Assim que Mr. Glutton para de falar, sinto os meus olhos ficarem marejados, com um sentimento estranho formando-se dentro do meu peito...
Sinto os meus lábios até mesmo secarem, por não terem o que falar ou responder, pois não estava pensando em dizer algo após aquilo... Conseguia apenas pensar em Jason.
Ele havia sido rejeitado de forma cruel, mesmo que seus atos tenham sido incompreensíveis... Eu os entenderia perfeitamente, pois faríamos qualquer coisa por alguém que gostamos.
E a maioria das pessoas não entenderia Jason, não entenderia como sua grandiosa mente funcionava, e que seus brinquedos eram um escape para tudo o que se passava ali dentro...
Jason merecia ser tratado de forma especial, ser idolatrado. Apesar de suas atitudes um tanto desumanas, ele tinha muito mais qualidades maravilhosas, as quais mereciam total reconhecimento... Talvez eu pensasse assim pois estava começando a amá-lo...
G. - Você está bem? Está fazendo uma cara de louca...
Ainda não o respondo, pegando o bule ao seu lado, enchendo minha xícara novamente, olhando para Glutton fixamente enquanto bebia o chá. Ele se afastava vagarosamente...
Estava feliz, maravilhada, impressionada por sua história, se eu pudesse explodiria ali mesmo, deixando todo o meu amor manchar as paredes de Jason.
- Onde está Amélia?
Digo com um enorme sorriso em meu rosto, oferecendo minha xícara a Glutton, o qual recusa com um aceno de "não" com sua cabeça de pano.
G. - Não iria fazer diferença alguma você saber disso.
Respiro fundo, colocando a porcelana azul sobre a mesa, aproximando minha mão do rosto de Glutton, fazendo carinho, mesmo ele tendo receio por algum motivo, afastando o seu rosto de forma arriscada ao meu toque.
- Por isso mesmo, não fará diferença alguma eu saber ou não... Então não custa nada me contar... Ou sua boca serve apenas para comer?
Falo olhando o interior de sua boca, observando um braço de "cera", com os dedos em sua garganta, ainda não digeridos, provavelmente na boneca a qual havia me intoxicado.
G. - Posso fazer várias coisas com a minha boca, mas isto não é da sua conta.
Um silêncio mortal paira no ar, deixando meus olhos fixos nos dele, não quebrando por nenhum segundo.
G. - Escute, TALVEZ Amélia esteja viva, eu não sei...
- Por que não sabe?
G. - Bem, acha que ela estaria viva com 96 anos?
Meus olhos se arregalam ainda mais para Glutton. Se eu estivesse tomando o chá, com certeza teria cuspido em seu rosto.
- ... O quê?
G. - Isto aconteceu a muito anos, Alice... Não vale a pena reviver o passado. Apenas achei que merecia saber após tudo o que passou...
- ... Espere...
Digo encarando a mesa, com os lábios trêmulos por alguns instantes de ansiedade.
G. - O que foi?
- .. Quantos.. Anos... Jason tem?
G. - Quantos você acha? - Glutton diz zombando de mim, em seu riso sarcástico.
- Estou falando sério!!
G. - Tudo bem, tudo bem! Hm, ele era um pouco mais velho que Amélia... Então ele teria... Talvez 98? Acho que sim.
Coloco minhas mãos sobre meu rosto frio, não acreditando que em todo esse tempo eu estava... Eu estava.....
G. - O que você achou, garota? Que os cabelos brancos dele eram tinta? São realmente naturais!
Encaro Glutton, incrédula, ainda processando aquela informação, decidindo o peso que aquilo teria em nossa relação...
G. - Vai me dizer que um homem experiente não faz o seu tipo.
- E bota experiência nisso, não é?
Falo em um tom nervoso e um tanto brincalhão, mas a realidade é que eu estava apenas nervosa mesmo.
G. - Não se preocupe tanto com isso... É até melhor para você alguém como ele.
- Como assim? O que tem de errado comigo?
Glutton me olha dos pés da cadeira, até o topo dos meus cabelos, piscando em seguida, dando uma risada interna.
G. - Imagina... Não acho que tenha nada de errado em você... Pelo menos, não fisicamente.
- Acho que preciso de mais chá...
G. - Precisa recompor-se. Sei que isto não fará diferença alguma, apenas pelo jeito que olha para ele.
- Eu... Acho que..
Agora eu realmente me engasguei com o chá, tendo dificuldades para engoli-lo.
G. - Acha o que, garota?
Assim que as palavras estão prestes a sair, sinto o meu coração praticamente explodir em meu peito, algo grandioso demais para ser dito.
Sentia uma imensa vontade de expor o que continha dentro de mim, da forma mais intensa que poderia! Sabia que meus olhos estavam brilhando pela emoção.
G. - Está fazendo aquela cara de novo...
Minha cabeça, meu cérebro, minha mente... Sinto como se estivessem se abrindo, fazendo a minha visão ficar turva por alguns segundos, modificando quase tudo ao meu redor.
As paredes da cozinha começam a ficar cobertas pelas plantações, com os cogumelos grudados nas trepadeiras. Alguns saiam das lajotas do chão, deixando a vegetação tomar conta e a brisa fluir no ar.
- Consegue ver??
G. - Ver o quê?
Meus olhos rodavam pela cozinha, enquanto mais cogumelos cresciam em tamanhos desproporcionais, o chão tornava-se praticamente grama, e metade do meu mundo estava entrando em mim, dando-me a vitalidade de que tanto precisava para sobreviver a Jason... Estava em Londerland outra vez.
Eu.. Havia conseguido fazer o que Cheshire disse... Consegui fundir os dois mundos em um só, após sentir arduamente que amava Jason. Apenas um sentimento tão forte assim poderia desencadear tamanha força em meu interior para trazer um pouco do País das Maravilhas aos meus olhos...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Jason, The Toy Maker - O Outro Lado do Gume
Romansa๑Dark Romance๑. +18 - Querida Alice Liddell... O seu País das Maravilhas será meu! Suas palavras eram tão doces, assim como a sua feição e o seu jeito encantador. Mas, as coisas muitas vezes não são o que parecem ser... Jason não era apenas um home...