Capitulo 65

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FREEN

MEMÓRIAS

Todos sabem as inseguranças que carregava em mim, as incertezas que obtinha em meu coração e como busquei todos anos com a partida de Becky um lugar que pudesse sentir que pertencia a esse mundo. Contudo, com o tempo deixei meus instintos pela arte tomarem conta de meus dedos, deixei que os pincéis falassem tudo que sentia ao olhar uma paisagem que poucos tinham o olhar para capturar, deixei minhas mãos modelarem esculturas que falassem por si só. Mesmo com medo de não ser totalmente boa para isso, fiz o que um dia sonhei em minha adolescência, abri meu ateliê, o lugar que durante todos esses anos chamei de casa.

Montei em minha cabeça cada detalhe da simplicidade que isso aqui deveria representar, uma simplicidade que quando recebesse qualquer alma em busca de algo único sentiria pelo ar que corre neste ambiente o amor em meu trabalho. O amor que colocava em cada quadro em que ficava horas pincelando até criar sua vida própria. Durante todos esses anos foi aqui que busquei refúgio de muitos sentimentos que me dominavam, foi aqui neste pequeno prédio que coloquei para fora a saudade, o amor, a tristeza que muitas vezes não conseguia reproduzir por palavras. Nunca imaginei que olhar cada detalhe deste lugar não fosse mais fazer sentido para mim, não fosse mais trazer aquela paz que sentia em meu peito quando dormia no quartinho secreto depois de madrugar sentada em um banco de madeira esculpindo no gesso ou barro.

Mas hoje, com pelo menos 10 homens guardando meus trabalhos em caixas de papelão para serem vendidos por qualquer galeria nesse mundo faz com que uma parte pequena em mim doa, porque não fazia peças para serem revendidas, fazia os meus sentimentos que decorariam as casas das pessoas. Fazia artes que realmente tinham um significado tanto para o artista quanto para quem olhasse aquela peça, peças essas que posso afirmar com toda a propriedade que são extremamente únicas.

Mas o mais difícil mesmo será esse jardim de flores que plantei com minhas próprias mãos serem arrancadas como se não houvesse vida em cada uma delas. Flores que exalam um cheiro tão bom que passava horas sentada em minha varanda com um caderninho de desenho, apenas sentindo o que elas poderiam me entregar, apenas memorizando suas cores únicas. Por mais que as vissem todos os dias, dói destruir algo que um dia fez tanto sentindo, dói, mas aprendi no decorrer desse tempo que é necessário deixar para trás alguns pedaços para recomeçar. Porém, meu ateliê, esse jardim, não fazem mais parte do meu recomeço, pois não se encaixam mais no futuro que estou buscando, no futuro que me espera.

Respirei fundo sentindo pela última vez o aroma de cada uma delas. Levo minhas mãos sobre meu ventre sentindo a paz de missão cumprida por aqui, sentindo pela última vez a imensidão do meu pequeno jardim. Ao mesmo tempo que lágrimas se formam em meus olhos um grande sorriso também é entregue a mim, pois sei que aqueles que puderam obter uma obra da artista Freen Sarocha Chankimha levaram consigo sentimentos únicos que nunca mais serão vistos novamente.

- Licença, Freen Sarocha? – uma voz que não conhecia chamava a minha atenção me fazendo virar para trás. Uma mulher branca de cabelos pretos e olhos claros estava com um sorriso enorme em minha direção, ela usava roupas sociais pretas e uma bota que para mim não combinou nada. – Desculpe, me disseram que poderia encontrá-la aqui, é você?

- Sim, sou eu, você é?

- Samantha Cooper, mas pode me chamar de Sami. – A garota estendeu a mão em minha direção e não hesitei em cumprimentá-la, dona Male havia me entregado educação. Mesmo não sabendo quem era esta moça, seus traços claramente mostrava que ela era estrangeira. – Desculpe aparecer assim, te enviamos um Email a dois dias atrás e não obtivemos resposta, então decidi eu mesma vir até aqui.

- Desculpe, mas do que se trata? Se é sobre alguma encomenda referente aos meus quadros ou esculturas, você pode ver que estou fechando o ateliê – ela olhava cada movimentação dos homens na parte interna do local e admirava meu jardim com um misto de confusão em sua face. Realmente essa mulher era muito bonita, isso não tinha como negar, jamais vi traços tão marcantes como o dela a não ser em minha mulher, isso me faz perceber que ela pode ser inglesa como a Becky.

Forever you  - FreenBecky -Onde histórias criam vida. Descubra agora