CAPÍTULO - 62

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CALLERI

Hoje faz uma semana que a Letícia e eu terminamos, quer dizer, que eu terminei com ela. Para mim parece décadas.

Nessa semana já aconteceu tantas coisas, e em todas elas, ela estava. Era como se, mesmo separados, o destino nos obrigasse a ficar juntos, seja por qual motivo fosse.

Eu sou muito grato por ela ter salvado a vida do Jokic, muito mesmo.

Desde esse dia que minha vida é só do CT para casa e de casa para o CT. Não tenho saído para balada, apesar de receber alguns convites. A verdade é que me acostumei a ser caseiro, todos os lugares que eu fui nos últimos meses foi com ela.

Estava terminando de calçar a chuteira para ir para o CT quando o Jokic apareceu e eu fiz um carinho nele. Ele estava bem, não teve mais nada, e eu espero que ele continue assim.

– Hijo, papai tem que ir treinar. Mais tarde eu estou de volta e a gente brinca. – falo.

Eu comprei o remédio para alergia e agora tenho mais cuidado com o local onde ele come. Estou tentado ficar mais tempo com ele, para que ele não sinta falta da Letícia e não volte a desmaiar. A Gil fica com ele quando eu vou treinar, ela cuida direitinho dele.

Entrei no carro e fui em direção a Barra Funda. Não estava atrasado, ao contrário, ainda tinha tempo, então vou dirigindo devagar. Resolvi ligar o som do carro e deixar tocar no modo aleatório.

Deixei a música rolar e a letra diz o seguinte:

“Ela une todas as coisas
Como eu poderia explicar
Um doce mistério de rio
Com a transparência de um mar
Ela une todas as coisas
Quantos elementos vão lá
Sentimento fundo de água
Com toda leveza do ar

Ela está em todas as coisas
Até no vazio que me dá
Quando vejo a tarde cair
E ela não está

Talvez ela saiba de cor
Tudo que eu preciso sentir
Pedra preciosa de olhar
Ela só precisa existir
Para me completar

Ela une o mar
Com o meu olhar
Ela só precisa existir
Pra me completar

Ela une as quatro estações
Une dois caminhos num só
Sempre que eu me vejo perdido
Une amigos ao meu redor

Ela está em todas as coisas
Até no vazio que me dá
Quando vejo a tarde cair
E ela não está
Talvez ela saiba de cor
Tudo que eu preciso sentir
Pedra preciosa de olhar
Ela só precisa existir
Para me completar”

Com certeza foi a Letícia que ouviu essa música, é bem a cara dela e só para conferir eu dou um Google e confirmo as minhas suspeitas: Jorge Vercillo, MPB. Que merda! Tudo que eu não queria era lembrar dela agora, mas foi inevitável.

De repente tudo no trânsito de São Paulo me fez lembrar dela: um carro igual ao dela, um estranho em um ponto de ônibus com a camisa do São Paulo, um cachorro na rua, um gato, um outdoor com alguma propaganda... Acelerei o carro para chegar no CT mais rapidamente e tentar apagar essas lembranças.

Os minutos que eu levo até o CT pareceram horas por conta de tudo que eu pensei graças a uma bendita música, mas finalmente eu tinha chegado.

Cumprimentei o pessoal da portaria e entrei. Estacionei o carro, peguei minha mochila e fui até o vestiário guardá-la.

– Calleri, que bom que você chegou. – o fisioterapeuta fala.

– Bom dia! Tudo bem? – falo.

– Bom dia! Está tudo bem e você? Pronto para ir para o campo hoje? – ele pergunta.

AMIGA MÍA - Jonathan Calleri Onde histórias criam vida. Descubra agora