- Mas eu entendo, claro, pois iria fazer pior.
Não duvidaria que fizesse o mesmo...
- Mas... Eu não estava em sã consciência... Eram muitos remédios e retiraram algo especial de mim...
- Claro... O que não fazemos para proteger os nossos brinquedos, não é?
- ... Por um momento, pensei que... Quando descobrisse estas coisas horríveis sobre mim, não iria mais me querer em sua casa.
- Horas, obviamente não, querida. Compreendo muito bem a sua situação. Na verdade, acho extremamente interessante as suas atitudes... Fiquei fascinado ao saber disto.
- Fascinado... Exatamente pelo quê?
- Pela sua muiteza, coragem e ao mesmo tempo inteligência, minha cara. Além de ter a capacidade de retirar vidas sem hesitar...
Não consigo responder nada, apenas o encaro, logo olhando para as pastas na mesa...
As bolachas já haviam acabado, provavelmente deveria ser de tarde. As horas teriam passado tão rapidamente que não havia notado.
Mas, por incrível que pareça, estava sendo bom ler aquilo junto a Jason... Ele parecia compreender mais do que qualquer um... Mais do que os próprios médicos.
- Ah, também li que faziam testes de choque envolvendo o seu coelho, retirando-o da senhorita...
- Sim... Por muito tempo fizeram isso, achando que eu iria falar ou demonstrar algum bom resultado. Mas era óbvio que isto não iria acontecer, apenas deixava-me em histeria novamente.
- E como era este seu pequeno coelho?
- Ele... Se parecia muito com o Bons Sonhos... Mas era bem mais velho e sujo pelos anos. Acho que, talvez por isto, não tive receio quando percebi que ele estava vivo, apenas o acolhi em meus braços... Era o que eu fazia com meu antigo coelho, dormia com ele todas as noites, sem exceção.
- Se este for o caso, o Bons Sonhos poderá ser seu, enquanto ficar ao meu lado... Ele gostou da senhorita, deve ter sido por estes motivos que se afeiçoou tanto a você.
- E como ele poderia saber os meus motivos?
- Ah, Bons Sonhos é um brinquedo muito especial, como já lhe disse antes... Sabe, ele não foi feito por mim realmente, por isso também tenho minhas dúvidas sobre ele, mesmo estando sobre os meus comandos. Mas, respondendo a sua pergunta... Ele entra dentro das mentes das pessoas, causando sonhos não muitas vezes agradáveis...
- Não tive pesadelo algum nas vezes em que dormi junto a ele...
- Ele não faria isto com alguém que o recebeu com tanto afeto e carinho. Aliás, eu não o deixaria fazer isto também.
Jason estende suas mãos para mim, segurando os meus dedos...
- Mas... Por enquanto a senhorita poderá dormir abraçada a mim.
- ... Acho que não preciso mais de um coelho, então...
- Se quiser, posso utilizar orelhas de coelho para se sentir mais confortável...
Acho que sinto minha cabeça flutuar por alguns instantes, imaginando esta cena em minha mente... Ele ficaria tão fofo, mas ao mesmo tempo não queria que ele precisasse fazer algo assim por mim...
- Seria amável, mas creio não ser necessário...
- Bem, caso mude de ideia, estou a sua disposição, querida.
Jason segura nas folhas da pasta, avançando algumas folhas para frente. Ele deveria saber corretamente onde estava cada coisa sobre mim...
- Gostaria que me explicasse sobre isto, minha cara... Já houveram alguns sinais anteriores sobre este tal mundo subjacente ao nosso, o qual dizia estar. Mas, aqui ficou mais claro do que nunca.
Começo a ler a folha, a qual ele havia apontado, já sabendo muito bem sobre o que se tratava...
"Outono de 1873: Após oito anos de sono irregular, Alice Liddell começou a falar desenhando. Sua primeira foto foi um gato sombrio e sorridente, o qual não teria um nome específico."
"Enfermeira D- assumiu a responsabilidade de substituir o olho perdido de sua boneca de coelho, mas quando Alice viu o trabalho de reparo, ela começou a soluçar histericamente e começou a falar pela primeira vez em rima enigmática:
""No buraco novamente, nós corremos ao longo do nosso caminho para um jardim outrora glorioso, agora infiltrado em decadência escura.""
"Alice Liddell não parava de chorar até que o novo olho fosse removido e retornasse ao seu estado de quietude após a remoção. O evento permitiu ao Dr. Wilson descobrir que Alice poderia falar. Desde então, Alice continuou a se comunicar por meio de seus desenhos, um dos quais Wilson acreditava poder ter sido sua representação de pesadelo do Inferno."
E as palavras não paravam... Pois, foi nesta época, que comecei a expôr todo o meu País das Maravilhas para as pessoas ao meu redor... Talvez, devesse ter ficado em silêncio.
Assim que começo a virar as folhas, encontro o meu primeiro desenho que havia feito, fazendo-me por a mão em minha cabeça...
Jason coloca seu dedo sobre ele, com um leve sorriso em seu rosto...
- Este é Cheshire, estou correto?
- Sim... É Cheshire...
- Parece ser real demais para a imaginação de uma doce garota.
Isto é porque talvez realmente fosse real... Mas até eu teria as minhas dúvidas. Um mundo moldado pela minha mente, porém real... Parecia ser impossível.
- Talvez... Poderia ser real, não é?
Olho o restante dos desenhos, tendo um com o coelho branco, utilizando um colete pequeno e preto, tendo um enorme relógio de bolso em suas patas, com olhos agressivos e uma cartola brilhante e preta entre suas orelhas longas e pelos bagunçados. Mas, havia uma anotação em seu rodapé.
"Dezembro de 1873: o Dr. Wilson removeu o coelho do quarto de Alice, fazendo-a entrar em pânico e gritar incontrolavelmente. No entanto, depois de cinco meses, a enfermeira D- se cansou dos infrutíferos tratamentos de choque do médico e consertou a boneca antes de devolvê-la a Alice. A enfermeira foi recompensada com um desenho do Coelho Branco feito por Alice."
- Sempre um coelho branco?
Olho para Jason, voltando a realidade...
- Acho que tenho um fascínio por perseguir animais brancos, talvez já tenha virado um hábito...
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Jason, The Toy Maker - O Outro Lado do Gume
Romansa๑Dark Romance๑. +18 - Querida Alice Liddell... O seu País das Maravilhas será meu! Suas palavras eram tão doces, assim como a sua feição e o seu jeito encantador. Mas, as coisas muitas vezes não são o que parecem ser... Jason não era apenas um home...