguentado. Passei dias no hospital apagado. Foi a primeira vez que sonhei com você.

—Com seis anos?—Ela questionou.—A primeira vez que sonhei com você, estava perto de completar nove.

—Sempre fui mais adiantado.

—Sim. Quase morreu antes de mim.—Mal se virou de costas, permitindo que ele a abraçasse pelo quadril.

—Besta. —Declarou.— Só... estava pensando nisso porque meu pai sempre achou que eu era irresponsável. Desde bem pequeno. Mas... sempre fui eu quem assumiu todas as responsabilidades. Eu praticamente virei o homem da casa com quatro anos de idade.

—Você foi uma criança que teve de crescer rápido demais. Assim como eu. Isso não é legal.

—Eu sei. Mas... como ele pôde, sabe? Minha mãe passou parte do casamento tentando engravidar e me teve depois de quatro abortos seguidos. Então ele foi para a cama de outra mulher. Lembro que... no dia que June nasceu, ele não estava lá. O acompanhante dela era eu, e eu nem sabia o que tava acontecendo.—O rei murmurou.—Tudo que ela me ensinou ao longo dos anos foi ter responsabilidade emocional. E eu sempre estava lá, grudado na minha mãe porque eu sempre achava que ela precisaria de mim. Fosse para chorar e eu cuidar dela ou fosse para eu cuidar de June para ajuda-la. E fico feliz por ela ter me ensinado assim, mesmo tendo crescido rápido. Eu não me tornei ele.

going crazy - História malenOnde histórias criam vida. Descubra agora