CAP. 82 - Minha Sombra

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Estava tudo escuro, meus sentidos estavam estranhos e poderia notar que minha testa suava friamente, junto do resto do meu corpo...

Tento abrir os olhos, mas eles estavam lacrimejando com a minha tentativa... Meus lábios estavam secos, pareciam até mesmo rachados. Mas aquele perfume de rosas... Com certeza estava no apartamento de Jason.

A visão era turva pela pequena fresta dos olhos, tornava-se borrada, não conseguia localizar onde realmente estava. Tento erguer minhas mãos com grande esforço, mas algo estava passado por meus pulsos.

- Jas... - Tento chamá-lo, mas parecia ser inútil, pois não conseguia completar o seu nome.

A respiração fica um tanto afoita enquanto minha visão recuperava-se a cada minuto. Logo percebo que eram pedaços de pano amarrados em meus pulsos, prendendo-me no meio da cama.

Havia uma fina coberta sobre mim, mas eu estava quente e suando cada vez mais, queria retirá-la pois o calor tornava-se infernal.

Algo toca o meu braço esquerdo, mas a dor em meus ossos parecia racha-los caso eu vira-se o pescoço para ver o que era.

O toque era sútil e fofo, percebendo aquilo subir por cima de minha barriga, vendo com minha visão prejudicada Bons Sonhos acenando acima de mim.

- ... Olá...

Consegui pronunciar apenas isso, era como se minha garganta estivesse corroída por dentro, rachada, impedindo que minha voz saísse.

O pequeno coelho pula para o chão, sumindo de minha vista... Fecho os olhos em seguida, pensando no que seria de mim nestas condições deploráveis.

Por que eu estava amarrada? Não conseguia mexer um músculo de qualquer forma, então para que tantas preocupações sem lógica quanto a mim?

Escuto como se fossem ecos de passos ao longe, emitindo o barulho da porta se abrindo em seguida... Provavelmente eu estava no quarto de Jason.

- J-Jason...

Digo com a voz roca, mas com os olhos fechados, pois não queria abri-los pelo cansaço repentino...

Consigo notar o colchão se afundar ao meu lado direito, sentindo sua mão passar por cima da minha, a qual estava amarrada.

- Não, não, minha querida... Não tente falar.

Algo úmido é colocado sobre os meus olhos, parecendo ser um pano morno, que estava limpando a minha visão. Ele dava leves tapas com aquilo, esfregando levemente em seguida.

- Não precisa se preocupar com nada...

Escuto o barulho de um frasco sendo aberto, com o som da rolha saindo... Começo a abrir os olhos após estarem mais limpos, já conseguindo ver um pouco melhor.

- Irei cuidar de você, minha querida.

Jason derrama o líquido arroxeado sobre uma pequena xícara de porcelana branca, o qual tinha um aroma muito bom, doce e forte.

- Mas precisa tentar beber isto... Irá ajudar a se recuperar mais rapidamente.

Sua mão passa por minhas costas, inclinando um pouco o meu corpo para frente, assoprando aquela bebida que parecia estar quente.

Ele leva a xícara até os meus lábios, fazendo-me tomar aquilo lentamente. O cheiro era maravilhoso, mas o gosto nem tanto... Lembrava-me os remédios que era forçada a tomar no Hospício.

Pelo menos, ver Jason inclinado por cima de meu corpo era um colírio para os meus olhos após tanta dor...

- .. Obrigado...

- Mais alguns minutos e estaria morta... Mr. Glutton arrastou você pelos dutos, bem a tempo.

- Mas... O-o que aconteceu..?

Apenas lembrava-me de ter caído ao chão... As informações pareciam querer entrar em minha mente, mas de forma lenta...

Conseguia relembrar de minha ida ao País das Maravilhas, da conversa que tive com Absolem... Mas a memória estava falhando, talvez por eu ter acordado agora.

- Tem todo direito de saber, claro! Infelizmente foram a um lugar o qual não havia autorizado Glutton a entrar... A minha coleção de bonecas é restrita, poderá vê-las apenas comigo ao seu lado.

São preciosas, cada uma delas tem um efeito único... São minhas eternas amigas. Mas sua aproximação foi de uma criação muito específica e mortal, a qual liberou um gás tóxico em seu rosto.

Por que diabos ele teria uma boneca com um gás tóxico dentro? Isso criava-me dúvidas sobre os brinquedos de Jason serem assassinos iguais a ele.

- Mas fique tranquila, Mr. Glutton já cuidou disso, e a responsável foi devorada.

Jason diz com uma risada sinistra e baixa, passando sua mão por meus cabelos desgrenhados, dando-me outro gole daquele remédio.

- Injetei o antídoto em seu braço esquerdo. Ele contém alguns efeitos colaterais, pois não terminei de desenvolve-lo totalmente... Mas nada grave.

Havia a marca das minhas veias por todo o braço onde havia sido aplicado o antídoto, estavam mais roxas do que o normal, quase pretas, saltadas sobre a pele.

- Não tenha medo, meu amor... Irei ficar o tempo todo com a senhorita, não tirarei os meus olhos de você por mais nenhum segundo...

Os olhos de Jason estavam acima dos meus, brilhantes, verdes, claros, lindos.

Mesmo que sua entonação e expressão fossem um tanto ameaçadoras, já sabia que esse era o seu jeitinho de cuidar de mim...

- Serei sua sombra...

Jason, The Toy Maker - O Outro Lado do GumeOnde histórias criam vida. Descubra agora