CAPÍTULO - 82

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LETÍCIA

Estava esperando o Jonathan ansiosamente. Passei a tarde vendo os comentários e repercussão da notícia.

Minhas cunhadas todas me mandaram mensagem, as irmãs do Jonathan e a namorada do meu irmão, falando que amaram a forma de anunciar. Mérito do papai.

Me perguntaram se podiam postar alguma coisa, e eu disse que sim, afinal, já era bem público, né!?

A Tefi colocou uma foto de nós 3, com uma mensagem em espanhol, a Lupe, como a gente não se conhece pessoalmente, colocou só a mensagem. E a Vivian postou uma foto de nós duas e uma mensagem fofinha falando que meu irmão teria mais um motivo para surtar de ciúme.

Só de ouvir “surtar de ciúme” eu me arrepio, não gosto nem de lembrar a última vez que presenciei um surto por causa de ciúme.

Tentei cochilar um pouco para ver se o tempo passava mais rápido, deu certo, ainda consegui cochilar por uns 40 minutos.

No finalzinho  da tarde, o papai do meu baby chegou, e quando eu ouvi a porta abrindo, corri para dar um abraço nele.

– Eu te amo, te amo, te amo, te amo. – falei várias vezes para ele.

– Eu também te amo muito, meu amor. Que recepção, viu?! – ele fala me dando um beijo.

– Obrigada pela surpresa. Amei a forma como você anunciou. – falo com as mãos envoltas em seu pescoço.

– Fiz pensando em você, minha são paulina. – ele diz.

– Eu amei. – falo e ele me dá um selinho.

– De novo eu deixei minha vergonha de lado. – ele diz e a gente vai em direção ao sofá.

– Daqui a pouco vão te chamar para fazer publi. – eu falo.

– Não, não é para mim, ter que ensaiar texto para falar. – ele diz rindo.

– Agora eu quero uma foto nossa para postar. Vamos tirar? – ele pergunta pegando o celular.

– Feia como eu estou, mas é nunca. – falo e me levanto do sofá.

– Você nunca está feia, meu amor. – ele fala.

– Deixa eu me arrumar, pelo menos e a gente tira. – falo, indo em direção às escadas.

– Veste uma camisa do Tricolor. – ele fala.

– Tá bom. – respondo.

Tomei banho rapidinho, sequei o cabelo e modelei com a própria escova, fiz uma make leve e vesti a camisa do tricolor e uma calça preta pantalona.

Ele subiu e só fez arrumar o cabelo e trocar de camisa. Vantagens de ser homem. Na verdade, os homens têm muitas vantagens se a gente for parar pra pensar.

Coloquei o celular apoiado na cômoda, pois não tinha nenhum tripé, e a gente tentou tirar a foto. Jonathan queria uma foto dessas clichês, beijando a barriga. Até que deu certo, não é nada profissional, mas dá pra postar.

Dessa vez eu postei a foto e o marquei. Na foto eu coloquei a legenda.

“O maior e melhor presente que Deus poderia nos dar. O baby Bianchi Calleri vem aí”.

Choveu de comentários, e todos eram nos dando parabéns. Depois de tudo que ouvi, era bom ver o carinho das pessoas com a gente e com o nosso bebê, principalmente.

Aproveitei que estava arrumada, troquei de blusa e fui gravar um vídeo falando sobre o que acontece com as modelos quando elas engravidam.

“Olá, eu sou a Letícia. A Letícia que ama animais, a Letícia mineira, são paulina, médica veterinária, mulher, modelo, filha, irmã, namorada, e agora mãe. São várias versões, mas a essência é a mesma.

Eu descobri a gravidez em um momento atípico, tinha sofrido um acidente de trânsito. E no hospital, fui comunicada da  gestação.

Foi um choque, porque primeiro veio o susto com o acidente, depois veio o susto com a notícia da gravidez.
Já sabia que minha vida mudaria muito, que eu teria que abrir mão de alguns trabalhos, mas não pensei que ao fazer isso eu ouviria os maiores absurdos que uma mulher pode ouvir.
Então, encorajada pelo amor da minha vida, eu resolvi gravar esse vídeo para contar sobre esse ocorrido.

Comuniquei a marca para qual eu trabalhava na época e fui chamada de burra, me disseram que eu deformaria meu corpo, que era burrice engravidar nos dias de hoje com tanto método contraceptivo.
E que eu não conseguiria mais nenhum trabalho como modelo por estar grávida.

A gente sabe que a indústria da moda muitas vezes é cruel, e que esse glamour que a profissão modelo deixa transparecer, em muitos casos, não condiz com a realidade. Principalmente quando você não tem anos e anos de carreira, quando está no início.

Sabemos que isso pode acontecer e que acontece, são muitas cobranças, desafios e imposições.

Mas quando de fato acontece, dói muito. A gente pensa que vai reagir com naturalidade, mas a verdade é que em muitos casos a gente fica até sem reação.

E comigo foi justamente assim. Na hora eu fiquei tão em choque que não respondi nada, mas agora que eu estou melhor, que eu fui amparada pelas pessoas que me amam, eu venho aqui dizer que:

Se eu empresto meu corpo para servir de vitrine para tantas roupas, para sapatos, maquiagens, acessórios, por que eu não posso emprestá-lo para ser o lar de um ser que foi gerado com muito amor, que já é muito amado, que ainda é tão pequeno mas já nos ensinou tanto sobre amar?

Por que a sociedade aponta o dedo na cara de uma mulher e diz a ela o que ela pode ou não fazer? Por que limitam tanto a gente?
Eu sendo modelo, só posso ser modelo? Não posso ser mãe, não posso ser esposa?

Ok, sua marca não tem obrigação de contratar modelo grávida, mas isso não significa que outra não possa fazer. Eu não sirvo para a sua, mas posso servir para a do seu concorrente. Afinal, grávidas também usam roupa, sapatos, produtos de beleza... Grávidas também influenciam.

E, se eu pudesse voltar atrás e escolher o que eu queria, podem ter certeza, de novo e de novo, eu escolheria o meu filho.”

Nessa hora eu já estava chorando, foi inevitável. Era um desabafo que eu precisava fazer. Precisava colocar pra fora as coisas que deveria ter dito àquele homem, mas na hora não consegui.

Jonathan entrou no quarto e me deu um abraço por trás e um beijo na testa. Ainda estava filmando, então eu deixei. Não tinha sido combinado, ele deve ter percebido que eu estava emocionada.

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E esse depoimento da Letícia, o que acharam?

Gracias por lerem até aqui!
                               
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AMIGA MÍA - Jonathan Calleri Onde histórias criam vida. Descubra agora