mommy

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—Você não acha que ela vai se sentir abandonada? Sabe... como se estivéssemos largando ela.—Mal perguntou, sentada na beira da cama em uma segunda feira, passando hidratante no ventre certa manhã, quando Ben jogava dentro da mala alguns materiais para a menina usar no colégio.—Ela é uma criança. Tenho medo que se sinta como eu. Vai acabar com poucos amigos e com raiva dos pais.

—Como se ela já não tivesse poucos amigos e raiva da gente.

—Isso é motivo de deixa-la pior? Digo...eu vivia chateada e cheia de raiva e você me deu amor desde sempre. Eu era uma pessoa com ódio e você rebateu com amor. Se ela está com raiva, por que não só acolhemos ela?

—Mal.—Ele olhou para ela. Tão jovem e bonita sentada na cama, cuidando do ventre enquanto o menino dormia na cama bem pertinho dela. Austin era um anjinho e as vezes Ben pensava no quanto seria fácil se ele fosse o mais velho e Ellie a caçula.—Você já tinha dito que tudo bem. Esta voltando atrás?

—Não vejo o porquê de deixarmos de ser pais dela por birra.—Deu de ombros.—Crianças fazem birra. Ela é pequena demais para saber lidar com sentimentos de forma diferente dessa.

—Estou tentando ensina-la.

—Está mandando outra pessoa ensina-la.

Ele resmungou algo que não foi possível ela entender e fechou a mala, movimentando o zíper.

—Ela já foi matriculada.

—Ela já tinha sido matriculada numa creche e nós cancelamos um contrato.—Mal murmurou.

—Ela era doce e amável.

—Ela é doce e amável.—A mulher corrigiu.—Só... as coisas que a gente faz chateia ela.

—Tipo o que?—Ben cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas, encarando a esposa.

—Mandar ela para um colégio interno.—Resmungou.

O rei revirou os olhos.

—Talvez eu pudesse levar ela comigo para visitar minha mãe na ilha. Ela nunca conheceu minha mãe. Quando ver como ela me trata, talvez-

—Grávida. Nem pensar.—Interrompeu o homem.

—Você está impossível. Lembre que eu sou mãe dela também. E em momento algum assinei matrícula.—Ela insistiu.

—Só precisa de uma assinatura de responsável e o responsável sou eu. Agora, estou indo, vou deixa-la na escola e trabalhar.—Ele beijou-na na testa, depois se ajoelhou e beijou o ventre, caminhando para fora em seguida.

(...)

No sábado, Mal vestia seu vestido longo para impressionar os futuros aliados de Auradon. Conversavam Ben e ela com o rei e a rainha do outro reino, Austin agarrado na barra de seu vestido.

—Mamãe!—Os passos vieram agitados e uma garotinha loira cruzou o corredor com guardas apressados atrás dela.

Era fim de semana, e a primeira semana de aula já tinha ido. Óbvio, como puderam se esquecer que a menina vinha hoje? A verdade era que só Ben esquecera, porque Mal pensava na garotinha o tempo todo e todo dia.

A criança agarrou o quadril da mãe, tomando cuidado com seu ventre que guardava os irmãos. Todos pararam de prestar atenção na conversa porque agora Mal abraçava a menina de volta, os olhos enchendo de lágrimas enquanto ela se emocionava por finalmente receber um abraço de Ellie depois de tanto tempo.

—Oi, meu amor.—A rainha murmurou. Se estivesse em condições, colocaria ela no colo.—Você voltou!

—Sim.—Disse Ellie, soluçando por finalmente se sentir segura. Era ali, nos braços da mãe, que ela sempre se sentia bem.

—Venha.—Mal pegou na mão da menininha, deixando os líderes conversarem enquanto ela seguia para a cozinha.—Como foi na escola?

—Eu senti tanta saudade de vocês.—Suspirou a criança, abaixando a cabeça.—Por favor, mamãe, não me faz voltar. Minha amiga de quarto não é legal e as crianças só querem ficar comigo porque eu sou princesa.

—Como você sabe disso?

—Eles disseram que é interessante ser amiga de princesa e um dia poder conhecer um castelo. Eu não quero mais ir, mamãe.—Pediu.—Eu te amo. De verdade. Sei que o papai me mandou embora porque acha que eu não gosto de você, mas eu gosto. Só queria que pudesse me dar mais atenção as vezes.

Mal passou muito tempo impressionada que Ellie sabia fazer muitas coisas sozinha e deu atenção demais para Austin que não sabia, e em algum momento ela acabou deixando sua primogênita de lado. E ela sentia muito, muito mesmo, por ter se perdido no meio do caminho e deixado a menina de lado mesmo sem perceber. Sentia muito por ter se tornado uma mãe de merda quando na verdade só queria amar a menininha que criou com tanto amor.

—T-t-tudo bem.—Gaguejou.—Vamos dar um jeito, ouviu?

Ela entendia a sensação de ser separada da pessoa que mais amava. Lembrava de ter ficado extremamente bêbada na primeira vez de Ellie na escolinha, e foi a coisa mais triste que ela já sentiu, mesmo que ela tivesse passado por tanta coisa.

—Eu gosto de você. Eu... te amo. Me desculpa, mamãe. Eu não queria ser ruim.—Disse a herdeira.—Eu te fiz um desenho. Ficou na minha mala.

—Podemos ver ele. Vamos lá? Os guardas já devem ter deixado no seu quarto.—Sorriu a mãe.

Mal já tinha completado seu sétimo mês da gestação durante essa semana, e agora as duas crianças a deixavam inchada demais. Estar em pé e caminhando de mãos dadas com a filha mais velha, a deixava cansada e dolorida.

Tinha ali dentro um menino e uma menina. Dóceis e saudáveis. Ela era um pouquinho maior que ele, mas ele era mais pesado e assim ambos compartilhavam bem o espaço.

—Quando eu crescer, posso ser astronauta?—Ellie perguntou, tirando a mãe de seus devaneios.

—Você pode ser o que quiser.—Soprou de volta.—Só lembre que... bom, um dia vai ter de ser rainha.

—Eu posso ser uma rainha astronauta.—Deu de ombros, apertando o passo para o quarto, mas Mal parou de andar.—O que foi, mamãe?

—Pode chamar seu pai?

—Por que?

—Está vendo isso?—Ela apontou para o chão, indicando uma poça de água bem rasa.

—Você fez xixi?

—Não. A bolsa de água que protege os bebês quebrou. Então... bom, é hora de eles nascerem.

—Achei que bebês levavam nove meses para ficarem prontos.—Resmungou Ellie.—Vou chamar o papai. Ele... está bravo comigo?

—Não, meu amor. Fale com ele tranquilamente e ele te responde tranquilamente. Só... vá rápido, sim?

going crazy - História malenOnde histórias criam vida. Descubra agora