LETÍCIA
Flashback on
Cheguei ao meu destino depois de alguns minutos no trânsito caótico de São Paulo, principalmente quando é final de tarde, e as pessoas estão voltando do trabalho.
Estava ansiosa, seria a primeira vez que eu ia fazer isso, era uma mistura de medo com ansiedade, mas era preciso ser feito. Não tinha tempo para arrependimentos.
Entrei no local bem rápido, depois de estacionar o carro.
– Oi, e aí como ele está? – pergunto.
– Mal. – Danni responde.
– Você vai ter que operá-lo, senão ele vai morrer. – ela diz.
– Eu vou operá-lo. – digo.
– Por favor, vai preparando a sala enquanto eu me troco. – falo.
Entrei no banheiro da minha sala e troquei de roupa.
Danni tinha me ligado desesperada dizendo que um dos cachorrinhos da ONG tinha sofrido um acidente quando ela o levou para passear, e que ele precisaria ser operado. O desespero dela ao telefone me fez ficar desesperada também.
A pessoa que atropelou saiu e não ajudou em nada, por sorte tiveram outras que a ajudaram. Danni fez os primeiros-socorros e isso garantiu que ele não morresse no local, ela foi muito rápida, agiu acima da emoção do momento. Agora dependia de mim, salvar a vida daquele cãozinho.
Me preparei e pedir a Deus que eu pudesse salvá-lo, se ele morresse em minhas mãos eu ficaria muito mal. O trauma seria muito grande e eu me culparia para sempre.
A situação era delicada, quando vi o real estado do cachorro me bateu um certo desespero. Parei e antes de começar respeitei fundo e mais uma vez pedi a Deus sabedoria.
Comecei o procedimento, a Danni ia me passando o material necessário. Foram horas dentro da sala, o silêncio do local, o sangue, e os meus pensamentos pareciam fazer o tempo andar mais devagar.
Depois de mais de 4h, finalmente terminamos. Olhei para a minha auxiliar incrível e sorri com os olhos.
– Ufa! Que alívio. Ele está salvo. – Danni diz.
Eu estava exausta, e lágrimas rolavam pelo meu rosto. A sensação de ter conseguido me fez lembrar de quando eu decidi pela medicina veterinária, de quando eu resolvi abri a ONG. Me lembrei dos meus pais e de todo apoio que eles sempre me deram. Eles sempre me falam do orgulho que tem de mim, e eu sou muito agradecida a Deus por ser filha deles. Cada qual a sua maneira me faz sentir amada e abençoada.
Assim que eu dormisse e descansasse, ligaria para eles para contar o que aconteceu e o que eu fui capaz de fazer.
– Graças a você, Letícia, ele não morreu. – Danni diz, interrompendo meus pensamentos.
– Nem acredito que eu consegui e que ele vai ficar bem. – falo ainda desacreditada de mim mesma.
– Você é a melhor, patroa. – ela diz, emocionada.
– Estou longe de ser a melhor, mas estou feliz de ter sido suficiente para salvá-lo. – falo.
– Eu tenho orgulho de você e hoje aprendi muito mais sobre a nossa profissão. – ela diz.
– Não me faz chorar mais do que eu já estou chorando. – falo e ela ri.
Saímos da sala e fomos tomar banho e vestir nossas roupas.
A noite ia ser longa, pois precisaremos ficar monitorando o cachorrinho por um bom tempo para ver como ele reagirá a cirurgia.
Ficamos mais 3 horas na clínica monitorando o cachorrinho, ele precisará de cuidados redobrados.
– Lê, você é muito corajosa. Não mede esforços para ajudar ninguém. Você é admirável. – ela diz enquanto a gente vai na cozinha tomar um café.
– Obrigada, Danni. Quando eu amo alguém ou algo, me doou por inteira. – falo.
– Sorte tem quem tem você na vida. – ela diz.
– Está me deixando constrangida. – digo com um riso de nervoso.
– Não fica. É a verdade. Outro conversando com o Nando ele disse que você é uma pessoa especial nas nossas vidas. Que a gente exerce a nossa profissão ajudando a cuidar de bichinhos que poderiam estar por aí sofrendo maus tratos. – Danni diz.
– Fico feliz em saber que vocês se sentem bem em trabalhar aqui. E saibam que vocês também são especiais em minha vida. Afinal, vocês me ajudam a realizar o meu sonho. – digo.
– Vou fazer um café pra gente ficar acordada. – digo mudando de assunto.
– Tem uns biscoitos aqui que eu trouxe essa semana. – ela fala.
– Precisamos reabastecer essa cozinha. – falo rindo.
– Tem um veterinário aqui que come mais que todos os bichinhos juntos. – ela diz.
– Deixa só ele te ouvir dizendo isso. – eu falo fazendo-a ri.
Enquanto eu fazia um café, nós fomos conversando sobre os cuidados que o cachorro precisaria ter durante o processo pós cirúrgico.
Fizemos uma escala de cuidados, deixando tudo bem alinhado, falei que se fosse preciso, contrataria outro vet para ajudar nesse tempo. E mesmo sem o Nando estar presente, tenho certeza que ele não faria objeção.
– Mais tarde eu ligo para o Nando e explico tudo direitinho para ele, antes dele vir para cá. – Danni fala.
– Se precisarem de alguma coisa, podem me ligar. – eu falo.
– Qualquer coisa eu cancelo meus compromissos e venho para cá. – completo.
– Acho que não vai ser preciso. A gente dá conta. – Danni diz.
Ficamos conversando sobre assuntos aleatórios para ver se o tempo passava mais rápido. Quando olhei no celular já eram quase 4h da manhã.
– Acho que podemos ir agora. – falo após conferir o horário no celular.
– Vou só dar uma última verificada para ver como as coisas estão. – Danni diz e eu acompanho-a.
Verificamos o cachorrinho antes de sair, apagamos as luzes e trancamos a clínica. Fui deixar a Danni na casa dela e depois fui para meu apartamento. Isso demorou bastante porque a Danni não mora perto da minha casa.
Cheguei no meu apartamento praticamente sem forças, tomei outro banho, dessa vez demorado, vesti um pijama, tomei um analgésico e me deitei, estava extremamente cansada, meus braços doíam muito e as pernas também. Fiquei muito tempo em pé, era uma posição extremamente desconfortável, onde qualquer movimento errado podia colocar tudo a perder.
Antes do sono me vencer, eu sorri feliz por ter conseguido operar um animal pela primeira vez. Agradeci a Deus por isso, me virei, coloquei um travesseiro entre as pernas, liguei o ar e fechei os olhos. Não vi a hora que eu apaguei.
Flashback off
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A Letícia é incrível. ❤️
Votem e comentem para mais capítulos.
Gracias por lerem até aqui!
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AMIGA MÍA - Jonathan Calleri
FanfictionQuando você pensa que vai salvar alguém e quem é salvo é você.