CAP. 86 - Língua de Víbora

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Jason estava fechando o zíper atrás de meu vestido, amarrando o corset de forma mais apertada em meu busto, penteando os meus cabelos em seguida.

Estava sentada em uma pequena banqueta no banheiro, a qual ficava em frente da estante de maquiagens, esperando recuperar o movimento de minhas pernas... Isto era muito vergonhoso.

- Acha que devo ser mais gentil com a senhorita?

- Gentil?

- Sim, não quero deixá-la aleijada... De forma alguma.

Mudo a expressão em meu rosto para uma raiva repentina, virando meu pescoço para Jason atrás de mim, encarando-o severamente.

- Não se engane, eu aguento o que vier!

- Vou aceitar a sua resposta... E veremos se isto é realmente verdade outra hora.

Ele havia prendido o meu cabelo com um prendedor de rosas vermelhas, fazendo um coque muito bem contorcido acima de minha cabeça, deixando as franjas laterais divididas ao meio caírem aos lados do meu rosto.

- E então?

- Devo admitir que sua habilidade com esse tipo de coisa é enorme. Ficou lindo..

- Claro que sua beleza realça ainda mais a minha obra.

Levanto-me da cadeira, como se estivesse aprendendo a andar novamente, com passos pequenos, mas não deixando isso transparecer.

- Irei fazer um chá da manhã reforçado para a senhorita... Com certeza precisa disto.

Retribuo com um sorriso, enquanto Jason abre a porta para nós dois sairmos, dando-me a frente para o corredor.

- Pensei que teria que lhe dar mais uma dose do antídoto, mas reagiu mais do que bem com apenas a primeira. É interessante como o seu corpo funciona...

- É realmente curioso, não é?

Gostava de deixar Jason pensativo e com dúvidas quanto a mim... Seu rosto ficava um pouco engraçado quando pensava demais.

- Muito além disso...

Andávamos cada vez mais em direção a cozinha, escutando alguns barulhos estranhos virem de lá, fazendo-me franzir o cenho a cada passo dado.

P. - EEAAAEEEEEEE!!

G. - Eaaaee!

P. - Não, não! Você está fazendo errado! Tem que gritar mais e deixar sair do fundo de sua alma!

G. - EAAAEE!!

P. - Isso, está quase conseguindo!

Haviam confetes espalhados pelo chão da cozinha, deixando pairar em minha mente o que poderia ter acontecido aqui. Teriam até mesmo balões roxos dependurados no teto, como se realmente estivesse acontecendo uma festa.

- Não toque nos balões, querida.

- Está bem...

P. - Esses aí são inofensivos, pode tocar se quiser!

- Não acredite nele, apenas não toque.

Concordo com a cabeça, sentando na mesa junto a Candy, que estava devorando outro pacote de balas.

Jason estava pegando uma frigideira do armário, colocando um pouco de óleo e dois ovos em cima da mesma, em seguida adicionando os temperos, ligando o fogo da boca do fogão.

P. - O que está fazendo Jason? Cozinhando sem o seu avental preferido?!?

Candy retira de baixo da mesa um avental cheio de corações vermelhos, indo em direção a Jason e amarrando em seu corpo.

- Desnecessário! Extremamente desnecessário!!

Coloco a mão por cima de minha boca, tentando não rir com aquilo, vendo que Jason já estava ficando nervoso demais em fazer uma simples omelete.

Mas, neste instante, todos olham para a entrada da cozinha, fazendo-me virar a cabeça para observar o que encaravam em tanta apreensão.

Era um ser enorme e alto, monocromático, com um nariz pontudo e olhos extremamente azuis claros, entretanto muito mais assustador que os Jason e Candy juntos... Talvez fosse realmente um palhaço pelas roupas que vestia.

Jack - Voltarei outra hora...

E aquilo simplesmente some em uma névoa negra bizarra, deixando-me com várias perguntas pairando em minha cabeça.

- ... O que foi isso?

P. - Você viu?!? Ele simplesmente foi embora porque eu estava aqui!! Que cara mais antipático.

- Horas, ele não é antipático. Apenas não gosta de você, assim como não gosta dele também.

P. - Sabe o que isso significa, Berenice? Que palhaços não são tão legais quanto você pensava.

- Ah, mas Jack é muito legal sim! Pois ele ao menos me paga pelos meus serviços!!

P. - Pensei que nossa amizade era o maior pagamento que poderia ter!

E os dois ficaram discutindo por minutos e minutos, até Jason terminar o nosso café da manhã, enquanto Candy jogava algumas balas em minha direção, como se eu fosse um cachorro para pegar as comidas que ele lançava.

Não sabia o que era aquela coisa que apareceu, mas com certeza não queria encontrar novamente sem Jason por perto... Ele não parecia ser muito agradável...

- Querida, deixarei você tomando o seu chá da manhã. Enquanto isso, levarei Candy Pop para o meu ateliê, está bem?

- Tudo bem, agradeço muito pela comida.

- Imagine... Depois de ter quase morrido, o mínimo que posso fazer é cuidar da senhorita.

Acho que estava me iludindo demais por Jason, mesmo sabendo que ele não era desse jeito doce que demonstrava ser quase o tempo todo...

P. - Até mais, Berenice!

- Meu nome é Alice, Alice Liddell.

P. - Apenas entre na onda.

Candy abaixa sua cabeça para passar pela porta da cozinha, seguido por Jason, deixando-me com Mr. Glutton deitado próximo aos meus pés.

Assim que começo a comer, escuto a sua voz sútil de víbora.

G. - Ei, garota... Sinto muito pelo que aconteceu com você, apenas queria que conhecesse mais esse lugar.

- O que importa é que estou bem melhor agora.

G. - Claro... Mas de qualquer forma, acho que devo recompensar você.

- Recompensar?

G. - Eu havia lhe contado que existiu uma garota, a qual Jason demonstrou sua piedade apenas uma vez. Quero contar mais sobre ela a você.

Jason, The Toy Maker - O Outro Lado do GumeOnde histórias criam vida. Descubra agora