Take me where my soul can run

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—Vossa majestade.—A voz do guarda chamou quando ele bateu na porta do quarto do casal, aguardando resposta.

Lá dentro, o rei ajeitou a coberta sobre a esposa, que se deitava nua enquanto dormia, sobre ele. A abraçou com cuidado para não acorda-la e iniciou carícias em seus cachos macios, dando autorização para a guarda entrar.

—Senhor, sei que é madrugada mas... bom, tem um rapaz exigindo falar com você agora.—Resmungou ele, dando espaço para o homem adentrar o quarto parcialmente escuro.

O rei queria se levantar para analisar melhor, mas estava nu por debaixo da coberta e acabaria expondo o corpo da esposa.

—Deixe-nos.—Disse ao guarda, se virando ao lado para deixar a garota se esparramar na cama.—O que quer Heat?

—Olhe... Ben. Posso te chamar de Ben, certo?

—Tanto faz.

—Eu... não tive chance de falar com a Mal desde que cheguei, e fazem anos. Queria que pudéssemos nos entender. Que pudéssemos ser uma família. Que minha filha possa ser amiga dos dela ou-

—Por que sinto que tem interesse nisso?—Murmurou Ben, de repente incomodado com a presença do homem.—Porra, Mal tem trinta anos... por que não procurou ela antes? Até mesmo na ilha antes dela vir para cá, por que?

—Olha, não é fácil como parece.

—É sim. Vocês abandonaram ela e nunca voltaram atrás. Você... você nunca vai conseguir conversar com a Mal hoje como se ela fosse a Mal criança que você conheceu, porque ela não é idiota.—Debateu o rei, se sentando e deixando seu peito exposto.—E eu não quero sua filha problemática perto dos meus filhos. Não se cria em Auradon crianças no estilo da ilha: toda semana recebo reclamação que sua filha matou aula ou roubou alguma coisa. E eu não estou nem aí porque não é problema meu, mas mês que vem ela faz dezesseis e se a guarda real trombar com ela por ai, vai para o centro de infratores.

—Benjamin, por favor. Mal é a única família que eu tenho. Ela já foi tudo para mim.

—Você ajudava a bater nela.

—Se não eu apanhava também!

—A abandonou para apanhar sozinha!

Mal se remexeu, deixando ambos em silêncio.

—Papai?—Resmungou a criança, caminhando para dentro do quarto e desviando do homem como se ele nem estivesse ali. O menininho coçou os olhos enquanto subia na cama.—Não consigo dormir.

—Oh Dante... precisa dormir sozinho na cama de menino grande, meu amor.

—Mamãe pode me dar leite no copinho de tampa e ficar comigo até eu dormir?—Insistiu o garotinho, acariciando os fios roxos da genitora enquanto ela cochilava.

Heat podia ver a semelhança. Os olhinhos brilhantes cheios de esperança, o narizinho empinado mesmo sem vontade, a boca fininha em cima mas rechonchuda por baixo, a pele clarinha e as sardinhas nas bochechas. Era a cópia de sua mãe, a grande rainha de Auradon, mas tinha os fios loiros do pai.

—A mamãe está dormindo.

—A gente acorda ela.

—E se eu fizer leite para você e te ninar igual a mamãe faz?—Perguntou Ben, ignorando o pobre cunhado que esperava para falar com ele e a esposa.

—Por favor.—Sorriu a criança gentilmente.—Vou esperar na cama, papai!

Dante era um anjinho gentil. Óbvio, assim como Austin, ele tinha preferência a passar certo tempo com a rainha do que com o rei. Afinal, a rainha era a sua mãe. A mamãe gentil que sempre dava colo e beijinhos. A mamãe favorita dele (mesmo que ele só tivesse uma). Mas era amigável com todos e nunca hesitava em pedir carinho, tanto para os pais quanto para seus irmãos mais velhos. Ellie vivia por ai carregando seu irmãozinho de agora seis anos pois agora já tinha dezessete e assumiria o cargo em cerca de um mês.

Interessante pontuar que Ben e Ellie não estavam se dando bem ultimamente pois... bem, ela cresceu e não era mais a menininha dele. E sim, ele a viu no ato.

Havia.... perdido sua pureza para Jake, quem a menina gostava de passar certo tempo junto. Ben jurou que eles eram só amigos e por isso não reclamou de deixá-los sozinhos enquanto ele acompanhava a esposa, os amigos e os filhos no festival da primavera. Mas a princesa não esperava que ele fosse voltar antes pois tinha uma reunião e... pegá-los no quarto dela.

O problema foi ter escondido, foi ter amado o herdeiro de Agrabbah em silêncio por anos, pois sim, Mal sempre o alertou mas ele não queria ouvir porque ela era só uma criança. E ele só não socou o moleque pois era filho de seu melhor amigo e não podia perder amizades, mas alertou o garoto que se a visse com a filha dele de novo, o próximo buraco que ele se meteria seria a cova.

Depois Mal se sentou com ele e bebeu alguns vinhos. Foram para cama e agora ela parecia uma pedra de tão pesado que parecia seu sono.

Com o filho fora do quarto, ele voltou a encarar Heat após uma pergunta.

—Quantos filhos vocês tem?

—Quatro. Ellie, Austin, Diana e Dante.—Comentou, puxando o roupão da cabeceira da cama e se embolando como podia antes de sair debaixo da coberta. Deu um beijo na cabeça da esposa para que ela descansasse bem sem ficar em estado de alerta e empurrou o homem para fora. Saiu junto com ele e fechou a porta atrás de si.—Eu não sei se ela quer falar com você. E, sinceramente, quero você bem longe dela. Mas não posso falar isso pois ela vai acabar tomando uma decisão com base no que eu acho, e não é isso que eu quero. Eu quero que ela esteja bem e feliz, independente de quem ela tem na vida dela.

—Engraçado você dizer isso sem me deixar falar com ela.

O tom da voz dele fez com que os guardas fora do quarto ficassem em alerta quando Ben ajeitou a postura para ficar mais ameaçador.

—Você não viu que ela está dormindo?

—Ela pode muito bem se levantar.—O garoto avançou de volta para a porta, mas o loiro entrou em seu caminho.

—Se foi incomodar ela agora, se ela mesma não te matar, sou eu quem vou.—Murmurou.—São duas horas da manhã, porra. Vai dormir.

—Não enquanto não conseguir falar com ela.

Tentou empurrar Ben, mas o homem era mais forte e sequer se moveu. Só virou e o atingiu, causando um escândalo e um tumulto entre os guardas.

(...)

—Por Zeus, o que diabos está acontecendo aqui?—Mal saiu do quarto enrolada em seu roupão, se deparando com Heat no chão com os lábios cortados e o nariz sangrando com Ben sobre ele.

—Mamãe!—Dante saiu do quarto, disparando para o colo da genitora, que o puxou para cima e acolheu.

—Mal!—O irmão chamou enquanto ela o olhava de cima para baixo com desdém.

—Vossa majestade para você.—Resmungou Ben se levantando e sacudindo as mãos como se doessem.

Ela os encarou.

Mal e ele já haviam tido aquela conversa sobre agressividade. Ben perdia a paciência muito fácil quando alguém o tirava do sério, e se fosse homem, ele saia na porrada quase sempre. As vezes saia machucado e não tinha como explicar isso para as crianças.

—O que você está fazendo aqui?—Ela ajeitou o filho no colo enquanto o irmão se levantava.

Deu um passo na direção da mulher, mas ela recuou um passo, esbarrando na  porta do quarto.

—Sai.—Dante reclamou.—Você tá deixando a mamãe com medo!

—Você não precisa ter medo de mim, Mal. Eu só quero conversar.

—Eu não quero. Vai embora.—Tremeu.

Mal parecia frágil. Parecia apavorada como tinha ficado naquele dia que Heat chegou e isso deixava Benjamin destruído porque mesmo com o passar dos anos e várias sessões de terapia, ela ainda ficava com medo quando os irmãos estavam no mesmo quarteirão. Por isso sequer apareceu quando Malévola morreu - ela não queria ver ninguém - e chorar não era opção na frente do rapaz. Trinta e seis anos e com medo semelhante a uma criança de três.

—Guardas.—Ben pediu.

going crazy - História malenOnde histórias criam vida. Descubra agora