CALLERI
Acordei cedo, estava muito ansioso. E quando a ansiedade vem, ela não me deixa dormir direito.
Tinha passado horas vendo uma música para colocar no primeiro cartão, até que optei por uma.Liguei para a floricultura e pedi para separarem um buquê de rosas vermelhas, mas disse que fazia questão de escrever o cartão pessoalmente.
Fiquei em dúvida entre várias músicas, inclusive a que eu ouvi outro dia no carro, a do Jorge Vercillo, “Ela une todas as coisas”, mas no fim acabei escolhendo outra.
A música que escolhi para ir no primeiro cartão era de uma banda chamada Roupa Nova, e eu lembro que o pai da Letícia cantou uma música dessa banda no luau, e disse que era uma das bandas favoritas deles. A música se chamava “Volta pra mim” e eu ia escrever assim no cartão:
“Eu te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir, ter você é meu desejo de viver. Sou menino e teu amor é que me faz crescer, e me entrego corpo e alma pra você”.
“Volta pra mim”
Com amor, do seu, para sempre seu,
JonathanSão frases que dizem exatamente o que eu sinto e o que eu quero, que ela volte pra mim.
Peguei a chave do carro e desci, me despedi do meu filho bichológico e saí.
Coloquei a música no som do carro e gravei um stories quando o sinal fica vermelho.
"Sofrimento meu, não vou aguentar, se a mulher que eu nasci pra viver, não me quer mais" – foi esse o trecho que eu coloquei.
Cheguei à floricultura e o buquê já estava pronto, então eles me entregam o cartão e eu escrevo. Minha letra é horrível, mas dá pra entender.
– Aqui! – falo entregando o cartão.
– O endereço é esse. – passo o endereço do prédio dela.
– Talvez eu encomende todos os dias um buquê, mas eu ligo antes para avisar e depois passo aqui para escrever o cartão. Sempre vai ser no mesmo endereço e eu sempre vou vir escrever o cartão pessoalmente. – falo.
Depois de resolver a questão das flores, eu vou para o CT treinar. Estou ansioso para saber se ela vai me responder, se vai agradecer. Sempre que posso dou uma conferida no celular.
LETÍCIA
Tem sido dias difíceis, o processo de esquecer atitudes ruins de alguém que a gente quer muito estar perto é doloroso. Lhe tira a sensação de paz muitas vezes, lhe rouba momentos bons do dia e lhe faz questionar por que as coisas acontecem tão sorrateiramente na vida da gente, se não são para permanecer. Mas, mesmo assim, a vida segue e você segue junto. Não há muito o que escolher.
Estou aproveitando o tempo livre para ler uns livros que eu comprei há muito tempo. Escolhi dessa vez um chamado “O melhor de mim”, do Nicholas Sparks e me deparo com a frase: o melhor de mim sempre vai ser você. Tá, Nicholas, você queria que eu lembrasse do Jonathan, muito bem, conseguiu. Larguei o livro e fui ocupar minha cabeça com outra coisa.
Como tinha prometido para mim mesma sempre fazer alguma coisa nos momentos de folga, estava tentando ler, mas a história do livro não estava ajudando muito. Uma história de amor onde o casal enfrenta a tudo e a todos para ficarem juntos.
Ainda era muito cedo, 9h da manhã, e eu já tinha me estressado com um livro. Então levantei da cama e fui tomar café, até que o interfone tocou.
– Oi! Para mim? Certo. Já estou descendo. – falo ao porteiro.
O porteiro disse que tinha uma encomenda para mim na portaria.
Como a curiosidade fala mais alto, deixei o café de lado e desci pra pegar.
Quando cheguei lá, me surpreendi com a encomenda, era um buquê de rosas. Agradeci ao porteiro e subo.Primeira coisa que fiz foi ler o cartão, mas já imaginava de quem era.
Quando terminei de ler o cartão eu só tive certeza.
– Meu Deus, o Jonathan escreveu a música do Roupa Nova. Quando foi que ele descobriu essa música? – falei sozinha.
– Com amor, do seu, para sempre seu, Jonathan. – eu leio em voz alta essa parte.
– Meu Deus, por que esse argentino tem que fazer isso comigo? Que golpe baixo. – falo.
Decidi que não ia ligar, nem mandar mensagem. Não vai ser um buquê de flores que vai me fazer esquecer o que ele fez.
Coloquei as flores em um jarro com água e coloquei na mesa que almoçamos juntos na primeira vez que ele andou aqui em casa.
Tirei uma flor e guardei no livro que estava lendo, ia deixá-la secar. O cartão eu coloquei numa caixinha dentro do meu armário. Quem sabe no futuro eu possa olhar tudo isso e apenas sorrir lembrando dos bons momentos.
Eu tinha alguns compromissos hoje, coisas da vida adulta. Então esqueci do buquê do Jonathan e fui trabalhar.
Saí da garagem do prédio, fiz a manobra na rua e liguei o som no modo aleatório (o perigo mora aí).
A primeira música a tocar foi "Dois", do RPM. Mas veja só como é um belo recado, uma bela resposta para o Jonathan.
Esperei o primeiro sinal de trânsito fechar e gravei um stories da parte que me interessava.
“Quando você disse nunca mais, não ligue mais, melhor assim, não era bem o que eu queria ouvir. E me disse decidida, saia da minha vida, que aquilo era loucura, era absurdo. E mais uma vez você ligou, dias depois, me procurou, com a voz suave, quase que formal. E disse que não era bem assim, não necessariamente o fim...”
Com certeza ele vai ver os stories, e como ele é esperto, vai saber que é pra ele.
É meio adolescente? Meio não, é completamente adolescente fazer isso. Mas eu precisava fazer. Precisava que ele soubesse que um buquê de flores e um pedido de perdão não resolvem as coisas.
Ou ele pensa que só porque é o Jonathan Calleri, jogador do maior time do país, que as mulheres rastejam por ele, que ele acha que pode ter a mulher que quiser, a hora que quiser, que eu vou ceder a um buquê e uma música do Roupa Nova?! Se enganou, meu bem. As flores eu compro e para ouvir Roupa Nova eu vou a um show.
Música postada, sinal verde, hora de prestar atenção no trânsito.Primeiro eu parei no banco para resolver umas questões da conta da ONG. Depois passei no fornecedor de ração para acertar o próximo fornecimento e por último fiz algumas compras de medicamentos para os bichinhos.
À tarde eu tinha um comercial para gravar, um que provavelmente vai rodar no YouTube.
Depois de cumprir com todos os compromissos, eu voltei para casa, tomei banho e comi um misto quente com suco, de janta.
Deitei e entrei no Instagram para ver se o meu alvo tinha sido atingido, e como eu suspeitava, sim, ele tinha visto.
– Alvo atingido com sucesso. – eu falo sozinha.
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Pelo jeito, Letícia não vai perdoá-lo tão cedo.
Votem e comentem para a continuação.
Gracias por lerem até aqui!
🫶
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AMIGA MÍA - Jonathan Calleri
FanfictionQuando você pensa que vai salvar alguém e quem é salvo é você.