Capítulo 58

1.8K 247 138
                                    

Cristal

O clima pesado na mesa de jantar é sufocante, pois ninguém diz nada desde que minha mãe veio para cá, pensei que meu pai ia fazer alguma piada ou tentar irritar ela como estava fazendo no outro lado do purgatório, mas até agora não pronunciou uma palavra para ela, a olhou algumas vezes, mas foi apenas isso.

Vejo minha mãe terminar de comer sendo uma das últimas, a observo limpar a boca com o lenço como se fosse uma verdadeira princesa, tão educada e perfeita, talvez seja por ter sido criada assim.

Estranho minha mãe não estranhar o silêncio, pois meu pai e tios conversam bastante, se ela realmente os conhece bem sabe que devem estar pensando demais em algo.

Noto que o olhar de Eliza vai até a ponta da mesa, exatamente onde Dragomir está sentado perto do meu pai, sinto que se ela abrir a boca para fazer perguntas vou sair prejudicada.

Eliza —e então lorde Dragomir, está mesmo interessado na minha filha?— quando as palavras saem da boca da minha mãe meu pai engasga  com o vinho que estava a beber tranquilamente, acho que Dragomir não pensou na possibilidade de minha mãe trazer o assunto de ele me querer como esposa para todos a mesa, viro meu olhar para o ruivo que estranhamente continua calmo.

Dante —COMO ASSIM A DESEJA COMO ESPOSA?!— meu pai levantou a voz enquanto tossia, parece incrédulo com a informação, o pior é saber que ele realmente não notou nenhuma intenção do ruivo sobre mim, só tem duas explicações para isso, meu pai é realmente muito burro ou tem uma confiança enorme em Dragomir por serem conhecidos de milênios.

Dragomir —eu tenho muito tempo de vida e acho que a maioria a mesa sabe disso, acho que Cristal seria uma ótima  esposa e parceira, ela mesma disse que deseja viajar pelos mundos e conhecer lugares, somos compatíveis já que vivi boa parte da minha vida fazendo isso, claro que nunca tentaria nada sem dizer a você antes— sua voz sai com tanta seriedade que até mesmo me convenceu mesmo eu sabendo que isso é pura manipulação.

Meu pai travou no lugar, não disse nada e apenas ficou pensativo.

Cristian —sei que sou apenas tio da Cristal, mas poderia dar minha opinião sobre isso Liza?— minha mãe apenas confirma com a cabeça.

Eliza —fazem parte da família dela, e confio na opinião de vocês, foram meus guardiões e nunca esquecerei disso— eu sinto tanta dor e incômodo na voz da minha mãe, queria saber o que a incomoda até hoje.

Cristian —vamos supor que Dante e Eliza permitam que vocês fiquem juntos, você vai viver viajando como se tivesse fugindo de algo com ela? Pois é essa a impressão que sempre tive de você, como se estivesse temendo ficar parado em um lugar por muito tempo por medo de ser achado— noto que Dragomir apenas encara o homem de cabelos cor de mel por um tempo, antes de abrir um sorriso tranquilo.

Dragomir —fugir de que? Vocês sabem quando poder eu tenho, me conhecem a milênios literalmente, eu seria o melhor para cuidar e protege-la, nunca tive nada que me prendesse a um lugar por muito tempo, por isso nunca fiquei— diz calmamente enquanto serve seu copo de mais vinho, meu pai continua em silêncio o que é estranho.

Henri —não acho que seja bom para um casal ficar viajando sem rumo, sem um lar para chamar de seu, você pode ser poderoso Dragomir, mas poder não define caráter e eu acho que você nunca mostrou quem realmente é, não quero que minha sobrinha se afunde em um caminho sem volta sabe, só preocupação de tio— eu achei que essa conversa fosse apenas hipotética.

Dragomir —eu compreendo sua preocupação, mas acho que essa decisão é da Cristal e dos pais dela. Alex, não vai dizer nada também não? Agora fiquei curioso com sua opinião— estou sentindo um tom de deboche, como se fosse superior de alguma forma, mas parece que apenas eu notei o sorrisinho dele.

Eu não sei o que tem de errado comigo, mas estou gostando de ver a forma como ele brinca com a situação, como consegue de alguma forma conseguir tudo que quer.

Alex —acho que isso é escolha da Cristal, mas tenho um concelho caso queira ouvir sobrinha— ele ignorou o ruivo e falou diretamente comigo.

—claro Lex— digo olhando para ele normalmente.

Alex —pense na idade da pessoa que escolher para sua vida, com quantos seres ele ficou e quantos se importou,  pense se ele realmente de vê como uma pessoa e não como conhecido que logo vai esquecer. Acho estranho alguém com tanto tempo se manter sozinho por vontade própria, sem amores, sem passado, sem filhos— eu não tinha parado para pensar nessas coisas realmente.

—isso era só uma situação hipotética, não temos nada, Dragomir só achou que antes de querer me conhecer deveria pedir permissão a minha família— digo e o olhar atônito de meu pai tranquiliza.

Nathan —eu não gosto de você Dragomir, acho que deveria ficar bem longe da minha irmã, ela é jovem demais para sequer pensar em namorar ou casar, tento a sua idade acho que está tentando se aproveitar dela por ser jovem e ingênua— sua voz irritada fez a atenção de todos ir para ele inclusive a da minha mãe.

Dragomir —é fofo ver seu ciúme e preocupação de irmão, eu compreendo, se tivesse uma irmã tão fofa quando a sua iria tentar protege-la com unhas e dentes— diz com um tom mais compreensivo.

—ele pediu a permissão de vocês para se aproximar de mim, isso é com vocês, mas eu não prometo nada a ninguém sobre a minha vida— digo me levantando da mesa irritada.

Alex —e você ainda quer se casar com uma garota com essa maturidade?— pergunta esperando a resposta de Dragomir, me viro para ir a escada sem pressa, pois quero ouvir o resto da conversa.

Dragomir —acho que ela é madura o suficiente para não gostar de estar ouvindo o que somente é da conta dela, não é obrigada a estar a mesa sendo que acabou de comer, estou apenas pedindo permissão para me aproximar e conhecer, nada mais— se isso realmente fosse verdade, eu iria querer conhece-lo? Ele realmente iria se interessar por mim? Acho que a resposta é bem clara, não, pois se tudo não fosse como é eu nem estaria aqui.

Dante —faça o que quiser, mas se você tocar nela não será bem vindo no purgatório, nunca mais, pois eu mesmo vou querer matar você— isso é no geral? E se a gente se casasse, ele continuaria querendo matar ele por me desonrar? E por que diabos ele acha que sou virtuosa, eu realmente sou, mas poderia não ser.

Eliza —Cristal, espera um pouco— escuto minha mãe a empurrar sua cadeira para trás para sair, acho que ela quer ficar no mesmo cômodo que eu, igual quando eu era criança e dormia no quarto dela por medo de trovão e escuro, o abraço dela parecia mágico, me fazia esquecer dos monstros obscuros que eu via na escuridão, provavelmente era coisa da minha cabeça, já que eu sempre via monstros.

Entre Mundos (Deuses Elementais)Onde histórias criam vida. Descubra agora