GOD (parte 2)

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—Pare de intimidar ele!

—Ele quem?

—Não se faça de desentendido.—Mal debateu, cruzando os braços ao ver o pai pela manhã.—Olhe para ele...—Apontou para Ben, que ainda dormia no colchão inflável na sala, agarrado a filha que deslizou até a cama deles de madrugada, enquanto o sogro roubava os cereais da sua cozinha.—Ele te respeita para um caramba e você vive intimidando ele. É um bom homem, pai, não acha que está na hora de aceitar isso?

—Sei que ele é um bom homem. Mas-

—Mas o que? Você precisa chatear ele para ele se sentir mal sempre que vocês se veem? Não acha que ele já enfrenta problemas demais no trabalho?

—Ele mal protege você.

—Idai? Digo, tá, eu mesma sei que ele me protege. Mas eu também protejo ele.—Deu de ombros, adoçando café agora para que Ben não brigasse com ela por estar consumindo cafeína mesmo grávida.

—Isso é uma merda.

—O que? Parece que tem medo de mulheres com poderes.—Devolveu Mal.—Por que você não foge de mim igual fugiu da minha mãe? Seria melhor.

—Você não sabe do que está falando!—Ele murmurou, tão baixo quanto ela desde o início para que não acordassem o rei.—Você ao menos se ouve? Quer mesmo que eu vá embora?

—Não, não quero que me abandone de novo. Eu não quero mas você esta me fazendo ter de escolher. E se tiver de escolher entre você e o Ben, eu escolheria ele um milhão de vezes. Até minha mãe escolheria antes de você.

—Você não sabe o quanto me machuca ouvir você dizer isso. Você ter perdoado sua mãe e nunca me perdoar é...

—Como eu te disse, eu não odeio minha mãe. Ela pode ter sido a pior mãe do mundo, mas ela poderia ter me abandonado como você fez. Poderia ter me colocado para fora, mas nunca aconteceu porque ela sabia que eu ia morrer de frio naquela merda.

Ela sacudiu os ombros como uma criança, indicando que não se importava. Ele continuou a encarando como se doesse.

—Pede para Jacque lamber suas feridas.—Ela sorriu travessa, virando o café em um gole só e caminhando de volta ao colchão.

FLASHBACK ON
vinte e um anos e seis meses atrás.

—Por que tá tirando a camisa?—A menininha perguntou, observando o pai.

—Está frio demais aqui.

—Mas se tirar a camisa vai ficar com frio mesmo.—Insistiu ela.

—Está frio demais para você, Mal.—Suspirou o rapaz, pegando a criança nos braços e enrolando ela no único pedaço de pano que tinha, que era a camisa dele.

Era pequenina, e no auge dos seus dois anos e meio, era teimosa e respondona, mas era o amor da vida daquele homem, mesmo que não tivesse consciência disso.

Sequer sabia o quanto ele tinha sorrido quando a bruxa - que vivia na ilha depois de amaldiçoar uma família real irlandesa e os transformar em ursos - disse à ele e à Malévola que a criança que ela guardava dessa vez era uma menina.

—Eu já 'to de roupa, papai.—Garantiu a menina, tentando tirar para devolver a ele, mas estava tão embrulhada que mal conseguia se mexer.

Suas bochechas estavam tão vermelhas pelo frio que quase ele não conseguia ver suas sardinhas. Será que os heróis, príncipes e princesas que viviam em Auradon sabiam que as crianças na ilha morriam de frio por conta do clima irregular? Que por não serem vacinadas ou não terem acesso a saúde, qualquer coisa os matava? Que tipo de heróis eram afinal?

going crazy - História malenOnde histórias criam vida. Descubra agora