CAP. 148 - Devorador de Almas

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Cabelos negros e compridos, um tanto ondulados, dividido em várias camadas, com mechas caindo por seus ombros um tanto largos.

Alto, robusto, uma postura impecável... Ar autoritário, tão pálido quanto o gelo, parecia até mesmo estar morto em suas vestes mórbidas e clássicas.

Olhos escuros, os quais ressaltavam por sua pele fria, pois continham olheiras intensas e escuras, tornando seu olhar mortal e penetrante. Por algum motivo, não conseguia deixar nossos olhos fixados por muito tempo, era impossível.

Sua aura era estranha, algo que jamais havia visto em todos esses anos... Parecia ser maligno talvez, algo que nunca criei, não era uma obra minha.

Um semblante arrogante, prepotente, convencido e cheio de si... Marrento. Mas por algumas poucas palavras que me foram deferidas antes, sua voz destoava de sua figura física.

- De qualquer forma, ainda não sei quem é você!

As cartas estavam diminuindo o espaço ao meu redor, aos poucos, mas não ficava tão preocupada com isso. Entretanto, toda a minha atenção focava-se naquele homem caminhando lentamente até mim.

V. - Compreendo a sua preocupação, linda.

O Valete retira uma rosa negra de seu bolso, cheirando-a fortemente em seguida, fechando os seus olhos ao sentir aquele aroma suave penetrar suas narinas.

Apenas a alguns passos de distância, ele para, com um leve sorriso petulante em seus lábios, desafiador, joga a rosa negra em minha direção.

V. - As rosas negras são mais belas que as vermelhas, não acha?

- O que quer de mim?

V. - Gostaria de lhe conhecer melhor.

- Perdão? - Ele realmente achava que em meio a guerra, esse era o momento para isso? Mesmo que não fosse, não!!

V. - Sabe, princesa, gosto quando os momentos caminham de forma lenta...

Ele ameaça aproximar-se ainda mais, fazendo-me retirar a Lâmina Vorpal de minhas vestes, apontando-a para sua garganta.

O Valete, então, ergue suas mãos para cima em defesa, porém parecia realmente convencido de que eu não iria machucá-lo.

V. - Fique calma, não gostaria de ter que usar a força contra uma linda boneca de porcelana...

Levanto uma sobrancelha em ameaça e desdém, mas ele troca um sorriso arrogante.

V. - Claro, uma boneca daquelas trancadas em um armário de crucifixos, com avisos para não abrir a caixa de vidro.

- Qual é o seu problema??

V. - Você.

Seus dedos envolvidos por sua luva de couro preta, tocam sobre a ponta de minha lâmina... Enquanto seus olhos tomavam conta de minha alma.

O olhar, que antes era tão difícil de manter, agora era inquebrável. Não poderia nem sequer piscar, estava envolvida em um portal sem volta.

Parecia ser uma espécie de hipnose, minha respiração tornava-se lenta, calma... Perdia-me cada vez mais em seus orbes profundos.

Conseguia compreender tudo ao meu redor, mas imóvel, sua outra mão envolve a minha cintura com ternura. Sentia como se a minha alma estivesse sendo devorada a cada segundo... Consumida por ele.

- ... O que está acontecendo? - Com dificuldade consigo pronunciar estás palavras.

V. - Diga-me... Para que ir com pressa, se posso acalmar essa sua intensidade?

Meus lábios estavam congelados, apenas tremia-os ao tentar falar, sem sucesso...

V. - Não... Quero degustar cada parte de você lentamente... E começar pela sua alma.

- Alma?

V. - Sim... A sua é a que mais almejo! Algo tão único, tão importante quanto a sua carne temporária, a qual até os vermes poderão tocar. Não... Quero ter o que ninguém conseguiu antes, quero algo que ninguém jamais apreciou os detalhes, a sua alma.

Estava sendo carregada por ele, totalmente paralisada, ouvindo sua voz entrar por meu cérebro, deixando a minha mente cega.

V. - Sua alma é tão bela, querida... Estou sentindo... Posso ver.

As paredes interiores do castelo me corrompiam, mas nosso contato visual ainda não havia sido desfeito.

V. - Quem sabe... Quando tudo isso acabar, possamos nos conhecer melhor e, finalmente, será completamente minha, além dos prazeres da carne!

Uma lágrima escorre de meu olho direito, deixando-me, por um instante, feliz... Sem nem sequer saber o motivo de tal reação...

Talvez suas palavras poderiam ser algo que em hipótese alguma teria escutado, uma sinceridade inalcançável, leve canção para os meus ouvidos, um calmamente para a alma... Seus lábios pálidos não mentiam.

Mas então, algo quebra a nossa conexão, um estrondo, o qual invade as paredes internas do castelo vermelho.

E nosso contato visual é desfeito com aquela interrupção, fazendo-me balançar a cabeça sutilmente em negação, como se fosse um efeito a se esvair por meu corpo, voltando a "realidade".

Mergulhadores do Carpinteiro invadiam cada centímetro daquele local, deixando as cartas em desvantagem, pois os exércitos do Chapeleiro estavam em retaguarda.

Enquanto recuperava a minha alma, percebia que ainda estava em seus braços. Porém, o Valete corria, desesperado, apertando-me contra o seu peito.

V. - Merece muito mais do que alguém que use o seu corpo de uma forma tão abusiva quanto Jason, e não valorize a sua alma! Vendo-a apenas como um objeto, Alice!

Carregada por um Devorador de Almas...
Orgulhoso... Pretensioso... Desdenhoso... Mas correto e sábio.

Estou finalmente louca? Não, ainda estou sob seu controle... Uma hipnose a qual levemente lebrava-me as que Angus aplicava.

Jason, The Toy Maker - O Outro Lado do GumeOnde histórias criam vida. Descubra agora