i love you

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Quando amanheceu no dia seguinte e todos saíram para trabalhar, Mal se sentava no chão, encostada na parede e com os joelhos na altura do queixo enquanto olhava Ellie dormir no cestinho. A garotinha finalmente tinha cochilado depois de perceber que Mal não iria para lugar algum. Mal não abandonaria ela.

Ficou ali por horas, e não percebia o tempo passando.

Apesar disso, lágrimas escorriam do rosto da garota de cabelos púrpura.

O que ela tinha feito com a vida dela?

Amou Ben o suficiente para engravidar e manter a criança, abandonou seus estudos para se dedicar à tudo isso e por fim acabou tudo com ele, porque ele jamais entenderia o quanto Mal amava Ellie.

Era algo incompreensível. A filha de vilã sabia que daria sua vida apenas para ouvir a risada daquela doce criança. Sabia que não deixaria ninguém a machucar, que daria o mundo se ela pedisse. Por mais que doesse, sabia que seria bom se ela morasse no castelo.

Mas jamais aceitaria viver longe dela.

Se Ellie fosse viver no castelo, teria de ter a mãe ao seu lado. Não viver sozinha, porque viver sem uma mãe carinhosa presente era a pior coisa do mundo. Mal sabia disso muito bem.

—...Oi.—A voz conhecida soou no cômodo, tirando a atenção da garota da filha.

Ela secou as lágrimas com brutalidade enquanto encarava o rei ali, em pé em seu terno perfeitamente alinhado. Ele tinha olheiras tão profundas quanto as dela, ou seja, também não tinha dormido.

—Vai embora.—Ela disparou.—E devolve a minha chave. Você só entra aqui quando tocar a campainha, igual as pessoas normais fazem.

O garoto caminhou devagar, como se tivesse receio de que ela se irritasse demais. Se sentou ao lado dela, na mesma posição, e retirou sua coroa, colocando-a no chão.

—Pode conversar comigo sem o desprezo que tem pela monarquia? Sabe... conversar comigo como seu noivo, não como rei... me... me desculpa.

—Não quero conversar com você. Você não é meu noivo.—Ela deu de ombros.

—Pare com isso.—A voz dele elevou uma oitava, e agora ambos encaravam a filha dormindo enquanto choravam.—Eu amo você.

—Então por que... por que tirou ela de mim? Por que levou ela embora mesmo vendo eu chorar para que ela ficasse?

—Porque eu amo as duas. Mal, eu quero que a nossa filha possa ter uma vida boa. Esse campus é uma merda, nem você gosta de ficar aqui.—Resmungou.—Doeu ir e ver você chorar. Eu não queria isso, eu queria que você tivesse um aniversário bom. Eu pretendia me casar com você ontem, Mal.

—Foi o pior aniversário que eu já tive.

—Nós dois sabemos que isso não é verdade.

O primeiro aniversário dela, ela não podia se lembrar.

O segundo, se esqueceram.

O terceiro, estava de castigo.

No quarto, tinha apanhado o suficiente para passar o dia todo inconsciente.

A partir do quinto, ninguém era capaz de lembrar que ela envelhecia a cada ano. Ninguém se importava. Em um lugar onde a miséria era frequente, que diferença fazia se você vivia um ano a mais ou a menos?

Ben suspirou, sem saber o que dizer.

A amava.

Ver ela partir de vez, ver ela tomar a decisão de realmente se separar quebraria ele, porque nunca amou alguém tanto quanto amou ela.

going crazy - História malenOnde histórias criam vida. Descubra agora