Capítulo 76

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Capítulo 76 – Digão

Não é mais segredo pra ninguém que mexer com a minha mulher faz eu virar o diabo na terra. Descontei meu ódio na cara daquele cuzão filho da puta, mas o sentimento ruim ainda tá aqui no meu peito, porque eu sei que a vida dela foi um inferno na mão dele. E qualquer coisa que tivesse feito, ainda seria nada comparado ao que ele merecia.

Eu sabia que o Ney era um merda e paguei pra ver. Só não fiquei aqui pra ver o resultado, quem se prejudicou foi a minha mulher e os meus funcionários. Isso é uma parada que não posso aceitar, mas as consequências nunca me importaram antes. Enquanto fui só eu por mim, não me preocupava com porra nenhuma. Agora é diferente.

Deitado na cama dela, tento relaxar a cabeça pela primeira vez depois que voltei. Tarefa difícil pra caralho. Não sei nem que horas são. Meu corpo tá morto e minha mente não para, tenho uma porrada de merda pra lidar e a sensação é que tô só adiando.

Não vejo a hora de encarar o Tauã e dizer o quanto eu avisei que ia dar merda. Não vejo a hora de encontrar o Rael cara a cara pra saber quem esse fudido pensa que é pra se colocar contra mim.

Mas tudo fica em segundo plano quando Luara vem em direção a cama, vestida só com uma blusa minha e as tranças jogadas de lado. É o tipo de cena que nunca mais vai perder o valor pra mim, por um mês eu só queria ver a minha pretinha assim... Admirar ela, toda linda, vindo até mim.

Ajudo ela a subir no colchão e ela deita do meu lado, apoiando a cabeça no meu peito. Puxo ela pra mais perto de mim, sentindo o cheirinho que me relaxa. É bizarro pra caralho, até o cheiro da minha mulher tem poder sobre mim.

Digão: Desculpa por hoje, preta — falo baixo, encostando a minha boca na testa dela — É uma face de mim que não gosto de te mostrar.

Luara: Você fez o que tinha que fazer... — vira de frente pra mim e me abraça mais forte — Hoje, eu entendo. As coisas fugiram do nosso controle...

Digão: Eu não queria que você tivesse vivendo isso tudo — sou sincero — Papo reto, pretinha. Não queria significar tanto caos na sua vida...

Luara: Eu sabia que você era caos desde o momento que te vi pela primeira vez, eu já te disse isso...

Digão: Eu não devia ter te colocado na minha vida assim — respiro fundo, inalando o perfume, pra aliviar o incômodo que eu tô sentindo.

Luara: Até parece que ia conseguir viver sem mim — sorri e beija meu pescoço, enquanto eu passo a mão pela lateral do corpo dela.

Ela tem razão. Sei o tanto de coisa ruim que significo na vida dela, mas sou egoísta pra caralho e não consigo abrir abrir mão dela. Quase tudo o que tem de bom em mim veio dela, não sou capaz de viver sem isso. Preciso dela.

Digão: Papo reto — beijo o narizinho dela e depois a boca — Tu nasceu pra ser minha, me fez confiar. Foi feita toda mandona, marrentinha e gostosa assim pra virar minha mulher.

Luara: E você foi feito assim, teimoso à beça, pra enfrentar o mundo e só abaixar a cabeça pra mim — ela franze o narizinho e eu rio.

Digão: Só pra você... — beijo ela mais uma vez, sentindo a textura gostosa dos lábios — Você manda e o seu negão obedece.

Luara: Eu gosto assim — passa os braços pelo meu pescoço e me abraça mais forte

(...)

Acordo no meio do sono, no susto, e meu coração acelera quando não vejo a Luara deitada do meu lado. Olho pelo quarto, procurando por sinal dela, mas não vejo nada através da luz da lua que entra pela janela, só o rádio no lugar onde deixei.  Pego o celular debaixo do travesseiro e não tem nenhuma mensagem dela.

Sinto um frio percorrer a minha espinha. Quase um medo da última noite que passamos juntos estar se repetindo, mas ao contrário agora, ela indo e eu ficando. Puxo a arma sob o travesseiro e levanto da cama, indo procurar ela pela casa, ainda com o coração descompassado.

Digão: Lua? — chamo quando chego na sala, mas ela não responde — Caralho...

Bufo, indo em direção à cozinha, mas ouço barulho vindo do banheiro. Aperto a arma mais forte com a mão direita, ando a passos largos e abro a porta, encostando na lateral do batente, sem saber o que vou encontrar.

A pia está vazia e Luara tá ajoelhada de frente pro vaso, segurando a cerâmica e respirando fundo.

Digão: Tá passando mal, preta? — franzo a testa e ando até ela, deixando a arma em cima da pia — Tomei um susto do caralho quando acordei e tu não tava lá. — Abaixo do lado dela e seguro as tranças atrás do corpo dela — Tá sentindo o que?

Luara: Tô muito enjoada, mas não consigo vomitar — diz baixo e continua respirando fundo.

Aliso suas costas, por cima da blusa e olho bem pra ela. O rostinho demonstra cansaço e a pele tá pálida... Tento entender o que tá acontecendo.

Penso que pode ser alguma coisa que ela comeu, mas Luara sempre come pra caralho e em qualquer lugar. Nunca passa mal.

Digão: É só enjoo que a minha pretinha tá sentindo? — faço carinho nas costas dela.

Luara: Só... — diz com a respiração entrecortada enquanto uma lágrima escorre pela bochecha e eu limpo.

Luara nunca chora. Hoje ela chorou a cota de um ano inteiro.

Desço o olhar pelo corpo dela, minha camisa cinza cobre até metade das coxas grossas, enquanto ela senta em cima da perna dobrada. 

Luara tá diferente. Eu conheço esse corpo do jeito que nenhum vagabundo nunca vai conhecer.

Um mês não é capaz de mudar uma mulher desse jeito. Foram 33 fudidos dias pra mim, mas não era o suficiente pra tanta mudança. A imagem do corpo dela contra a porta da minha sala na casa amarela vem à minha mente.

Digão: Tu tá grávida.

Ela ergue o olhar na minha direção e eu sinto meu coração queimar. Ela já sabe.

Meu corpo todo tá dormente e eu não consigo formular uma frase.

Eu vou ser pai?

Saio do transe quando ela volta a se apoiar na cerâmica fria e vomita forte.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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