CAP. 88 - Rara Piedade

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Observo Mr. Glutton rastejar-se por cima da mesa da cozinha, empurrando algumas comidas para o lado, mas com cuidado para não derrubá-las.

Ficamos frente a frente, enquanto eu seguro uma xícara de chá em minha mão, encarando sua enorme boca se mexendo.

G. - Eu presenciei tudo... Jason estava tão mal naquele dia, mas ninguém o compreendeu... Muito menos Amélia.

- Este é o nome dela? Amélia?

G. - Sim. Jason e Amélia eram amigos desde a escola... Jason era o único amigo de Amélia, e ele fazia de tudo para sempre ser assim e ela apenas precisar dele... Ou fazê-la achar isso.

Ele era o modelo estudantil de onde estudavam, sempre chamou muita atenção de qualquer forma, sempre foi Jason... Bem, era o que seus pais queriam. Não demonstravam carinho ou afeto por ele, mas Jason sabia que eles o amavam mesmo assim.

Ele sempre foi sozinho, de qualquer forma, até Amélia tentar fazer amizade com ele... A professora sacrificou Amélia, vendo que Jason era tímido e as outras crianças zombavam dele por causa disso.

Mas... Já sabemos que temos aqui um lobo em pele de cordeiro, e desde criança ele era assim. Jason não era fraco, pelo contrário, era manipulador, um mestre do engano.

Mas, na verdade, ele nunca fez mal a ela, apenas queria ser seu amigo e protege-la... Poderia ter sido uma amizade normal entre crianças, não é mesmo? Poderia...

Talvez, o que o próprio Jason não conseguia entender, era que a falta de relacionamento com os pais criava um grave vício afetivo.

Ele sempre quis ser o mais importante para Amélia, gostava de dizer que era o único amigo de que ela precisava e a deixava insegura...

Jason não procurava amor e talvez nem carinho, ele queria ser elogiado. Ele queria ser importante para alguém e isso o fazia se sentir... vivo. Ele sentiu que existia e foi ótimo.

Ele queria sentir isso de novo e de novo, então fez Amelia acreditar que o mundo é um lugar cheio de pessoas más e quem ousou interferir pagará por isso, machucando seus amigos.

O vício afetivo e as manipulações muitas vezes levaram Jason a fazer coisas ruins...

Quanto mais ele crescia, mais perigoso e maldosamente agia, obviamente sem diminuir os atos anteriores! Nesse ínterim, a pobre e ingênua Amélia, impressionada com a gentileza e suas belas palavras de Jason, parecia descuidada com os incidentes estranhos que aconteciam ao redor dos dois. Ou talvez, em outras palavras, ela não quisesse ver.

Quando ficou adulto, Jason decidiu abrir uma loja de brinquedos e seus pais o expulsaram de casa por conta dessa decisão. Que decepção para eles... Depois de anos de trabalho duro, o filho deles escolheu um trabalho tão estúpido e vergonhoso.

Ao contrário do que imaginavam, Jason ficou feliz e se tornou um talentoso fabricante de brinquedos. Faziam filas e filas para entrar em sua loja.

Como todas as noites, Amélia visitava o "amigo" quando a loja fechava para lhe fazer companhia... E nisso, uma conversa veio a tona, e Jason perguntou para Amélia: "Você se lembra da carta rosa?"

E Amélia se lembrava claramente, pois foi um dos dias mais desagradável de sua vida... Ela, aos seus 15 anos, acabou se apaixonando por um garoto de sua turma.

Ela não teve coragem de confessar seus sentimentos e obviamente Jason a assustou como sempre: "Se as pessoas descobrirem suas fraquezas será o fim. Não acho que seja uma boa ideia", mas a amiga de Amélia disse o contrário, discordando de Jason e encorajando-a a escrever uma carta.

Jason, The Toy Maker - O Outro Lado do GumeOnde histórias criam vida. Descubra agora