Sedated

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Benjamin abaixou a cabeça, deixando lágrimas caírem por seu rosto delicadamente, derrubando sua dor com lamentações enquanto era cercado por seus amigos. Eram todos reis, já que os conheceu ao longo da vida, mas agora nenhum carregava uma coroa. Ali eram só amigos, só seres humanos.

Ao todo, na sala, haviam três reis e duas rainhas, dois príncipes herdeiros e duas crianças que sequer entendiam qual era o motivo de toda aquela reunião.

—E como está Mal?—A voz de Jas soou pelo ambiente, atraindo o olhar de todos.

Ben deu de ombros, soluçando ao olhar para baixo.

—Ainda está no hospital. Está sedada desde que... desde que recebemos a notícia.—Suspirou.—Ela... tremeu, chorou, gritou e os médicos precisaram intervir. Não está nada bem.

—Mas... e você? Como se sente?—Naveen se ajoelhou a lado do amigo, esfregando a mão em suas costas.

—Eu... não sei. É... falta um pedaço meu aqui.—Apontou para o peito, recebendo de Aladdin um copo de água com açúcar.—Me preocupo com Mal; ela... não pode ficar dopada para sempre, mas não sei o que fazer quando ela começa a chorar e tremer e não conseguir respirar... tudo ao mesmo tempo.

Um estalo se fez presente no cômodo e todos os governantes ergueram o olhar para ver Jake e Ellie com os lábios grudados. Ellie mais do que grata pelo namorado ter atravessado reinos junto a seus pais apenas para estar ali mesmo em um momento tão fúnebre.

—É sério?—O loiro resmungou, se levantando e puxando Diana para longe do casal.—Ellie French-Beast, você está passando dos limites.

—Nem fizemos nada demais.

—Bom, "vou sair de casa pra morar com Jake." Mentir que está grávida, dizendo que vai largar seus irmãos sozinhos. Não estar nem aí para a morte do seu irmão. Sua mãe quase morreu quando ouviu que os médicos fizeram de tudo por-

—Pai, isso não é da minha conta! Percebe que eles são filhos seus e não meus? Percebe que só quero viver a minha vida? Eu deveria ter assumido a coroa há um tempo mas vocês vivem dizendo que não estou pronta. Vocês se apaixonaram aos dezesseis, eu já tenho dezessete e vocês não me deixam viver. Cuidar de irmãos, estudar, isso não é coisa que uma rainha faça.—Murmurou.—Só quero que isso acabe logo.

—É o seguinte...—Ben piscou com raiva, erguendo a cabeça, as lágrimas rolando tristemente em seu rosto. Perderia dois filhos naquela semana, mas... bom, eles já tinham perdido a menina dócil que criaram há algum tempo mesmo.—Vá embora, Ellie.

—O que?

—Sogro, eu-

—Sogro não. Estamos em Auradon, é "vossa majestade."—O rei encarou o garoto enquanto ambos se afastavam.—Quero que ela vá embora daqui. Você não vai ser rainha, Ellie. Como poderia? Você não tem empatia, você não liga para família, você só se importa consigo mesma e vai acabar grávida antes da maioridade.

—Que grande pai você é!—Ela gargalhou.—Vai me colocar para fora porque sua esposa... porque mamãe não está em casa?!

—Eu berraria na frente dela que não quero esse monstro perto das minhas crianças. Perto do meu herdeiro, que é Austin!—Gritou o rapaz. Todos mantiveram silêncio na sala, incluindo as crianças.

Jasmine puxou o filho de canto, chamando sua atenção pela forma a qual ele irritou Ben, que estava de luto e estressado pela internação da esposa. Chamou atenção pela forma como ambos agiam juntos, porque aquilo irritava ela, o marido, Mal, Ben e todo mundo que estivesse perto.

Diana se agarrou à perna do pai, assustada com o barulho causado de repente.

—Não percebe que eu sou assim por conta-

—Não fale TEA. Você sabe que não é por isso. As pessoas com TEA vivem na sociedade normalmente, muitos nem sabem que tem.—Resmungou—Hoje em dia já se sabe que TEA é hereditário; você já viu que sua mãe tem exatamente os mesmos costumes que você, mas ela tem emoções, ela age como gente, não como animal.

—Você me chamou de animal?—Ela caminhou para perto, mas cambaleou para trás quando sentiu o rosto arder.

Ele... ele bateu nela.

Um tapa.

Não tão forte como ele poderia, porque tinha força para isso.

Mas pela primeira vez na sua vida, Ellie tinha apanhado do pai.

E isso doía mais no emocional do que fisicamente.

—Papai...—Os olhos claros da menina se encheram de lágrimas, e ela se afastou um pouco, assustada.

—Não me chame de papai. Sou seu rei e me respeite como tal.—Benjamin ordenou.—Até o fim do dia, quero você longe daqui.

—E para onde eu iria?

—Não me importo. Vá para Agrabbah, para Ilha dos Perdidos, Nova Orleans, eu não me importo. Você não é minha filha.

(...)

No fim da manhã, exausto e com os olhos pesados sem sono e de tanto chorar, Ben apoiou um vaso de flores amarelas na cabeceira da cama, se sentando ao lado da esposa que parecia dormir tranquilamente.

Havia pedido para removerem a sedação, e em breve ela despertaria. O homem se preparava para contar à ela que tinham perdido outro filho naquele dia.

Dante estava morto.

Ellie estava morta para ele. Ele não queria ela perto e esperava de verdade que ela se fosse e nunca mais voltasse.

Afastou os cachos roxos para longe do rosto de sua esposa, analisando seu rosto sereno enquanto podia, pois não sabia como ela acordaria.

Minutos mais tarde, quando Mal começou a se remexer lentamente, ele a puxou para os braços e se sentou na poltrona, ela encolhida em seu colo.

No fim, seus olhos se abriram totalmente, mas estavam tristes e perdidos. Mal não esboçou grande reação; só permaneceu imóvel, encolhida contra o corpo dele pois sabia que apesar da dor que ele mesmo sentia, ele estava ali por ela agora. Estava ali para que ela ficasse bem.

Ele estava tentando cura-la das dores.

Mesmo que ninguém estivesse tentando curar a dor dele.

—Eu coloquei ela para fora, Mal. Eu... eu falhei com a nossa filha.—Ele gaguejouu.—Ela me estressou e eu...

—Shii...—A garota de cabelos púrpura sussurrou, mesmo que ela estivesse sendo ninhada e seus olhos se enchessem de lágrimas.—Estávamos... estávamos prometendo ser mais rígidos há um tempo. Você só fez o que queríamos fazer e não tivemos coragem.

Com o coração partido, eles apenas se abraçaram por uns minutos em silêncio. Choramingando.

—O que a gente faz agora, Ben? Quem eu sou sem meu menininho?—Mal soluçou.—Eu podia ter feito mais. Se eu tivesse... não sei, inclinado mais a cabeça dele quando ele convulsionou...

—Não teria adiantado de nada. Nós fizemos tudo o que era possível, ouviu? Tudo. Não foi culpa nossa.—Ele olhou em seus olhos. Os mesmos olhos que via todos os dias. Os olhos da sua esposa. De Ellie. De Austin. De Diana. De seu recém falecido menino Dante.—Agora a gente vive. Não tem outra escolha.

—Minha Ellie. Meu... meu Dante, meu filho doce e-

—Mal... está tudo bem agora. Ele descansou.

—Mas...

—Nós... não temos outra opção. Tem Austin e Diana e eles precisam da gente. Vamos... cuidar para que ele tenha um enterro digno e... cuidar de nós agora. Cuidar das crianças para que fiquem bem.—Suspirou, esfregando suas costas.—Eu te amo. Vamos passar por isso juntos.

going crazy - História malenOnde histórias criam vida. Descubra agora