CAP. 1 - Vale de Lembranças

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Caminhava pelas ruas da velha Londres, observava os edifícios fumegarem cada vez mais entre as nuvens de fumaça que os faziam sobre o céu cinza. Olhares caiam sobre mim, alguns de pena, dó, confusão e julgamento. Já estava acostumada com isso...

Todos acham que podem julgar as pessoas sem nem sequer ter um conhecimento a fundo sobre ela

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Todos acham que podem julgar as pessoas sem nem sequer ter um conhecimento a fundo sobre ela. Pois bem, esse costume eu tentava não absorver, vendo o quão irritante e invasivo poderia ser.

?. - Alice Liddell!

Olho para trás e uma mulher, a qual eu conhecia a alguns anos, vinha até mim com sua bengala em mãos. Pris Witless era o seu nome.

- Senhora Witless..

P. - Oh, querida, você sabe que pode apenas chamar-me de Pris! Sem formalidades aqui.

Witles parecia ser uma senhora doce e meiga aos olhos de qualquer pessoa, mas como eu disse, não devemos julgar as pessoas apenas por sua aparência... Uma velha alcoólatra, a qual escondia seu segredo por sua fala suave e ações que se passavam por gentis. Pris vinha-me sempre importunar, pedindo dinheiro como forma de chantagem, ameçando contar do meu passado para a polícia.

Mas agora eu já saberia toda a verdade... Mesmo que ninguém fosse acreditar, eu não havia matado a minha família naquele incêndio.

- O que você quer?

P. - Horas, quanta arrogância, menina! Você teria algumas moedas para essa velha acabada?

Reviro os meus olhos em devaneio, a última coisa que queria era econtrar Pris no meu caminho para o orfanato... Minha cabeça estava em paz, mas meu corpo encontrava-se cansado após toda a verdade.

Passo as mãos pelo meu avental branco encardido, pegando apenas uma moeda do bolso e entregando para ela, antes que comece com suas chantagens sem sentido e arrogantes.

P

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P. - Obrigada, querida Alice...

Ela vira-se e segue o seu caminho pelas ruas de pedra, em direção aos becos... Pris havia cuidado de minhas necessidades enquanto estava internada no Hospício Rutledge, era a enfermeira responsável por mim após o incêndio em minha casa...

Havia chego no local com queimaduras um tanto graves em meu corpo, ao mesmo tempo que havia sido tratada pelos médicos. Pris escutava todas as conversas do que poderia ter acontecido com minha família, o motivo pelo qual eu teria sido a única sobrevivente.

Advogados e testemunhas do incêndio falavam que eu coloquei fogo na biblioteca da mansão, alguns até comentavam que eu era "Pirocinética", um absurdo. Como podem julgar-me sem nem sequer verem o que realmente aconteceu...

Após isso, fiquei anos sem pronunciar uma palavra, em estado catatônico por quase 10 anos, minhas memórias haviam sido perdidas pelo trauma... E meu país das maravilhas havia sido arruinado.

Deram-me um grau de esquizofrênia severa, apenas por não entenderem o que realmente se passava comigo, os meus traumas e tristezas.

Quando completei 18 anos, sai do hospício, pois não poderiam mais me manter internada naquele local. Meu estado já era bem melhor, não haviam preocupações em me dar alta... Pris me encaminhou para o Orfanato, o qual chamava-se Lar Houndsditch, para jovens desobedientes...

O único problema após isso foi a sua cobrança incessante por dinheiro por ter me encaminhado para lá, comentando que se não fosse por ela, eu teria virado uma mulher de cabarés... Além disso, suas ameaças eram constantes pelo que havia escutado todos esses anos pelos médicos e advogados, culpando a mim pelo que aconteceu. Chamavam-me de assassina.

Após alguns minutos de caminhada, chego a entrada do orfanato, o qual agora estava sem um dono, pois o Doutor Angus Bumby, o "responsável" pelas crianças que se encontravam ali, estava morto. Eu o havia matado, pouco tempo atrás.

Louca? Talvez, mas fiz o necessário... Se tivesse descoberto a maldita verdade antes, teria feito isso a muito tempo. Angus me enganava em suas sessões hipnóticas, abusando de mim enquanto estava com a guarda baixa...

Mas o pior ainda está por vir, pois foi ele quem havia colocado fogo em minha casa, após ter abusado de minha irmã mais velha, matando-a em seguida e tentando queimar o corpo para sumir com as provas. Um "grande" psiquiátra...

Ele tinha um nome honrado em Londres, o "excelente" Doutor, pelo que diziam... Mas a realidade e a verdade são muito mais perturbadoras do que isso. Angus era um cafetão de crianças, todos os pequenos que eram encaminhados para o orfanato eram hipnotizados por ele, sessão após sessão, fazendo-os esquecer suas memórias e vendia-os para prostituição em seguida.

O mesmo aconteceu comigo, estava sendo hipnotizada para esquecer as poucas lembranças que me restaram daquela noite... Mas agora as memórias estavam claras, o meu país das maravilhas havia ajudado-me a recuperá-las.

Eu me recordo de tê-lo visto na porta do quarto, fiquei imóvel de medo, era apenas uma criança... Mas Angus me deixou viva, pensando que eu iria morrer no incêndio...

Meus ferimentos se curaram, mas minha mente está arruinada...

Entro uma última vez pela porta do orfanato, vendo o pequeno Timmy correr até mim, segurando em meu vestido listrado, abraçando a minha perna...

T. - Alice! Trouxe o meu brinquedo??

- Oh, Timmy... Eu estava tão ocupada...

Queria apenas pegar as minhas coisas, fazer uma mala de viajem e ir embora de Londres... Seguir a minha vida como tinha de ser.

T. - Ah, mas você prometeu, Alice! Não só para mim, mas para quase todos nós daqui!

Agacho o meu corpo e cochicho em seu ouvido:

- Não conte aos outros, mas irei comprar um brinquedo especial apenas para você.

T. - Sério??

Concordo com a cabeça, pensando que essa seria a minha última atitude antes de ir embora de meus traumas.

- Tentarei procurar uma loja de brinquedos, espero que alguma ainda esteja aberta...

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Notas da autora:

Outra vez aqui, com uma história diferente, que se passa em 1875, mas iremos expandir isso...

Alice Liddell, inspirada na história infantil de Alice no País das Maravilhas, sendo personagem principal de um jogo chamado Alice: Madness Returns, a qual está sendo utilizada nesta versão.

Um tanto diferente e sombria, não pude deixá-la de lado assim que pensei em Jason... Aproveitem e boa leitura.

 Aproveitem e boa leitura

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Jason, The Toy Maker - O Outro Lado do GumeOnde histórias criam vida. Descubra agora