CAP. 25 - Chá Amargo

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Fico como uma estátua em meio ao jardim, processando o que havia acabado de acontecer... Se Jason não queria que eu tocasse sua cobra, então seria porque havia algo muito perigoso ali.

Outra vez ele reaparece pela porta de madeira um tanto desbotada, com um bule de chá em mãos, segurando duas xícaras na outra.

- Perdoe-me por tantas intromissões assim em nosso chá, querida.

Ele diz passando por mim e colocando a bebida na mesa, junto aos biscoitos que já estavam ali, e eu nem sequer havia percebido.

Jason puxa a cadeira para mim sentar-me, empurrando-a em seguida e sentando-se ao meu lado.

- Ah, este chá é um tanto amargo, mas prefiro assim do que muito doce.

Ele fala enquanto coloca em nossas xícaras um pouco daquela bebida transparente e cheirosa. Os biscoitos eram feitos de diversas formas diferentes, cada um com uma cor específica.

Seguro um dos biscoitos e dou uma pequena mordida. Teriam um gosto leve de mel, pareciam estar no ponto perfeito. Mas reparo que Jason não os estava comendo...

- Você não irá comer?

- Infelizmente não. Meu paladar não gosta muito de doces. As bolachas são apenas para você, minha querida.

- Está bem... - Digo enquanto lembro-me desta informação vagamente - ... Mas, quanto a sua cobra....

- Hm, sei que deve estar apreensiva pelo que aconteceu, peço desculpas. Mr. Glutton gosta de comer bonecas de cera da minha coleção, as quais ficam velhas, entretanto... Às vezes ele não consegue distinguir o que seria uma boneca.

- Você quer dizer que.. Ele iria arrancar o meu braço?

- Possivelmente, ou talvez não, pois a senhorita parece muito uma pequena bonequinha.

Meus olhos ficam um tanto pasmos enquanto tomo um gole do chá quente...

- Não fique assustada, querida.

- Não estou assustada.

Digo com um pequeno sorriso no canto do meu rosto.

- Só estou curiosa com o fato de caber mais do que um braço dentro do Mr. Glutton. Estou correta?

As sobrancelhas de Jason erguem-se para mim, provavelmente jamais esperando aquela pergunta.

- Cabem muitas coisas dentro dele, minha cara...

- Assim como um corpo.

A risada de Jason era um tanto histérica após o meu comentário, colocando mais chás em nossas xícaras.

- Um corpo? Quanta imaginação a sua.

Mas a expressão em seu rosto não poderia esconder o que ele realmente pensava... Que com certeza caberia mais de uma pessoa dentro de Mr. Glutton.

- Sim, muita imaginação...

Após ter visto aquela faca ensanguentada, os olhos brilhantes e bizarros ontem a noite, algumas evidências começaram a ser estranhas... Além de seus brinquedos estarem.. Vivos.

- Hm, estava vendo o seu trabalho em meu ateliê. Devo dizer que fiquei um tanto impressionado com as suas habilidades.

- Ah, isso é um elogio e tanto vindo de você, Jason... Aquilo apenas saiu de minha mente.

- Gosto da maneira como você pensa, Alice. Vamos ver o que você consegue fazer em meu ateliê, quem sabe não torne-se a minha aluna.

Ele estava me convidando para trabalhar junto a ele..? Essa era uma das últimas coisas que pensaria que fossem acontecer, pois não teria quase habilidade nenhuma com isso, mesmo que o cavalo tivesse ficado impecável.

- Acha que tenho potencial para fazer trabalhos assim?

- Claro, querida. Se a sua mente conseguir projetar os brinquedos antes de fazê-los, tudo sai praticamente perfeito.

- Talvez está parte esteja mais clara para mim...

- Hm, poderia me dizer quais foram as suas inspirações para talhar aquele cavalo?

- Ah.. Minhas inspirações...

Por alguns segundos fico quieta, pensando e filtrando quais palavras deveria utilizar.

- Bem.. Ele parece ser uma arma muito boa.

- ..Arma?

- Quero dizer, um brinquedo! Um brinquedo muito bom... Além disso, meus pais tinham muitos cavalos.

Espero não ser tão perceptível assim o fato de estar mentindo sem precauções.

- Compreendo... Mas a feição em ódio, a qual esculpiu... É algo bastante diferenciado.

- Acho que ninguém iria comprar um brinquedo com ódio...

- As pessoas têm gostos estranhos, senhorita Alice. Tudo é possível.

Já havia comido biscoitos o suficiente para uma semana inteira... Nunca teria sido tratada e alimentada tão bem assim em muitos anos.

- Está satisfeita?

- Muito! Não só pela comida, mas olhe para este lugar... Cada parte para que olho parece estar com um toque especial seu... Sinto como se fosse mágico, único.

O sorriso no rosto de Jason parecia aumentar cada vez mais, junto de seu peito, um tanto estufado. Claramente ele amava quando estava sendo elogiado.

- É uma honra ouvir estas palavras, querida...

E assim terminamos de tomar o nosso chá, com o pôr do sol descendo lentamente enquanto olhavamos aquela vista juntos, não sabendo o que se passava na mente um do outro...

Jason, The Toy Maker - O Outro Lado do GumeOnde histórias criam vida. Descubra agora