Capítulo 36

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"Não suporto um dedo de saudade..."

Djavan.

Yasmin Brunet

Tentei dar o máximo de mim para me divertir na festa, mas parecia ser uma missão impossível de se fazer.

Pensar em Wanessa me consumia e eu já não tinha mais o menor controle sobre isso. Queria ser do tipo que pensa pouco, mas ter a porra do sol em gêmeos fode com tudo. Sou inquieta e a curiosidade de saber sobre como as coisas estão e sobre o rumo que a nossa relação irá tomar me domina. Queria ter um botão para desligar meu cérebro por alguns minutos. Seria perfeito.

Enquanto eu estava sentada no meu "canto cego", via as pessoas transitando pela festa, conversando, entrando e saindo da casa. Depois que vi uma movimentação um pouco estranha no meio da pista, uma das pessoas que passaram por mim foi Pitel.

— Menina Yasmin, posso sentar aqui ou eu te atrapalho?

— Senta! Você nunca atrapalha, Pitelzinha.

— Então, tá! Você viu o que a cenosa fez agora há pouco? Tive que me retirar da festa para não perder meu réu primário ou ser expulsa dessa bagaça.

— O que foi dessa vez? Eu vi uma movimentação no meio da pista, mas estava com a cabeça longe demais para entender. — Assim que perguntei, Fernanda chegou e se juntou a nós duas.

— A Beatriz ficou de graça e decidiu fazer um VT na hora em que a gente estava dançando "flor de tangerina", ela chegou até mim e a Fernanda na pista de dança e se jogou no chão, quase grudada no nosso pé, começou a gritar "Brasil do Brasil" e não parou mais. Me deu uma vontade danada de arrochar nela, mas me calei. Não vou dar o tempo de tela que ela tanto quer. Me recuso! — Pitel conta indignada toda a situação.

— Essa menina é sem noção demais. Eu falo que ela tem probleminha e você acha que eu estou errada. — Fernanda diz.

— Cuidado com a boca, mulher! Se segure. — Pitel repreende a confeiteira antes que ela fale alguma besteira.

— Pior que a Fernanda não está errada, Pitel. E o foda é que se a gente criticar essas atitudes, ela usa a pauta da felicidade, diz que as pessoas têm inveja da alegria dela e toda aquela história repetitiva de sempre. — Falei de maneira sincera.

— Pessoas felizes não causam problemas. As pessoas bem-sucedidas, quando estão bem consigo mesmas, não geram problemas para os outros. Quanto melhor ela estiver, melhor para todo mundo, só que eu não a acho feliz. — Fernanda diz.

— A gente não tem métrica, não. — Pitel responde.

— Minha métrica é de que não consigo achar uma pessoa que força tanto as coisas, uma pessoa naturalmente feliz e de bem com a vida. Está o tempo todo se afirmando, querendo forçar uma ideia. Quando é natural, irradia para a gente... Se é uma coisa que é forçada, não está mais valendo, nem me convencendo mais. Quero que fique tudo bem para lá... É uma pessoa que tampa dores com excesso de risos, que tampa mágoa com garra, força, competitividade e acaba sendo tudo muito forçado. — Fernanda pontua.

— Eu não gosto de ficar julgando, mas aqui é meio que impossível não fazer isso. O que me incomoda nela não tem nada a ver com brilho ou felicidade, ela pode ser desse jeitinho aí, mas precisa respeitar quando começa a ultrapassar o limite do outro... Coisa que ela nunca faz.

— E não tem só isso de felicidade para se usar como julgamento, tem as propagandas exageradas também. Quando a gente vê essas coisas aqui, do pessoal fazendo essas vendas, é muito 'Show de Truman'. Você não está entendendo! Não tem naturalidade em nada, é igualzinho ao filme. Tudo é muito armado... muito falso. — Fernanda comenta e eu concordo.

𝘍𝘦𝘦𝘭𝘪𝘯𝘨𝘴 𝘠𝘢𝘯𝘦𝘴𝘴𝘢 - [𝐵𝓇𝓊𝓃𝑒𝓈𝓈𝒶]Onde histórias criam vida. Descubra agora