Capítulo 88

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**Cristal**

Voltar para casa nunca pareceu tão difícil. Drago me obrigou a encarar uma verdade que eu estava evitando, e agora preciso contar à minha mãe que tenho apenas quatro anos de vida. Minha mente está um turbilhão enquanto caminho em direção ao calabouço. Talvez ver Hakon me ajude a colocar meus pensamentos em ordem.

Desço as escadas frias e úmidas, o som dos meus passos ecoando pelas paredes de pedra. O cavaleiro da Ordem está lá, como sempre, preso e sombrio. Seus cabelos pretos caem sobre os olhos igualmente escuros, que parecem absorver toda a luz ao redor.

—Oi, zangado— digo, tentando soar casual, mas minha voz treme levemente. Ele levanta o olhar, seu rosto inexpressivo como de costume. Por um momento, fico tentada a sair correndo e evitar essa conversa, mas respiro fundo e entro na cela.

Cavaleiro —Cristal— sua voz é baixa, carregada de uma indiferença que me irrita. Ele sempre tenta me matar, mas com o tempo, desenvolvemos um tipo estranho de conexão.

—Drago me obrigou a contar para minha mãe que só tenho quatro anos de vida— desabafo, esperando alguma reação, mas ele apenas me olha com aquele sorriso sínico, pelo lado bom não está me ignorando, ou talvez isso seja ruim?

Cavaleiro —Se você morrer agora, não precisaria contar a ela. Só precisa se aproximar um pouco mais de mim, e tudo seria resolvido de uma vez— ele diz, os olhos negros brilhando com uma malícia familiar.

Rio, um som sem alegria. —Não foi isso que fez da última vez. Da última vez, você me beijou e me causou dor— digo, lembrando vividamente do gosto metálico de sangue e da sensação do lábio cortado.

O moreno lambe os lábios lentamente, como se saboreasse a lembrança. Meu rosto fica vermelho, e ele sorri, notando meu constrangimento.

Cavaleiro —Imagino que você ainda seja virgem. Posso resolver isso para você. Dar uma experiência marcante antes de matá-la— suas palavras são como um veneno doce, e por um momento, a ideia me faz tremer.

—Acha mesmo que vou me entregar a você? Nem morta— replico, minha voz firme apesar do calor no meu rosto.

Cavaleiro —Eu sei que me deseja quando olha para o meu corpo, meu cabelo, meu jeito. Você me deseja. Tenho certeza que no fundo é uma masoquista. Sei que gostou quando te provoquei dor— suas palavras são um sussurro, quase uma carícia cruel.

Reviro os olhos, tentando não deixar que ele veja o quanto suas palavras me afetam. —Você é um idiota— digo, mas há uma leve hesitação na minha voz.

Ele ri, um som baixo e rouco que reverbera nas paredes da cela.

Cavaleiro —Idiota ou não, você ainda volta aqui, dia após dia. Por quê, Cristal?

Respiro fundo, tentando recuperar o controle. —Talvez porque, apesar de tudo, você é o único que não mente para mim. O único que não tenta me proteger da verdade, o único que posso contar tudo sem ter medo que fale para os outros ou que me mande calar a boca, já que não faria isso.— admito, odiando o quanto isso soa verdadeiro.

Cavaleiro —E qual é a verdade que você quer ouvir hoje, estrelinha?— ele pergunta, sua voz suave como seda.

Penso por um momento, olhando para ele. —A verdade é que estou com medo. Não de morrer, mas de tudo que vou perder nesses quatro anos. Minha mãe, meus amigos, talvez até Drago— admito, minha voz tremendo um pouco.

Cavaleiro —Medo é para os fracos. Eu não tenho sonhos, Cristal. Não tenho medos. Meu trabalho é matar, e isso é tudo que eu preciso. A única diversão que tenho— ele diz, com uma frieza cortante.

Balanço a cabeça, tentando absorver suas palavras. Talvez ele tenha razão. Talvez eu precise parar de deixar o medo ditar minhas ações. Mas como faço isso quando cada decisão parece mais pesada que a anterior?

—E você? Não sente nada além de prazer em matar?— pergunto, curiosa.

Ele sorri de novo, aquele sorriso cínico e enigmático. —Não. Sentimentos são para os fracos. E você, Cristal, está cheia deles. É patético— sempre me ofendendo, isso é irritante, vontade de torturar ele.

Reviro os olhos. —Você é insuportável. Sabe disso, né?

Cavaleiro —E você gosta disso. Não estaria aqui, caso contrário— ele responde, a certeza em sua voz irritando-me ainda mais.

—Sabe o que? Decidi que vou te chamar de Hakon, como o cavaleiro implacável do livro que li— digo, tentando mudar de assunto e ganhar algum controle na conversa.

Ele arqueia uma sobrancelha. —Hakon? Um nome de um personagem fictício para um assassino real. Que original— ele diz, com sarcasmo.

Suspiro. —Quer saber? Não importa. Eu preciso ir agora. Ainda tenho que contar para minha mãe— digo, sentindo o peso das palavras.

"Hakon"—Boa sorte, Abelhinha. Vai precisar— ele diz, sua voz carregada de uma indiferença fria.

—Obrigada— respondo, antes de sair da cela e subir as escadas.

Estranho o fato do boa sorte, já que ele normalmente desejaria o contrário.

Quando chego à superfície, a luz do sol parece mais brilhante, mais quente. Respiro fundo, preparando-me para a tarefa difícil que tenho pela frente. Contar para minha mãe sobre meu tempo de vida não será fácil, mas é necessário. E, de alguma forma, a conversa com Hakon, por mais perturbadora que tenha sido, me deu a força que eu precisava para enfrentar isso.

Caminho até a casa, meu coração pesado, mas minha determinação renovada. Estou pronta para encarar o que vier, porque sei que, de alguma forma, vou encontrar uma maneira de fazer esses quatro anos valerem a pena.

Estou tendo problemas para pagar minha internet, quem puder me ajudar vou deixar meu Pix em baixo, qualquer valor ajuda, obrigada por lerem

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Entre Mundos (Deuses Elementais)Onde histórias criam vida. Descubra agora