CAPÍTULO - 67

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CALLERI

Acordei cedo, estava muito ansioso. E quando a ansiedade vem, ela não me deixa dormir direito.
Tinha passado horas vendo uma música para colocar no primeiro cartão, até que optei por uma.

Liguei para a floricultura e pedi para separarem um buquê de rosas vermelhas, mas disse que fazia questão de escrever o cartão pessoalmente.

Fiquei em dúvida entre várias músicas, inclusive a que eu ouvi outro dia no carro, a do Jorge Vercillo, “Ela une todas as coisas”, mas no fim acabei escolhendo outra.

A música que escolhi para ir no primeiro cartão  era de uma banda chamada Roupa Nova, e eu lembro que o pai da Letícia cantou uma música dessa banda no luau, e disse que era uma das bandas favoritas deles. A música se chamava “Volta pra mim” e eu ia escrever assim no cartão:

“Eu te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir, ter você é meu desejo de viver. Sou menino e teu amor é que me faz crescer, e me entrego corpo e alma pra você”.

“Volta pra mim”

Com amor, do seu, para sempre seu,
Jonathan

São frases que dizem exatamente o que eu sinto e o que eu quero, que ela volte pra mim.

Peguei a chave do carro e desci, me despedi do meu filho bichológico e saí.

Coloquei a música no som do carro e gravei um stories quando o sinal fica vermelho.

"Sofrimento meu, não vou aguentar, se a mulher que eu nasci pra viver, não me quer mais" – foi esse o trecho que eu coloquei.

Cheguei à floricultura e o buquê já estava pronto, então eles me entregam o cartão e eu escrevo. Minha letra é horrível, mas dá pra entender.

– Aqui! – falo entregando o cartão.

– O endereço é esse. – passo o endereço do prédio dela.

– Talvez eu encomende todos os dias um buquê, mas eu ligo antes para avisar e depois passo aqui para escrever o cartão. Sempre vai ser no mesmo endereço e eu sempre vou vir escrever o cartão pessoalmente. – falo.

Depois de resolver a questão das flores, eu vou para o CT treinar. Estou ansioso para saber se ela vai me responder, se vai agradecer. Sempre que posso dou uma conferida no celular.

LETÍCIA

Tem sido dias difíceis, o processo de esquecer atitudes ruins de alguém que a gente quer muito estar perto é doloroso. Lhe tira a sensação de paz muitas vezes, lhe rouba momentos bons do dia e lhe faz questionar por que as coisas acontecem tão sorrateiramente na vida da gente, se não são para permanecer. Mas, mesmo assim, a vida segue e você segue junto. Não há muito o que escolher.

Estou aproveitando o tempo livre para ler uns livros que eu comprei há muito tempo. Escolhi dessa vez um chamado “O melhor de mim”, do Nicholas Sparks e me deparo com a frase: o melhor de mim sempre vai ser você. Tá, Nicholas, você queria que eu lembrasse do Jonathan, muito bem, conseguiu. Larguei o livro e fui ocupar minha cabeça com outra coisa.

Como tinha prometido para mim mesma sempre fazer alguma coisa nos momentos de folga, estava tentando ler, mas a história do livro não estava ajudando muito. Uma história de amor onde o casal enfrenta a tudo e a todos para ficarem juntos.

Ainda era muito cedo, 9h da manhã, e eu já tinha me estressado com um livro. Então levantei da cama e fui tomar café, até que o interfone tocou.

– Oi! Para mim? Certo. Já estou descendo. – falo ao porteiro.

O porteiro disse que tinha uma encomenda para mim na portaria.

Como a curiosidade fala mais alto, deixei o café de lado e desci pra pegar.
Quando cheguei lá, me surpreendi com a encomenda, era um buquê de rosas. Agradeci ao porteiro e subo.

Primeira coisa que fiz foi ler o cartão, mas já imaginava de quem era.

Quando terminei de ler o cartão eu só tive certeza.

– Meu Deus, o Jonathan escreveu a música do Roupa Nova. Quando foi que ele descobriu essa música? – falei sozinha.

– Com amor, do seu, para sempre seu, Jonathan. – eu leio em voz alta essa parte.

– Meu Deus, por que esse argentino tem que fazer isso comigo? Que golpe baixo. – falo.

Decidi que não ia ligar, nem mandar mensagem. Não vai ser um buquê de flores que vai me fazer esquecer o que ele fez.

Coloquei as flores em um jarro com água e coloquei na mesa que almoçamos juntos na primeira vez que ele andou aqui em casa.

Tirei uma flor e guardei no livro que estava lendo, ia deixá-la secar. O cartão eu coloquei numa caixinha dentro do meu armário. Quem sabe no futuro eu possa olhar tudo isso e apenas sorrir lembrando dos bons momentos.

Eu tinha alguns compromissos hoje, coisas da vida adulta. Então esqueci do buquê do Jonathan e fui trabalhar.

Saí da garagem do prédio, fiz a manobra na rua e liguei o som no modo aleatório (o perigo mora aí).

A primeira música a tocar foi "Dois", do RPM. Mas veja só como é um belo recado, uma bela resposta para o Jonathan.

Esperei o primeiro sinal de trânsito fechar e gravei um stories da parte que me interessava.

“Quando você disse nunca mais, não ligue mais, melhor assim, não era bem o que eu queria ouvir. E me disse decidida, saia da minha vida, que aquilo era loucura, era absurdo. E mais uma vez você ligou, dias depois, me procurou, com a voz suave, quase que formal. E disse que não era bem assim, não necessariamente o fim...”

Com certeza ele vai ver os stories, e como ele é esperto, vai saber que é pra ele.

É meio adolescente? Meio não, é completamente adolescente fazer isso. Mas eu precisava fazer. Precisava que ele soubesse que um buquê de flores e um pedido de perdão não resolvem as coisas.

Ou ele pensa que só porque é o Jonathan Calleri, jogador do maior time do país, que as mulheres rastejam por ele, que ele acha que pode ter a mulher que quiser, a hora que quiser, que eu vou ceder a um buquê e uma música do Roupa Nova?! Se enganou, meu bem. As flores eu compro e para ouvir Roupa Nova eu vou a um show.
Música postada, sinal verde, hora de prestar atenção no trânsito.

Primeiro eu parei no banco para resolver umas questões da conta da ONG. Depois passei no fornecedor de ração para acertar o próximo fornecimento e por último fiz algumas compras de medicamentos para os bichinhos.

À tarde eu tinha um comercial para gravar, um que provavelmente vai rodar no YouTube.

Depois de cumprir com todos os compromissos, eu voltei para casa, tomei banho e comi um misto quente com suco, de janta.

Deitei e entrei no Instagram para ver se o meu alvo tinha sido atingido, e como eu suspeitava, sim, ele tinha visto.

– Alvo atingido com sucesso. – eu falo sozinha.

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Pelo jeito, Letícia não vai perdoá-lo tão cedo.

Votem e comentem para a continuação.

Gracias por lerem até aqui!
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AMIGA MÍA - Jonathan Calleri Onde histórias criam vida. Descubra agora